"A Reverbo é como uma grande roda em torno da fogueira canção", resume o cantor, compositor e produtor musical Juliano Holanda, co-idealizador da mostra que reúne expoentes da música autoral em todo o Estado de Pernambuco. É uma movimentação que nasceu de reuniões em apartamentos, de muitas trocas e calor humano, um ciclo interrompido pela pandemia - pelo menos em seu formato original. Eis que a Mostra Reverbo quebra um hiato de dois anos nesta sexta-feira (11), às 19h, com uma ocupação no Teatro do Parque, Centro do Recife. Os ingressos já esgotaram.
Quase 30 cantautores e cantautoras de diversas regiões, do Litoral ao Sertão, se reúnem em show dedicado a Joel Datz, o eterno Irmão Evento, que faleceu em julho de 2021, quando o contexto da pandemia impediu uma homenagem à altura. Figura carimbada na cena cultural do Recife desde os anos 1990, quando era acompanhado do irmão Abrahão, Joel chegou a contabilizar 60 mil eventos frequentados ao longo da vida.
"Joel foi muito presente na vida de todo mundo da Reverbo, indo nos shows individuais de cada um. Desde que comecei a tocar no Recife, minha trajetória passa muito pela história dele. Quando ele conheceu a mostra, ficou entusiasmado. Ele também nos entusiasma, pois era uma verdadeira enciclopédia de shows. Tinha conhecimento, visão humana sobre o palco", diz Juliano Holanda, ao JC.
Nascido de encontros musicais, a Reverbo chegou oficialmente ao público em 2017, em uma noite no Teatro Hermilo Borba Filho, no Bairro do Recife. Desde então já marcou presença em várias festividades do Estado, a exemplo do festival Macuca das Artes, em Correntes, no Agreste, além de eventos em Caruaru e Santa Cruz do Capibaribe. O último encontro antes da pandemia foi no final de 2019, com a Ocupação Reverbo na Torre Malakoff.
Além de Juliano Holanda na direção musical, o evento do Parque terá nomes como Gean Ramos, Revoredo, Rogéria Dera, Lucas Torres, Igor de Carvalho, Joana Terra, Camila Yasmine, Sam Silva, Flaira Ferro, Larissa Lisboa, Álefe, Mazuli, Gabi da Pele Preta, Mayara Pera, entre outros.
"O formato será o mesmo, com uma mescla desse material produzido na pandemia com o material que já havia anteriormente. São muitos artistas em estágios muito diferentes. A gente está lendo isso tudo como um reencontro mesmo. Eu já me perdi no número de edições. Até perguntei ao PC Silva sobre, ele pediu para dizer que essa é a primeira (risos)", diz Holanda.
A mostra chegou a realizar um registro audiovisual de show no São Luiz durante o período mais restritivo, mas a gravação ocorreu com dois grupos separados. Muitos dos participantes também lançaram álbuns pelos editais emergenciais, a exemplo do próprio Juliano, com "Por onde as casas andam em silêncio" (2021).
"Ficamos restritos ao WhatsApp e aos encontros via plataformas de reuniões, mas fizemos algumas farras à distância, a exemplo do Ágora Sonora, da produtora Willa Barbosa, que realizava eventos via Zoom. Íamos nos shows um do outro", explica Holanda, sobre a experiência dos artistas durante o período mais crítico da pandemia. "Criamos práticas de convívio, que já existiam antes mas foram aprofundadas pela pandemia, como o auxílio emocional mesmo, que foi a principal função da Reverbo nesse período".
Os ingressos para o retorno esgotaram antes do dia do evento. Holanda acredita que essa fidelidade ocorre porque o projeto conseguiu fazer com que o público se sentisse parte de um espetáculo. "Não há quarta parede, nunca houve. Literalmente, na primeira mostra Reverbo, ficávamos ao redor do público. O pé da primeira pessoa da fila encostava no primeiro músico do palco. Nessa configuração, é um show que abraça ao máximo as pessoas. A ideia é vencer um pouco o proscênio, ficar perto do público e unir ao máximo as pessoas."
Próximos passos
De acordo com Holanda, o objetivo da Reverbo segue o mesmo: viabilizar os artistas, partindo de uma ótica autoral e dialogando com o interior. "É também como um sarau, um grande sarau aberto. Ainda assim, conseguimos manter essa intimidade. É uma mostra que tem a intimidade como interesse maior".
Após a Ocupação no Teatro do Parque, a mostra planeja viajar para fora do Estado, para um evento marcado ainda antes da pandemia. O local será divulgado em breve. A agenda do projeto - e dos artistas individuais - deve continuar ocorrendo caso a situação sanitária se estabilize.