LEVANTAMENTO

Pernambuco e Grande Recife são os locais do País onde mais moradores sofrem com falta de água

De acordo com dados do IBGE, fornecimento irregular de água atinge quase metade da população do Estado

Cadastrado por

Lucas Moraes

Publicado em 23/06/2021 às 19:55 | Atualizado em 23/06/2021 às 19:56
Sem o abastecimento, as pessoas precisam recorrer ao armazenamento de água em tonéis e poços - MARCEL APRÍGIO/JC

Antes mesmo da pandemia da covid-19 e a maior necessidade de reforço das práticas de higienização para evitar o contágio da doença, Pernambuco e também a Região Metropolitana do Recife (RMR) já evidenciavam a difícil realidade da população. De acordo com os Indicadores Sociais de Moradia no contexto da pré-pandemia de covid-19, divulgados ontem (23) pelo IBGE, o Estado tem o maior percentual do País de domicílios ligados à rede geral de distribuição com falta de água pelo menos uma vez por semana. O Grande Recife também é detentor do pior resultado entre as regiões metropolitanas brasileiras, segundo dados de 2019.

No Estado, a irregularidade no abastecimento atingia quase metade dos moradores (47,9%). Percentual um pouco acima do registrado no Grande Recife (46,6%). Se levada em consideração apenas a capital, 31,5% sofrem com desabastecimento ao menos uma vez por semana. O Recife é a terceira pior capital nesse sentido.

"O IBGE elaborou esse estudo para identificar, no momento anterior à pandemia, qual parcela da população tinha condições de habitação que permitissem o cumprimento das recomendações sanitárias. Com relação à higienização, 62,2% da população tinham acesso a água canalizada e tratada com frequência diária de abastecimento e estrutura de armazenamento; já 37,8% da população tinham vulnerabilidade em algum desses quesitos de acesso à água", diz a analista do IBGE Sofia Monte, em relação ao cenário nacional.

Em todo o Brasil, 22,4% dos habitantes moravam em lares sem abastecimento diário ou sem estrutura de armazenamento de água, enquanto que 11,9% eram abastecidos por outra forma que não a rede geral de distribuição de água.

Recifenses que já enfrentam racionamento ou problemas de abastecimento agora terão que lidar com a escassez de chuvas no primeiro trimestre e baixa nos reservatórios. - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

Ainda que 62,2% da população brasileira consumiam água oriunda de rede geral de distribuição, com abastecimento diário e estrutura de armazenamento, no Nordeste esse percentual vai a 41,1%.

Além dos problemas de abastecimento, em Pernambuco 22,5% dos habitantes, mais de um quarto do total, vivem em locais com cinco pessoas ou mais. Nessas residências adensadas, a renda também é um problema. No Estado, 28,2% das pessoas que viviam em domicílios com renda mensal domiciliar per capita inferior a R$ 436 (US$ 5,5 por dia), critério adotado pelo Banco Mundial para identificar a condição de pobreza, moravam em casas com quatro moradores - maior percentual verificado na pesquisa entre todas as categorias.

Na RMR, a parcela mais expressiva do total dos lares em condição de pobreza é composta por residências com três moradores (29,5% do total). Na capital pernambucana, 27,6% dos lares em condição de pobreza, a maior fatia do total, são compostos por três moradores.

Vários bairros do Recife irão receber água todos os dias, após alguns meses de racionamento. - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

Governo do Estado

Em nota, o governo de Pernambuco diz, por meio da Compesa, que tem dado atenção redobrada à questão do abastecimento, "investindo sistematicamente em projetos e obras que visam à universalização dos serviços de saneamento no Estado".

"Só nos últimos anos foram aplicados mais de R$ 4 bilhões em todo o Estado, e para este ano a previsão é recursos da ordem de 1,2 bilhão, em obras de abastecimento de água e esgotamento sanitário, com grandes empreendimentos estruturadores em curso. Tudo isso, já coloca o cenário do abastecimento de 2021 em outra posição em relação a 2019", garante a gestão.

Ainda segundo a Compesa, na Região Metropolitana do Recife, várias obras, de médio e grande portes, estão sendo executadas. "Um exemplo são as áreas de morros do Recife, localidades onde, historicamente, há dificuldade de atendimento em função da escassez de fontes hídricas e condições topográficas. Também está em andamento um pacote de obras de reativação de 15 e perfuração de mais 23 poços profundos, que irão incrementar a produção de água em aproximadamente 650 l/s, contribuindo para a ampliação do abastecimento. No Recife, localidades da Zona Norte estão sendo contempladas, além das cidades de Goiana, Abreu, Paulista, Igarassu e Olinda".

Outra obra apontada pelo governo é a de Setorização do Recife que busca promover a independência operacional dos setores de abastecimento (controle e medição), por meio de substituição de tubulações e implantação de registros e válvulas, melhorando as pressões das redes e reduzindo as perdas e a ocorrência de vazamentos.

"Vale ressaltar que a distribuição de água em áreas planas do Recife ocorre diariamente, desde a conclusão da obra do Sistema Adutor de Pirapama, que aumentou em 50% a oferta de água para a RMR. Pernambuco é o estado com menor disponibilidade hídrica no cenário nacional e que, este ano, várias localidades já tiveram eliminação ou diminuição do rodízio, iniciativa possível graças as últimas chuvas em nosso Estado", pondera. 

Ainda de acordo com a Compesa, no ano passado, 280 mil pessoas foram beneficiadas com o aumento na produção do sistema Tapacurá, um dos mais importantes da região, em 800 litros por segundo. Além do incremento, a Compesa diz que também distribuiu por carro pipa cerca de 30 milhões de litros de água, beneficiando 115 mil pessoas.

Dentro do planejamento traçado pela Compesa, também foi iniciada a execução de 43 obras estratégicas, a um investimento de R$ 9 milhões. Ao todo, são 123 mil pessoas beneficiadas.

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