Frustração é sentimento dos empresários de Fernando de Noronha que esperam por reabertura total para o turismo

Categoria esperava que, nessa quinta-feira (10), fosse anunciada posição do Governo do Estado na coletiva de imprensa semanal, o que não aconteceu. Ilha só recebe, até agora, turistas que comprovem, por meio de exame, que já tiveram covid-19
Katarina Moraes
Publicado em 11/09/2020 às 10:20
Eles pedem reabertura também para quem não contraiu covid-19 Foto: YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM


Empresários e empregados de Fernando de Noronha seguem na expectativa pela divulgação da reabertura total da Ilha ao turismo, atividade que representa 98% da economia do local. Categoria esperava que, nessa quinta-feira (10), fosse anunciada posição do Governo do Estado na coletiva de imprensa semanal, mas único anúncio relacionado à Noronha foi da volta presencial gradual do ensino básico. Agora, segundo empresários, gestão estadual prometeu se posicionar sobre flexibilização no dia 14 de setembro, próxima segunda-feira. Oficialmente, no entanto, não há data. Desde o dia 5 de setembro, apenas turistas que comprovem, por meio de exame, que já contraíram o vírus, podem desembarcar na Ilha que, segundo o governo, não registra transmissão comunitária da covid-19 desde o final de abril.

No dia 19 de março, quando surgiram os primeiros casos suspeitos da covid-19, o aeroporto foi fechado. Desde então, é operado um voo semanal, aos sábados, apenas para residentes, autoridades e empregados. A partir do dia 5 de setembro, turistas que já tiveram a doença podem entrar na ilha. A medida, entretanto, não atende às necessidades das categorias, que ainda apontam falta de diálogo do poder público.

"A gente acha que o governo vem tomando atitudes sozinho, sem consultar ninguém, abriu a ilha para turistas infectados sem sentido nenhum, porque companhia aérea não vai botar avião para voar sozinho. Ninguém vai para Noronha porque ele abriu. Nós somos pernambucanos também, vamos ficar prejudicados porque o pensamento dele é que o turista pode contaminar a ilha, mas no Recife pode ser contaminado?", indagou Luiz Falcão, 69. Ele mora na ilha há 38 anos, e administra o Dolphin Hotel, que conta com 28 apartamentos que abriga de 2 a 5 pessoas. O prejuízo por esses meses fechado, segundo ele, é entre 4 e 5 milhões de reais.

A reclamação se repete durante entrevista com outros empresários, como é o caso de Júlio César Costa, 33, que já estima prejuízo de R$ 800 mil desde o começo da pandemia. "Eu acho que é uma falta de respeito com quem gera emprego na ilha. Não tem diálogo com nossa classe, não tem um prazo para reabrirmos nossas empresas. Está difícil para a gente viabilizar nossas operações. Não dá mais para segurar, as contas estão chegando, as protelações de impostos também", desabafou ele, que opera a Pousada Tesouro de Noronha, com capacidade para 20 pessoas. "O que me chateou bastante foi que o governador não nos recebeu, quem recebeu foi o secretário", disse.

A reunião a que Júlio se refere aconteceu no dia 8 de setembro, no dia em que o trade da ilha realizou manifestações no Recife e em Noronha. Na capital pernambucana, empresários do setor - de pousadeiros a bugueiros, conselheiros e pequenos negociantes - percorreram da Avenida Boa Viagem até o Palácio Campo das Princesas, onde uma comitiva foi recebida pelo secretário-executivo de Articulação e Acompanhamento da Casa Civil, Eduardo Figueiredo, pelo Superintendente Jurídico da Administração de Fernando de Noronha, Felipe Campos e pelo Diretor de Projetos Estratégicos da Ilha, Daniel Bezerra.

Lá, foi apresentado um protocolo elaborado em conjunto com diversas associações econômicas da Ilha, que sugere, com celeridade, a flexibilização do protocolo de entrada de turistas em Noronha.

Por nota, a Casa Civil afirmou que o documento "será encaminhado ao Comitê Socioeconômico de Enfrentamento ao Coronavírus para avaliação e eventual deliberação". Não há, no entanto, previsão para anúncio de uma eventual retomada total.

Os empregados dos negócios também temem por um prolongamento no decreto visto como obstáculo para o turismo na Ilha. É o caso de Luciana Cabral, 50, que trabalha para a rede Zé Maria, formada por pousada, restaurante e supermercado. “Acho incoerente a posição da administração da ilha, porque é um lugar que vive do turismo. Lógico que tem que ter prevenção e cuidados, como está tendo em todo o Brasil e todo o mundo. [...] Não dá para manter a pousada aberta para pouca gente. [...] O grupo procurou manter o quadro de funcionários, agora até quando vai poder fazer isso, não sei, se continuar desse jeito.

Protocolo sugerido por empresários de Noronha para reabertura

 

Protocolo da covid-19 referente ao regresso do turismo à Noronha from Jornal do Commercio

Prejuízo também para o Aeroporto


O Aeroporto de Fernando de Noronha - Governador Carlos Wilson, acumula prejuízo de quase 1 milhão de reais, segundo Manoel Ferreira, responsável pela operação. Com cerca de 20 funcionários e custo mensal entre R$ 130 e R$ 140 mil, o equipamento não parou de funcionar, apenas reduziu a malha aérea. 
"Como é uma atividade essencial, temos que operar por conta de contrato. Estamos com o caixa sacrificado, locamos recursos de fora para tentar manter. Os funcionários estão trabalhando em regime integral, porque o aeroporto não pode ser abandonado. Tem um sítio grande, tem que cuidar de cerca, de capinação, tem que prestar informações. Tem que estar sempre de prontidão. Se um avião pedir um pouso de emergência, temos que estar prontos para receber a aeronave", explicou Manoel.
 
Ele afirma que a expectativa era de que um anúncio sobre a reabertura total da ilha fosse feito na última semana, mas que agora espera que liberem até outubro. "Temos programação para outubro, mas se houver retrocesso, não tem voo, porque voo só acontece se tiver demanda", contou.

Retomada de voos comerciais

A partir do dia 1° de outubro, a empresa Azul retomará os voos comerciais para o Arquipélago de Fernando de Noronha. Segundo a companhia aérea, os voos serão realizados com o Embraer E195 E1, que tem capacidade para até 118 passageiros, às quintas, sábados e domingos.

Os voos com destino a Fernando de Noronha serão comercializados até três dias antes da partida. O prazo é para que o cliente que adquiriu o bilhete entre no site oficial do arquipélago, pague a taxa de preservação ambiental e envie a documentação necessária solicitada comprovado os anticorpos contra o novo coronavírus.

Aulas presenciais para a educação básica

As aulas presenciais no Arquipélago de Fernando de Noronha serão retomadas a partir de 22 de setembro. A ilha tem apenas uma escola e uma creche, ambas vinculadas à rede estadual, somando 619 alunos. Ficou para a próxima segunda-feira (14) o anúncio, por parte do governo estadual, de novidades em relação à suspensão ou manutenção da proibição de aulas presenciais na educação básica no restante de Pernambuco. Decreto que mantem as escolas fechadas, por causa da covid-19, expira no dia seguinte à coletiva, a terça-feira (15).

A autorização para o reabertura das escolas em Noronha se deu porque a ilha, segundo o governo, não registra transmissão comunitária da covid-19 desde o final de abril. Os primeiros a voltarem ao ensino presencial serão os 402 estudantes da Escola de Referência em Ensino Fundamental e Médio (Erem) Arquipélago Fernando de Noronha, a partir do dia 22 de setembro.

Nessa data, voltam os alunos do ensino médio. Na terça-feira seguinte, 29, serão os dos anos finais do ensino fundamental. E por último, em 6 de outubro, os estudantes das séries iniciais do fundamental.

Para os 217 alunos da creche, o Centro Integrado de Educação Infantil (CIEI) Bem-Me-Quer, a liberação ocorre a partir de 13 de outubro. Nessa data vão ser liberados as crianças da educação infantil. Uma semana depois, em 20 de outubro, retornarão os pequenos que ficam no berçário.

Os retornos serão sempre às terças-feiras. "Aproveitamos essa sugestão das escolas privadas. Como as aulas começam muito cedo, abrem às 7h, para que haja uma preparação no dia anterior, é melhor iniciar o retorno às terças. Se fosse na segunda, a escola estaria fechada no fim de semana", explica o secretário de Educação de Pernambuco, Frederico Amancio.

TAGS
pernambuco fernando de noronha covid-19 coronavírus
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory