A Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan) vai apresentar, em setembro, uma versão Estadual do Inquérito sobre Insegurança Alimentar no País. O documento vai complementar a versão nacional, que traz informações sobre a fome no Brasil e nas regiões.
"Ainda não vamos conseguir trazer o detalhamento por municípios, mas o resultado geral dos Estado será possível apresentar", adianta o sociólogo e membro da coordenação executiva da Rede Penssan, Renato Carvalheira. A divulgação vai permitir conhecer a realidade dos Estados.
Diante do avanço de pobreza e da extrema pobreza em Pernambuco, divulgado por outros estudos, a expectativa é que os números da fome sejam significativos. Uma pista é o resultado do Nordeste. De acordo com a Rede Penssan, de cada 10 famílias nordestinas, 4 estão em situação de insegurança alimentar grave ou moderada. Isso quer dizer passando fome ou em uma situação de faltar comida.
Pesquisas da FGV Social e do Observatório das Metrópoles apontam Pernambuco em situação de desvantagem em relação ao Brasil. No primeiro, registra o maior crescimento da pobreza, com taxa de 8,4%, além de figurar em quarto lugar no ranking nacional. No segundo, aparece como a região metropolitana em que a extrema pobreza mais cresceu.
O que faz com que Pernambuco, apesar de ser o 10º Estado mais rico do País e de ser responsável por 2,7% de toda a riqueza nacional, ter um desempenho tão negativo quando os assuntos são fome e pobreza? Um Estado, que nas décadas recentes viveu uma revolução na sua economia e hoje contam com uma refinaria de petróleo e uma montadora de veículos em sua matriz industrial?
O professor de economia da Universidade de Pernambuco (UPE), Sandro Prata, explica que o problema está desigualdade.
"Pernambuco realmente é uma das grandes economias do Brasil, em relação ao Produto Interno Bruto. No entanto, o PIB mede só a riqueza como um todo, enquanto um dos melhores índices para medir a riqueza de um povo é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o o Coeficiente de Gini (que mede a desigualdade)", explica.
Prata explica com uma analogia. "Você pode ter um bolo grande, mas ele ser extremamente mal dividido. Então não adianta você ter um Estado rico, mas com a renda concentrada nas mãos de poucas pessoas. Isso acontece não só em Pernambuco, mas também em todo o Brasil. Em resumo, nós temos uma péssima distribuição de renda", alerta.
Em Pernambuco, o rendimento médio das pessoas vem caindo, a informalidade no mercado de trabalho crescendo e o desemprego explodiu e entrou em uma trajetória de queda. Junto com a desigualdade, todos esses indicadores colocam o Estado no caminho da fome e da pobreza.