* Texto atualizado com pronunciamento de Anitta em 05/04/2022, às 14h24
Após ser alçada a orgulho nacional pelo sucesso de "Envolver", que alcançou primeiro lugar no Top 50 do Spotify, Anitta voltou a ser alvo de críticas no Brasil ao estampar a capa da "Nylon Magazine". Anitta voltou a ser alvo de críticas no Brasil, nesta segunda-feira (4), quando foi divulgada a capa da Nylon Magazine. "Na América, as pessoas apenas querem parecer legais. As pessoas no Brasil querem se divertir e transar. Quero trazer essa energia para cá", consta em aspas da cantora.
A edição impressa da revista será distribuída ao público do festival Coachella, na Califórnia, que também terá na programação a brasileira Pabllo Vittar e nomes graúdos do pop, como Harry Styles e Billie Eilish.
A fala de Anitta repercutiu negativamente, claro, nas redes sociais, sobretudo no Twitter. As críticas apontam que as palavras da artista reforçam um estereótipo de se abominar quanto à imagem do Brasil no exterior. De fato, a construção
da imagem do País lá fora é historicamente ligada ao sexo — inclusive, a turismo sexual.
Essa ideia de sensualidade, que passa também pela exoticidade, vem sendo semeada desde os primórdios da colonização. Mas podemos citar a criação da Embratur, em 1966, durante a Ditadura Militar, para exemplificar como a imagem do país do "carnaval", do "futebol" e do "sexo fácil" foi consolidada pela publicidade oficial.
Nos anos 1980, as imagens de mulheres se tornaram mais comuns nos guias turísticos. Numa propaganda de 1983, uma moça posa com um drink na mão ao lado do slogan "See you there" ("Vejo você lá").
No furacão da repercussão, ainda na segunda-feira à noite, a cantora e compositora escreveu numa interação em rede social: "Eu estou perplexa com essa manchete real. Estou vendo essa capa agora pelo Instagram e estou desacreditada nessa manchete completamente fora de contexto de tudo". Disse também que a publicação foi inesperada, e portanto não passou pela sua equipe.
Estereótipo pode ser estratégia
Mesmo contestando que a frase foi tirada de seu contexto, o episódio chama atenção para o fato de que Anitta tem usado ao seu favor, ainda que sutilmente, tradições midiáticas ligadas ao
Brasil. Isso ocorre porque o estereótipo é, antes de tudo, uma estratégia de comunicação. Com
ele, é possível ser facilmente entendido ao brincar com identidades nacionais em discursos
e performances.
Desde o projeto CheckMate, em que lançou quatro singles acompanhados por clipes, a carioca vem dialogando esses cânones midiáticos brasileiros. Em "Will I See You", já trouxe uma ideia de bossa nova, algo reforçado por "Girl From Rio", que tem sample do clássico "Garota de Ipanema".
Em "Is That For Me", com Alesso, Anitta vai para a Amazônia, "pulmão do mundo" tão associado ao Brasil. E por último, mas não menos importante, "Vai Malandra", com Maejor e MC Zaac, adentrou nas favelas, com bronzeamento na laje e penteados com dread. Ainda temos "Bola Rebola", parceria com J Balvin que tem clipe em praias e favelas de Salvador (BA).
Desde o último ano, quando passou a morar nos Estados Unidos, Anitta continua associando a sua persona midiática a certos clichês brasileiros. "Girl From Rio" é o maior exemplo, embora ela tenha mudado o nome do próximo álbum para "Versions of Me".
Anitta já teve diversas personas durante a sua trajetória no Brasil. De início, a menina "bobinha", às vezes até desentendida, de "Show das Poderosas" (2013). Após romper com a empresária Kamilla Fialho e gerenciar sua própria carreira, iniciou uma reconstrução de imagem para soar como uma mulher de negócios, gênia do marketing.
Mas já vemos outro direcionamento nas entrevistas dos Estados Unidos: uma moça sensual, divertida e com forte apetite sexual. Nada que não fuja da Anitta que já conhecemos do Brasil, é claro. Segue uma aspa da conversa com a carioca no talk-show "The Tonight Show com Jimmy Fallon", um dos líderes de audiência no país:
"Eu tenho um [homem] em cada cidade, eu viajo muito. São muitos países! Ontem, eu estava no Brasil, no dia anterior, em Los Angeles, então eu preciso ter opções. Eu sou prática! É a energia brasileira", disse. "Eu não diria que todas as brasileiras são assim, mas eu sou", ressaltou.
Na mesma entrevista, Anitta ainda disse ter cerca de 50 ex-namorados e ainda sugeriu estar ficando com um jogador do Cincinnati Bengals, time de futebol americano. Em Stories, antes da exibição da entrevista, a entrevistada explicou que optou por uma entrevista mais "divertida" e para gerar "buzz". Isso iria garantir uma boa repercussão e um possível retorno ao sofá do programa. Esse é apenas um exemplo de que ela sabe o que fala.
Sendo aprovada ou não pelos brasileiros, será interessante continuar notando como ela irá negociar esses estereótipos na carreira internacional. Em alguns casos, a exemplo da exposição da favela, ela pode exaltar as culturas que emanam das periferias brasileiras.
Resposta de Anitta
Ainda no Twitter, Anitta refutou as críticas de que aluiu a turismo sexual: "Esse tipo de polêmica aí eu não usaria jamaisnem se fosse pra ficar mais famosa do que o papa. Isso é um desrespeito com muita gente e muita coisa na vida".
Também no Twitter, sem citar o porquê, Anitta desabafou em duas postagens: "Meu Deus, tira o ódio de dentro de mim porque a vontade é de matar"; "Frustrante. Cansativo. Desestimulante".