A Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (ABEGÁS) entrou com uma representação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), contra a Petrobras. O motivo, é a intenção da petroleira em aumentar entre 100% e 200% o preço do gás natural fornecido às distribuidoras em 2022. A medida atingiria apenas os novos contratos que estão em negociação com as distribuidoras estaduais.
Para Marcelo Mendonça, diretor de Estratégia e Mercado da Abegás, se a intenção da Petrobras se concretizar, o impacto na economia nacional seria sentido em vários setores. "Já começaríamos 2022 com o preço do gás natural 100% mais caro, isso no melhor cenário, porque no pior, o aumento seria de 200%", resume Marcelo. A geração de energia através das termelétricas movidas a gás, a produção industrial e também os trabalhadores que dependem do gás natural veicular (GNV), tudo seria impactado com o aumento de até quatro vezes no preço do gás logo no início do ano novo.
A Abegás revela que a mudança na precificação atinge 80% do volume comprado pelas distribuidoras estaduais. A proposta da petroleira estatal é alinhar o preço do combustível pelo índice asiático JKM, que tem sofrido pressões da crise energética na China. Com isso, o preço da molécula do gás praticado pela Petrobras passaria de US$ 9 o milhão de BTU (unidade térmica britânica) para US$ 18 o milhão de BTU, isso para contratos de curto prazo (de seis meses a um ano). Nos contratos de longo prazo (de até quatro anos), o valor poderia ir dos atuais US$ 9, para US$35.
"Temos 50 dias para resolver essa situação. O Cade deve analisar nossa representação e indicar o melhor caminho, mas, do jeito que a Petrobras quer renegociar os novos contratos, isso significa inviabilizar o mercado", afirma o diretor da Abegás. Marcelo diz que as distribuidoras pedem a manutenção dos preços atuais até que a influência do "agente dominante", ou seja a própria Petrobras seja reduzida com a entrada de novos fornecedores no mercado, o que já está acontecendo. "o problema é que esse novos fornecedores ainda não são capazes de suprir a demanda nacional de gás", explicou Marcelo Mendonça.
PERNAMBUCO
A Companhia Pernambucana de Gás (Copergás) informou, através de nota, que tem contrato de fornecimento com a Petrobras até dezembro de 2023 e, por isso, não será afetada, caso a proposta da Petrobras acabe vingando, já que as mudanças valem só para contratos novos (com validade a partir de janeiro de 2022). O contrato da Copergás com a Petrobras foi formalizado em 2019, e teve seu início em janeiro de 2020.
Além disso, a Copergás a partir de janeiro de 2022 terá mais um fornecedor. A Shell torna-se supridora, junto com a Petrobras, fornecendo 750 mil m³/dia de gás natural, correspondente a cerca de 50% do volume comercializado pela companhia. E a partir de 2023, esse volume aumenta, vai para 1 milhão m³/dia, correspondendo a 66% do total.
Com a entrada da Shell a Copergás sai da dependência de fornecimento exclusivo da Petrobras. Antes, o fornecimento da estatal representava 100% da demanda da companhia pernambucana. Em 2022 será de cerca de 50%, e em, 2023, será reduzido para cerca de 35%.
Veja a íntegra da nota da Copergás:
"A Companhia Pernambucana de Gás (Copergás) informa que tem contrato de fornecimento com a Petrobras até dezembro de 2023 e, por isso, não será afetada pelos eventuais grandes aumentos de gás natural que, segundo a imprensa, a estatal teria proposto às concessionárias estaduais. Estes aumentos expressivos seriam apenas para novos contratos, com início de fornecimento a partir de janeiro de 2022, o que não se aplica à Copergás. Desta forma, no cenário atual, não há risco de elevação abrupta de preços do gás natural em Pernambuco.
Cabe ressaltar ainda que o suprimento à Copergás através de gasodutos em 2022 será dividido entre a Petrobras e a Shell, empresa vencedora da chamada pública realizada pela Companhia Pernambucana de Gás em 2020".