Frases e influências

Digo sempre que não haveria o verdadeiro futebol brasileiro sem a injeção malemolente do sangue negro de Domingos da Guia, Zizinho e Leônidas da Silva. Se Edson Arantes do Nascimento não tivesse visto mestre Ziza, seu professor, jogar, não haveria Pelé
ARTHUR CARVALHO
Publicado em 05/07/2023 às 0:00
E o que seria de nossa literatura sem os romancistas Machado de Assis, Graciliano Ramos e Raimundo Carrero? Foto: HEUDES REGIS/DIVULGAÇÃO


Segundo Dostoievski, toda a literatura russa descende de O Capote, conto de Gogol. O que não surpreende, porque Gogol foi influenciado por seu grande amigo Alexsander Puchkin, e influenciou Tolstói, Nabocov, Kafka e o próprio autor de Crime e Castigo.

Lembrei disso agora, quando li entrevista de Gilberto Gil do DP, na qual ele declara que sofreu muita influência de Luiz Gonzaga em sua obra musical. E de Humberto Teixeira e Zé Dantas, primeiros letristas do Rei do Baião - tomo a liberdade de acrescentar.

Digo sempre que não haveria o verdadeiro futebol brasileiro sem a injeção malemolente do sangue negro de Domingos da Guia, Zizinho e Leônidas da Silva. Se Edson Arantes do Nascimento não tivesse visto mestre Ziza, seu professor, jogar, não haveria Pelé. Se Edson Arantes do Nascimento tivesse nascido na Noruega ou na Suécia, vendo aqueles galegos de cintura dura em campo, não seria o Rei do Futebol. Se Heleno de Freitas não tivesse se extasiado com as bicicletas do Homem de Borracha, ele não seria o artilheiro sensacional que foi. O mais lido e célebre repórter esportivo italiano, cujo nome esqueço, que veio cobrir a Copa de 50, no Brasil, declarou que ver Zizinho jogar equivalia a ver Da Vinci pintando uma tela. Somente isso.

No começo dos anos 1940, os homens mais populares do Brasil eram Orlando Silva, Leônidas da Silva e Getúlio Vargas - nessa ordem. Não fosse o Cantor das Multidões, não haveria Nelson Gonçalves, que o imitou a vida toda - nem a Bossa Nova, porque foi ele quem criou a divisão rítmica dos versos das canções que gravou, e que João Gilberto imortalizou na batida enxuta de seu violão.

Chico Buarque confessa que seu maior influenciador foi Ismael Silva. Quantos autores de sua época e modernos Noel Rosa influenciou? Paulo Mendes Campos achava o Poeta da Vila o maior cronista carioca de todos os tempos. O que seria da nossa música popular sem Pixinguinha, Sinhô e Ary Barroso? Dorival Caymmi, Orestes Barbosa, Lamartine Babo? Capiba, Gordurinha e Jackson do Pandeiro? Os grandes Assis Valente e Ataulfo Alves? João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense?

E o que seria de nossa literatura sem os romancistas Machado de Assis, Graciliano Ramos e Raimundo Carrero? Como seria ela sem os poetas Cruz e Souza, Fagundes Varela e Fernando Monteiro? O que seria do samba urbano e do samba de morro sem o batuque do terreiro da babalorixá baiana Tia Ciata, de Donga e João da Baiana? De Cartola e Nelson Cavaquinho, de Martinho da Vila e da Mangueira?

A propósito, Paulinho da Viola cravou a melhor frase de ano passado: "Sou um homem do século 19. Não sei o que ainda estou fazendo aqui!".

Arthur Carvalho, da academia de Artes e Letras de Pernambuco.

 

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