VIOLÊNCIA

Estupro, gravidez e vida exposta na internet: entenda o que aconteceu com Klara Castanho

A atriz Klara Castanho, 21 anos, teve a vida exposta na internet e se viu forçada a divulgar que gerou e doou um bebê após sofrer um estupro

Cadastrado por

Amanda Azevedo

Publicado em 27/06/2022 às 16:34 | Atualizado em 29/06/2022 às 0:14
Klara Castanho contou ter sofrido uma série de violências - @klarafgcastanho via Instagram

Com Estadão Conteúdo

A atriz Klara Castanho, 21 anos, teve a vida exposta na internet e se viu forçada a divulgar que gerou e doou um bebê após sofrer um estupro.

Pressionada após rumores sobre o caso começarem a circular na internet, Klara Castanho decidiu expor a situação em uma carta aberta. "Não posso silenciar ao ver pessoas conspirando e criando versões sobre uma violência repulsiva e um trauma que sofri."

No texto, Klara Castanho contou ter sofrido uma série de violências. Ela foi estuprada e só descobriu a gestação em um período avançado. Optou por entregar a criança para a adoção, mas teve seu trauma revirado e exposto na internet.

"Foi um choque. Meu mundo caiu. Meu ciclo menstrual estava normal, meu corpo também. Não tinha ganhado peso e nem barriga. Eu ainda estava tentando juntar os cacos quando tive que lidar com a informação de ter um bebê. Um bebê fruto de uma violência que me destruiu como mulher", escreveu.

Klara Castanho contou que o médico que a atendeu não teve "nenhuma empatia" por ela. "Esse profissional me obrigou a ouvir o coração da criança, disse que 50% do DNA eram meus e que eu seria obrigada a amá-lo."

Por não ter "condições emocionais de dar para essa criança o amor, o cuidado e tudo que ela merece ter", Klara Castanho buscou uma advogada e tomou a decisão de entregá-la à adoção logo que nascesse. "Passei por todos os trâmites: psicóloga, ministério público, juíza, audiência - todas etapas obrigatórias. Um processo que, pela própria lei, garante sigilo para mim e para a criança."

Porém, segundo Klara, o sigilo não foi respeitado. "No dia em que a criança nasceu, eu, ainda anestesiada do pós-parto, fui abordada por uma enfermeira que estava na sala de cirurgia. Ela fez perguntas e ameaçou: 'Imagina se tal colunista descobre essa história'." Ao chegar no quarto, deparou-se com mensagens do colunista, com todas as informações. Um segundo blogueiro buscou-a também dias depois.

 

"Apenas o fato de eles saberem, mostra que os profissionais que deveriam ter me protegido em um momento de extrema dor e vulnerabilidade, que têm a obrigação legal de respeitar o sigilo da entrega, não foram éticos, nem tiveram respeito por mim e nem pela criança", desabafou Klara Castanho.

Após a carta, o jornalista Leo Dias publicou uma matéria sobre o ocorrido. Com a pressão das pessoas nas redes sociais, o jornal Metrópoles decidiu excluir o texto.

Leo Dias contou que, há mais de um mês, foi procurado por uma enfermeira que queria denunciar um "caso atípico" que ocorreu no hospital onde trabalhava.

"A moça, sob a condição de anonimato, me disse que, pela primeira vez, o nascimento de uma criança não poderia ser registrado na maternidade. Nenhum dado sobre o nascimento poderia ser incluído no sistema." Ele descobriu que a grávida era Klara Castanho, mas disse que não sabia sobre a violência sexual que gerou a gestação. "Àquela altura, eu não tinha noção de todos os fatos. Não sabia que ela havia sido vítima de um estupro. Klara me respondeu poucas horas depois. Chegamos a conversar por telefone."

Leo Dias disse que, durante a conversa, a atriz falou sobre o estupro e o motivo de entregar a criança à adoção. "Me pediu que eu não escrevesse sobre o assunto. E eu, prontamente, me comprometi com ela a não expor a história publicamente."

"O relato de Klara foi tão impactante, aquela história era tão perturbadora, que, em um ato irrefletido, me ofereci para adotar a criança. E, desde aquele momento, esta história não saiu da minha cabeça", completou.

Ele afirmou ter compartilhado essas informações com duas pessoas próximas. O caso foi exposto pela youtuber Antonia Fontenelle, que, mesmo sem citar o nome de Klara, entregou informações - como idade, profissão e local de trabalho - que fizeram com que as pessoas descobrissem a identidade da atriz.

 

Leo Dias afirmou ter errado ao publicar algo sobre o caso. "Mesmo que a revelação da história não tenha partido de mim, mesmo que Klara tenha escrito uma carta pública narrando a dor que sentiu com toda esta violência e que eu só tenha escrito sobre o assunto após a carta dela ser publicada."

"Mesmo que eu soubesse de tudo desde o início, eu não deveria ter escrito nenhuma linha sobre esta história ou ter feito qualquer comentário sobre algo que não tenho o direito de opinar Apesar da minha proximidade com o fato, reconheço que não tenho noção da dor desta mulher. E, por isso, peço, sinceramente, perdão à Klara", finalizou.

Antonia Fontenelle optou por rebater as críticas recebidas pela exposição do caso e se defendeu dizendo que não havia citado o nome de Klara quando tocou no assunto.

"Como eu sei que futuramente ninguém vai vir aqui me pedir desculpas pelos ataques, desativei os comentários dos donos da razão. Escrevam nas paredes de vocês", publicou ela no Instagram

Mas neste domingo (26), ela mudou o tom e gravou um vídeo onde diz que não sabia de toda a situação, defendeu pena de morte para estupradores e ofereceu ajuda à atriz. Antonia Fontenelle não admitiu ter errado e nem formalizou um pedido de desculpas.

Investigação

O Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) declarou neste domingo (26) que vai apurar denúncia feita pela atriz. O Coren também manifestou solidariedade à jovem.

"Compete ao Coren-SP apurar as situações em que haja infração ética praticada por profissional de enfermagem e adotar as medidas previstas no Código de Processo Ético dos Conselhos de Enfermagem", destacou, em nota. "O conselho seguirá os ritos e adotará os procedimentos necessários para a devida investigação, como ocorre em toda denúncia sobre o exercício profissional."

Já o Hospital Brasil, administrado pela Rede D'or, informou ter aberto "sindicância interna para a apuração desse fato". A unidade de saúde destacou que "tem como princípio preservar a privacidade de seus pacientes bem como o sigilo das informações do prontuário médico" e disse se solidarizar "com a paciente e familiares".

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