Realizado na manhã desta terça (10) pelo Sistema Jornal do Commercio, o debate entre os candidatos ao cargo de prefeito da capital pernambucana rendeu não só a apresentação das propostas de governo para os próximos quatro anos de trabalho, como também declarações acerca da gestão do estado e da cidade em relação à pandemia do novo coronavírus. A equipe do Confere.ai acompanhou o debate e checou a veracidade das falas dos candidatos sobre o assunto.
Dois dos sete candidatos presentes no debate citaram que a prefeitura do Recife havia realizado a compra de ‘respiradores de porcos’ para tratamento de pacientes com covid-19 em estado de síndrome respiratória.
Marília Arraes (PT), em réplica ao candidato João Campos (PSDB) declarou: “é um candidato [João] que quer a continuidade da prefeitura que tá aí, que confia numa equipe que ao invés de usar o dinheiro pra efetivamente salvar vidas numa pandemia como a gente tá vivendo, comprou respirador de porco, fez contrato milionário com empresa MEI e tá abandonando a cidade”.
Já o candidato Coronel Feitosa (PSC), em pergunta voltada ao candidato Charbel Maroun (Novo), indica que o “Recife, lamentavelmente, é a capital da violência, além da capital da corrupção, dos respiradores de porcos, como também a capital do abandono.” Em um outro momento do debate, em uma outra pergunta para o candidato Charbel, Coronel Feitosa afirmou que a atual gestão do estado e da capital levaram “muitas pessoas à morte, ao medo, e o que é pior, a compra de respiradores de porcos, quando as pessoas que passavam mal, mandavam ficam em casa e irem pra os hospitais pra serem entubados por respiradores de porcos”.
Na verdade, não se trata de respiradores de porcos, nem respiradores destinados a animais. Os respiradores pulmonares são aparelhos que precisam passar por fases de avaliações técnicas, testes com animais - nesse caso, testes em porcos - e testes com humanos para receber a chancela da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para então serem comercializados.
O caso destacado pelos candidatos fez parte de uma compra realizada pela prefeitura do Recife, em abril, de 50 respiradores pulmonares. Porém, a compra foi realizada antes da liberação da Anvisa, e a fase de testes dos aparelhos ainda estava em andamento.
O episódio virou caso de investigação no Ministério Público e na Polícia Federal e repercutiu nas redes sociais e em declarações de parlamentares pernambucanos.
Em maio, o estado de Pernambuco decretou o lockdown, sistema que endurece o isolamento social, que restringiu a circulação de pessoas e veículos para tentar conter o avanço da covid-19. No dia 1º de junho, Recife e outras cidades da região metropolitana já estavam liberadas do sistema mais rígido de isolamento.
Charbel Maroun, candidato do Partido Novo, declarou que a medida não foi efetiva e que a Organização Mundial da Saúde (OMS) teria contraindicado o sistema para cidades com a configuração do Recife. “A própria OMS, ela diz que regiões socialmente vulneráveis não é recomendável o lockdown, porque mata empregos, mata vidas”, afirmou Maroun.
Uma investigação realizada pelo SJCC e checagem realizada pelo Projeto Comprova explica como a fala do candidato à prefeitura está equivocada. Em entrevista dada a uma revista inglesa, David Nabarro, um enviado especial da OMS, teve sua fala tratada em um post no Twitter tirada de contexto, onde sugere que a entidade condenava a aplicação do lockdown.
A OMS confirma que há impactos econômicos e sociais negativos com a adoção de lockdown, mas não afirma que mudou de opinião quanto ao uso do sistema. Segundo a instituição, políticas de isolamento continuam sendo parte da estratégia de contenção de contágio, para “achatar a curva” de casos e evitar a superlotação de hospitais, e, feito esse controle, permitir a reabertura das economias.
Em 16 de maio, data que iniciou o lockdown no Recife, o Secretário de Saúde da capital, Jailson Correia, declarou em pronunciamento oficial a necessidade da iniciativa, que “[o lockdown] precisa ser dado no momento certo, na dose certa e pelo período de tempo certo [...], com duração que seja suficiente para garantir uma desaceleração da curva de casos, e que, ao mesmo tempo, seja socialmente sustentável para as populações de mais baixa renda da cidade.”
Modelos matemáticos internacionais e locais mostram impacto do lockdown na prevenção de mortes. Em nota, a Secretaria de Saúde citou o levantamento realizado pela instituição britânica Imperial College, que projetou cerca de 2,5 mil mortes na capital pernambucana no período em que o lockdown estava em vigor. Entretanto, no mesmo período Recife registrou 573 óbitos, o que significa uma redução de 77% das projeções originais, num impacto de quase duas mil vidas salvas durante o isolamento rígido.
O isolamento mais rígido em Recife iniciou no dia 16 de maio - quando a taxa de ocupação de leitos chegou a 82% - e seguiu até o dia 31 do mesmo mês. No primeiro dia, Pernambuco registrou a maior média de isolamento do Brasil (53,8%), segundo dados da plataforma que monitora o índice de isolamento do país, desenvolvida pela Inloco. Apesar de ser inferior ao recomendado pela Organização Mundial da Saúde - que é de 70% - o isolamento diminui em até 21,76% as mortes pela covid-19 em Recife, aponta outro modelo matemático conduzido por pesquisadores da UFPE.
A fim de suprir a demanda por leitos para a covid-19, a prefeitura anunciou a construção de sete hospitais de campanha em áreas abertas de unidades municipais. A primeira Unidade Provisória de Isolamento, que funciona na Policlínica Amaury Coutinho, foi entregue em 31 de março, com 106 leitos. Posteriormente, foram montadas novas unidades na Policlínica Barros Lima, em Casa Amarela; Arnaldo Marques, no Ibura; no Hospital da Mulher, no Curado; além dos Hospitais Provisórios Recife 1, 2 e 3. Este último foi entregue em 5 de maio, 35 dias após o primeiro. No total, as unidades somaram mais de 1 mil novos leitos.
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