Quase dois anos após a decisão de desocupação, o número 73 da Rua Salgueiro, endereço de uma das construções mais icônicas do Recife, é o retrato do abandono e do vandalismo. O edifício Holiday, em Boa Viagem, tem sofrido com saques e virado ponto de uso de drogas. Nesta quarta-feira (10), o local foi novamente alvo de invasões, flagradas, inclusive, por equipes de televisão. Somente após a repercussão, policiais militares foram ao local. Mas nenhum suspeito foi detido.
Em 13 de março de 2019, a Justiça determinou que os moradores do Holiday deixassem o prédio por risco de incêndio e até de desabamento. No fim daquele mês, nenhuma das quase 500 famílias que viviam no local ocupavam mais a construção. Hoje, do lado de fora do prédio de 17 andares e 476 apartamentos é possível observar algumas janelas quebradas. Outras foram arrancadas por criminosos. Do térreo, onde funcionava um comércio, as portas de alumínio foram levadas.
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A dona de casa Darci dos Santos, que morava no sétimo andar do Holiday, cobra que providências sejam tomadas pelo poder público. "Meus apartamentos, que trabalhei, suei para conquistar, estou vendo os ladrões tomando conta. Cadê a justiça? Cadê os direitos humanos?", indagou.
A sujeira toma a calçada do edifício, e tem até um colchão e um sofá que servem de apoio para pessoas em situação de rua. Vizinhos do Holiday também reclamam da falta de policiamento. Segundo eles, a Polícia Militar e a guarda municipal só aparecem quando há equipe de reportagem.
A situação entristece a dona de casa Marta Vieira, uma das primeiras moradoras do Holiday. "O prédio está abandonado, eu sabia que ia ficar assim. Trinta anos morando aqui. Eu não gosto nem de passar por aqui, porque agora, quando eu chegar em casa, vou passar o dia inteiro chorando", revelou.
A estrutura também preocupa. A construção de mais de 67 anos apresenta rachaduras, e quem passa pelo local fica com medo de um acidente acontecer. Em imagens registradas por populares, um pedaço de concreto cai do apartamento de um dos últimos andares.
O ambulante Jota Albuquerque, que também já morou no edifício, lamenta a situação. "Quando chega no ano da eleição, todo mundo quer voto, todo mundo quer ser reconhecido. Parabéns ao poder público de Pernambuco. Está aí, o Holiday jogado e acabado", afirmou.
Os moradores, no entanto, não têm previsão de voltar para casa. O prédio foi interditado devido, principalmente, a quantidade de gambiarras na rede elétrica, que causavam risco de incêndio. Mas o Holiday também precisa de reparos estruturais. Os projetos foram feitos pelo condomínio em parceria com escritório de advocacia, arquitetos, engenheiros e a Universidade de Pernambuco (UPE). No entanto, segundo o síndico do prédio, José Rufino Bezerra, a questão está parada na Justiça.
"Os projetos estão prontos, esperando audiência da Justiça. Ela deveria ter acontecido em maio do ano passado, mas, devido à pandemia, foi suspensa e está sem data", explicou Rufino.
Em nota, a Prefeitura do Recife disse que o Holiday é um imóvel privado e os serviços de manutenção, limpeza e segurança interna são de responsabilidade dos moradores. A prefeitura também afirmou que já realizou 11 reposições de tapumes no local. Sobre a insegurança relatada, a Polícia Militar disse que, no último dia 4, seis pessoas foram detidas furtando janelas e fios de internet. Elas foram encaminhadas para a Delegacia de Boa Viagem. A PM informou ainda que faz rondas na localidade.
A Polícia Militar também diz., na nota oficial, que atua, não apenas no entorno do edifício, mas ao longo da Avenida Conselheiro Aguiar e no bairro de Boa Viagem. Emprega Guarnições Táticas da área e policiais em motocicletas, além de contar com equipes do Grupo de Apoio Tático Itinerante (GATI). Diante das demandas que vem chegando sobre furtos no local, na manhã de ontem, equipes do 19º BPM estiveram em apoio à Guarda Municipal do Recife, numa operação de varredura no edifício.