Onde estaria Marco Maciel se não tivesse, há algum tempo, deixado a si mesmo? E agora, deixado também todos nós. Pernambuco e Brasil?
A resposta é fácil. Quase obvia. Estaria fazendo o que sempre fez: política. Mas qual política?
Claus von Causewitz foi um general da Prússia, tido como o inventor do moderno conceito de estratégia. Escreveu um livro clássico: “Da Guerra”, cerca de 1830. Onde propôs um também moderno conceito de política: guerra é a continuação da política por outros meios.
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Não para Marco Maciel. A política não tem gênese na guerra. Ao contrário. Digo porque vi. Tem compromisso é com a paz. Fui, por muitos anos, testemunha ocular de seu fazer. Política sempre lhe foi a continuação, criação, recuperação da paz.
Marco assim praticava. Na paz, deveríamos nos comportar como pacíficos. Na guerra, como pacificadores.
Sua política era dialógica. Política de convivências. Não necessariamente mar azul. Algumas vezes mar fremente.
Conviver não é concordar, também alertava. Por isto, tinha a paciência de um ouvinte infinito. Sabia ouvir como ninguém. Sobretudo ouvir com atenta cordialidade e civilidade.
Poderia até dizer como Marcos Vilaça disse ao recebê-lo na Academia Brasileira de Letras. A teimosia de Marco Maciel era uma teimosia de utilidade pública. Sua teimosia por ouvir era de utilidade democrática.
Seu diálogo iniciava com a constatação da inevitabilidade de que temos de viver juntos. E fazer, desta inevitabilidade, com-vivência. Viver juntos na divergência.
A política como diálogo foi o ar puro que respirou na casa de seu pai. E que se lhe tornou obsessão. Marco era um tranquilo, recôndito obcecado. Teve o privilegio de cedo escolher o rumo de seu destino e não fugir dele: ser político. Mesmo nas derrotas.
Começou, sabemos todos, na política estudantil, depois universitária, municipal, estadual, federal, nacional e nunca saiu dela. Nem ela, dele.
Eleito vice-presidente, antes da posse, em um almoço na casa de nossa colega acadêmica Rosiska Darcy de Oliveira, Ruth Cardoso me perguntou, sabendo de minhas pertenças pernambucanas. “Joaquim, quem é Marco Maciel? Conheço muito pouco.”
Pensei, repensei e respondi. “Dona Ruth, quando o presidente Fernando Henrique estiver pressionado a tomar uma decisão que ainda não esteja na hora e que ele não esteja confortável, pede para o presidente passar no escritório de Marco Maciel. Conversarem. Dialogarem um pouco”.
O tempo era um dos vetores, senhor mesmo, conveniência e oportunidade, do diálogo político de Marco Maciel. Era um especialista em se conectar com a oportunidade do tempo. Como dizem os americanos, tinha a noção do timing.
Dizia sempre: “Quem tem tempo não tem pressa”.
O problema, Marco Maciel, o problema, Ana Maria, é que o Brasil esta quase sem tempo.
Precisamos sair urgente dos tempos de ódio e intolerância. Morre aos poucos no Brasil a prevalência do dialogo. O respeito à alteridade. E, assim, a democracia.
Precisamos urgente do exemplo de Marco Maciel.