Aos 72 anos, o fotojornalista Orlando Brito morreu nesta sexta-feira, 11, em razão de complicações decorrentes de uma cirurgia no intestino, no Hospital Regional de Taguatinga, em Brasília. Brito estava internado desde 6 de fevereiro, tratando uma obstrução intestinal.
O fotógrafo nasceu em Janaúba (MG) em 1950 e começou sua carreira como laboratorista do Última Hora, em Brasília, por volta de 1965. Dois anos depois, ele se tornou fotógrafo no mesmo jornal. Desde então, seu currículo de editor e fotojornalista incluiu passagens pelo jornal O Globo, revista Veja - em dois períodos diferentes -, Jornal do Brasil e revista Caras. Em 2016, Brito passou a atuar de forma independente e abriu a agência de notícias ObritoNews, que mantinha em atividade até a internação.
Referência do fotojornalismo no Brasil, especialmente na área política, Brito retratou presidentes e políticos desde o regime militar. Ele esteve presente e registrou 17 presidentes - iniciou com o general Humberto Castello Branco, em 1964, e foi até o atual mandatário, Jair Bolsonaro.
"O Brito tinha uma grande preocupação como fotógrafo e como jornalista, absolutamente ligado aos fatos e as coisas. Tinha uma grande perspicácia para ver as coisas", disse Flávio Pinheiro, jornalista e diretor executivo do Instituto Moreira Salles de 2008 a 2020. Os dois trabalharam juntos em dois momentos: no Jornal do Brasil e na Veja.
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Presente no registro de momentos simbólicos da ditadura militar, Brito fotografou escondido o momento em que o plenário da Câmara foi fechado em 1977, aquele que viria a ser o último fechamento da Casa Legislativa durante a ditadura militar. "Quando eu vi o plenário fechado em silêncio sem os microfones, me deu uma impressão terrível, aquela coisa sombria", disse em entrevista à TV Senado.
"Tem um crítico que diz que a fotografia depende totalmente do observador. O Brito foi um dos mais singulares e extraordinários dos fotojornalistas do Brasil. Ele era um grande observador da vida de Brasília, do poder de Brasília. Ele acompanhava o dia a dia da cidade desde quando ele chegou, quando ainda estava em construção", afirmou Pinheiro. "O jornalismo é uma atividade de combate e o Brito era realmente um combatente."
Considerado um 'cronista visual do Poder’, Brito foi um dos jornalistas alvos de agressão durante o governo Bolsonaro. Em maio de 2020, durante uma manifestação pró-governo na Praça dos Três Poderes, ele foi hostilizado ao lado do fotojornalista do Estadão, Dida Sampaio, que faleceu em 25 de fevereiro.
Brito foi o primeiro brasileiro a conquistar, em 1979, o World Press Photo Prize do Museu Van Gogh, uma das premiações mais cobiçadas do fotojornalismo. O primeiro lugar foi ocupado por sua sucessão de fotos sobre um exercício militar, intitulada ‘Uma missão fatal’. Na época, ele atuava no jornal O Globo. Conquistou também 11 vezes o Prêmio Abril de Fotografia.
Além da política, o fotojornalista também retratou temas e eventos variados como populações indígenas, Copas do Mundo e Olimpíadas.
Separado, Brito deixa a filha Carolina e dois netos, Theo e Thomas.