Antes mesmo da pandemia da covid-19 e a maior necessidade de reforço das práticas de higienização para evitar o contágio da doença, Pernambuco e também a Região Metropolitana do Recife (RMR) já evidenciavam a difícil realidade da população. De acordo com os Indicadores Sociais de Moradia no contexto da pré-pandemia de covid-19, divulgados ontem (23) pelo IBGE, o Estado tem o maior percentual do País de domicílios ligados à rede geral de distribuição com falta de água pelo menos uma vez por semana. O Grande Recife também é detentor do pior resultado entre as regiões metropolitanas brasileiras, segundo dados de 2019.
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No Estado, a irregularidade no abastecimento atingia quase metade dos moradores (47,9%). Percentual um pouco acima do registrado no Grande Recife (46,6%). Se levada em consideração apenas a capital, 31,5% sofrem com desabastecimento ao menos uma vez por semana. O Recife é a terceira pior capital nesse sentido.
"O IBGE elaborou esse estudo para identificar, no momento anterior à pandemia, qual parcela da população tinha condições de habitação que permitissem o cumprimento das recomendações sanitárias. Com relação à higienização, 62,2% da população tinham acesso a água canalizada e tratada com frequência diária de abastecimento e estrutura de armazenamento; já 37,8% da população tinham vulnerabilidade em algum desses quesitos de acesso à água", diz a analista do IBGE Sofia Monte, em relação ao cenário nacional.
Em todo o Brasil, 22,4% dos habitantes moravam em lares sem abastecimento diário ou sem estrutura de armazenamento de água, enquanto que 11,9% eram abastecidos por outra forma que não a rede geral de distribuição de água.
Ainda que 62,2% da população brasileira consumiam água oriunda de rede geral de distribuição, com abastecimento diário e estrutura de armazenamento, no Nordeste esse percentual vai a 41,1%.
Além dos problemas de abastecimento, em Pernambuco 22,5% dos habitantes, mais de um quarto do total, vivem em locais com cinco pessoas ou mais. Nessas residências adensadas, a renda também é um problema. No Estado, 28,2% das pessoas que viviam em domicílios com renda mensal domiciliar per capita inferior a R$ 436 (US$ 5,5 por dia), critério adotado pelo Banco Mundial para identificar a condição de pobreza, moravam em casas com quatro moradores - maior percentual verificado na pesquisa entre todas as categorias.
Na RMR, a parcela mais expressiva do total dos lares em condição de pobreza é composta por residências com três moradores (29,5% do total). Na capital pernambucana, 27,6% dos lares em condição de pobreza, a maior fatia do total, são compostos por três moradores.
Governo do Estado
Em nota, o governo de Pernambuco diz, por meio da Compesa, que tem dado atenção redobrada à questão do abastecimento, "investindo sistematicamente em projetos e obras que visam à universalização dos serviços de saneamento no Estado".
"Só nos últimos anos foram aplicados mais de R$ 4 bilhões em todo o Estado, e para este ano a previsão é recursos da ordem de 1,2 bilhão, em obras de abastecimento de água e esgotamento sanitário, com grandes empreendimentos estruturadores em curso. Tudo isso, já coloca o cenário do abastecimento de 2021 em outra posição em relação a 2019", garante a gestão.
Ainda segundo a Compesa, na Região Metropolitana do Recife, várias obras, de médio e grande portes, estão sendo executadas. "Um exemplo são as áreas de morros do Recife, localidades onde, historicamente, há dificuldade de atendimento em função da escassez de fontes hídricas e condições topográficas. Também está em andamento um pacote de obras de reativação de 15 e perfuração de mais 23 poços profundos, que irão incrementar a produção de água em aproximadamente 650 l/s, contribuindo para a ampliação do abastecimento. No Recife, localidades da Zona Norte estão sendo contempladas, além das cidades de Goiana, Abreu, Paulista, Igarassu e Olinda".
Outra obra apontada pelo governo é a de Setorização do Recife que busca promover a independência operacional dos setores de abastecimento (controle e medição), por meio de substituição de tubulações e implantação de registros e válvulas, melhorando as pressões das redes e reduzindo as perdas e a ocorrência de vazamentos.
"Vale ressaltar que a distribuição de água em áreas planas do Recife ocorre diariamente, desde a conclusão da obra do Sistema Adutor de Pirapama, que aumentou em 50% a oferta de água para a RMR. Pernambuco é o estado com menor disponibilidade hídrica no cenário nacional e que, este ano, várias localidades já tiveram eliminação ou diminuição do rodízio, iniciativa possível graças as últimas chuvas em nosso Estado", pondera.
Ainda de acordo com a Compesa, no ano passado, 280 mil pessoas foram beneficiadas com o aumento na produção do sistema Tapacurá, um dos mais importantes da região, em 800 litros por segundo. Além do incremento, a Compesa diz que também distribuiu por carro pipa cerca de 30 milhões de litros de água, beneficiando 115 mil pessoas.
Dentro do planejamento traçado pela Compesa, também foi iniciada a execução de 43 obras estratégicas, a um investimento de R$ 9 milhões. Ao todo, são 123 mil pessoas beneficiadas.