MÚSICA

Festival Guaiamum Treloso Rural: estrela pop em ascensão, pernambucana UANA funde R&b ao brega-funk

UANA é uma das atrações do Festival Guaiamum Treloso Rural (GTR) neste sábado (8), que retorna à edição física pela primeira vez após a pandemia.

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Bruno Vinicius

Publicado em 08/04/2022 às 18:10 | Atualizado em 08/04/2022 às 18:21
SONORIDADE Cantora recifense vem flertando com o pop e o R&B nos últimos anos - MAYARA SANTANA/DIVULGAÇÃO

A música pop feita por pessoas negras tem capilarizado cada vez mais uma quantidade maior de gêneros da diáspora africana. O R&b dos Estados Unidos está ao lado do brega, assim como o pagode baiano pode dialogar com o afrobeat. E assim podemos descrever um pouco do trabalho da pernambucana UANA, uma artista pop que não tem visto barreiras para mesclar ritmos e referências estéticas na música e nas produções audiovisuais. Marcando uma nova fase na carreira, a artista tem construído, desde o ano passado, um repertório que perpassa do brega-funk ao R&b. Sendo uma das promessas da música pop do Estado, UANA é uma das atrações do Festival Guaiamum Treloso Rural (GTR) neste sábado (8), que retorna à edição física pela primeira vez após a pandemia.

Com múltiplas referências, que vão desde os artistas locais às grandes estrelas da música norte-americana, UANA tem lançado músicas que refletem a liberdade e autonomia das mulheres negras. "Eu tive uma virada de chave grande, que foi a própria maternidade e um processo de separação, mas nenhuma música conta um momento específico da minha vida. Geralmente, as histórias das mulheres são muito parecidas, principalmente aquelas que se relacionam com os homens. Tem muita dinâmica de poder que a gente está aí para desconstruir e rever, para mudar um pouco esses lugares. Eu tento escrever coisas que não acontecem só comigo, tanto que duas das músicas que lancei foram com uma amiga minha, a Aida Polimeni", explica UANA sobre as composições "Mapa Astral" e "Sonhei com Você".

"Enquanto compositora, a gente tem que fazer uma deslocada da vida da gente. Tem coisas que passamos que nem conseguimos escrever. Às vezes tem uma história de uma amiga ali, que não é necessariamente a nossa história, mas a gente consegue contar. E há momentos que passamos por histórias que são tão turbulentos que apenas que precisamos nos distanciar também", conta UANA, que consegue compartilhar histórias e vivências de outras mulheres a partir da sua arte.

Brega-funk

Um dos gêneros que fazem presença na arte de UANA é o brega-funk. Tanto a música quanto a própria corporalidade de palco há elementos do gênero pop pernambucano. Uma das coisas raras disso é a narrativa do brega-funk a partir do ponto de vista feminino, como na música "Pirraça", sua parceria com WR no Beat. Na letra, a cantora e compositora coloca sua impostação e domínio da mulher sobre as decisões de um relacionamento, numa espécie de ambiguidade com o poder feminino. O movimento também é presente no clipe, que é dirigido pelo diretor e artista visual Thiago das Mercês, com referências que vão do próprio brega-funk às próprias estrelas do pop mundial, como Rihanna e Beyoncé.

"Quando eu quis trabalhar com brega-funk dentro da minha composição, dentro dos gêneros que eu trabalho, foi uma das primeiras coisas que eu pensei. Quanto tem muitas muitas mulheres no brega-funk, mas elas estão fazendo vozes, efeitos e muitas vezes a gente ouve nesse brega-funk as vozes femininas em gemidos, grito e a gente nem sabe quem foram. E elas viram simplesmente um instrumento que se coloca ali e a gente nem sabe quem gravou. Há muitas músicas disponíveis que não têm nem os créditos das mulheres que participam. Tem muitas coisas no movimento brega-funk que eu nem saberia dizer, porque não faço parte desse mercado", afirma UANA.

Apesar da dificuldade dessa presença, artista comenta que queria muito trabalhar com os movimentos do brega em sua música. "Eu vejo no brega em geral uma potência muito grande. A gente que é daqui do Recife está o tempo todo consumindo, já faz parte da gente. Faz parte da nossa cultura e em todo lugar que toca já sabemos dançar naturalmente, a gente a fazer os passinhos. É de uma potência muito grande, o brega-funk dialoga diretamente com a periferia e com os pretos, e eu quero comunicar com essa galera. Claro que eu venho de um lugar de acessos, mesmo sendo uma mulher negra que nasceu na periferia, eu quero me comunicar muito com essas pessoas", frisa, com a consciência de que quer preencher esse local de ausência de composições femininas no ritmo.

Performance

O brega-funk também surge na performance de UANA. "Eu tenho feito um trabalho com as meninas aqui do Recife já faz um ano. Eu comecei só com Dinian Calasans, e depois chegou Vivian Marvel. Fazendo preparação corporal, porque eu já tinha muito interesse no brega-funk, cursei boa parte do curso de licenciatura em dança (estou pensando em voltar) agora. Eu já tinha muito interesse em pesquisar o brega-funk como gênero e o que move, essa relação da música com a dança. Então eu comecei a fazer preparação corporal, paralelamente ao que eu estava fazendo. Nós, hoje, temos uma rotina de ensaio de uma a duas vezes por semana", explica, falando sobre o seu processo.

Nova música de Uana conta com produção de Barro, Marley no Beat e TomBC - DIVULGAÇÃO

"Agora estou pensando no ensaio como um show mais global. Hoje mesmo tenho ensaio com músicos e com as bailarinas. E aí é uma coisa que eu não conseguia fazer tanto, a gente se encontrava no palco todo mundo. O ensaio funcionava: eu fazia só com Libra, só com a galera da música e outro só com a galera da dança. Eu me inspiro em todas as divas pop que a gente reverencia, como a Beyoncé, todas que têm um trabalho de corpo intenso. E agora estou fazendo esse trabalho dentro da nossa realidade, pensando que nenhuma delas faz brega-funk como linguagem principal. Às vezes a gente quer, por exemplo, fazer trabalho com salto, mas o brega trabalha muito com a coluna e com o joelho", pontua sobre a adaptação desse show pop aos elementos da cultura brega.

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