Foi um diálogo de muitas perguntas e poucas respostas. Praticamente um desabafo. Dez pessoas testemunharam a conversa, travada no primeiro andar da Delegacia de Santo Amaro, numa sala ao lado da do delegado Ramon Teixeira. Em pé, durante todo o tempo, Sarí Corte Real permaneceu de braços cruzados, ao lado do marido, o prefeito de Tamandaré, Sérgio Hacker (PSB). Sentada, Mirtes Souza, a mãe de Miguel Otávio, segurava a foto do filho, minutos antes emoldurada num porta-retrato. Ali, frente a frente, as duas se encontravam pela primeira vez, desde o velório do menino de 5 anos, no dia seguinte à queda que resultou na morte do garoto, no dia 2 de junho de 2020.
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A mãe de Miguel afirma ter desconhecido a ex-patroa, pela “frieza, arrogância e cinismo” com que ela se comportou na conversa. Não houve pedido de perdão nem expressão de arrependimento. Nenhuma lágrima foi derramada por Sarí, de acordo com Mirtes. A mulher, investigada por deixar Miguel sozinho no elevador, falou quase nada. Nas poucas vezes que tentou reagir às palavras de Mirtes, Sarí foi “segurada” pelo marido, o tempo todo ao seu lado.
A primeira fala de Mirtes veio em forma de pedido.
“Sarí, olha essa foto. Tá vendo essa foto aqui. É meu filho, Miguel Otávio. Ele poderia ter o defeito que fosse. Mas era meu filho. Isso não te dava o direito de fazer o que você fez. Você hoje tem dois filhos para dar amor e carinho. Eu não tenho mais nenhum. Por culpa sua.”
A resposta de Sarí foi a de que, em nenhum momento, Mirtes havia pedido para que ela tomasse conta de seu filho.
A segunda fala da patroa doeu mais ainda. Ao perguntar por que Sarí tinha apertado o botão do elevador, Mirtes ouviu uma resposta que desafiava o que os seus olhos tinham visto na gravação feita minutos antes de Miguel cair do 9º andar, de uma altura de 35 metros. “Eu não apertei aquele botão”, afirmou a ex-patroa.
Nesta terça-feira (30), um dia após a difícil conversa, Mirtes ainda sentia o espanto pela frieza que encontrou na mulher para quem ela trabalhou durante quatro anos.
“O que mais me doeu foi ver o desprezo que ela sentiu pelo meu filho. Não havia remorso em nenhuma de suas poucas palavras. O que posso dizer é que ontem, naquela sala da delegacia, a máscara dela caiu.”