Com informações da repórter Juliana Oliveira, da TV Jornal
Amanda* tinha apenas 9 anos quando foi vítima do pastor e professor de 36 anos preso na última quinta-feira (7) por policiais da 2ª Delegacia de Polícia de Crimes Contra Criança e Adolescente e Atos Infracionais, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, pelo crime de estelionato sexual.
A família conta que o abuso contra Amanda aconteceu durante aulas de reforço de matemática com o professor, que era considerado confiável na comunidade. “Eu confiava nele demais, a comunidade também. Ele foi criado com a gente, é conhecido de todo mundo”, disse a tia, sem se identificar, à TV Jornal.
Segundo a mãe, ele dizia que faria uma “gincana” com a menina para vê-la nua. “Ele dizia que ela era muito inteligente e que tinha que ficar só porque os colegas atrapalhavam o andamento dela. Ele vendava os olhos dela e dizia que ia sair da sala para que ela tirasse a roupa. Fingia bater a porta, como se tivesse saído, mas como ela estava vendada, não sabia que continuava ali”, conta.
Só quando soube que o homem tinha sido preso por estelionato sexual, cerca de dez anos depois, que Amanda se deu conta da violência que sofreu. Além dela, outras oito meninas, a partir de 12 anos, registraram Boletim de Ocorrência contra o pastor. Segundo a Polícia Civil de Pernambuco (PCPE), os depoimentos relatam crimes praticados no cursinho onde ele dava aula e contra adolescentes que frequentavam a igreja.
“As primeiras [vítimas] relataram que participaram dos cultos da igreja na qual ele era pastor e das aulas no cursinho. Relataram diversas situações em que ele contava mentiras para poder ficar a sós com elas”, diz a delegada Vilaneida Aguiar, que descreve o homem como uma pessoa “altamente ardilosa e vil”. Informou, ainda, que o suspeito negou o crime.
O caso está sendo investigado pela 2ª Delegacia de Polícia de Crimes contra Criança e Adolescente e Atos Infracionais (DPCCAI), que deu cumprimento ao mandado de prisão expedido pela 3ª Vara Criminal da Comarca de Jaboatão dos Guararapes.
A gestora da DPCA, Ivalda Regina, contou que, em crimes de cunho sexual, é comum as vítimas não entenderem que foram violentadas ou se calarem por vergonha, mas pede para que comuniquem o fato às pessoas de confiança e então procurem a delegacia mais próxima para denunciar o autor.
“Em todo crime de cunho sexual , é comum que o autor se aproveite da confiança e da amizade que ele tem com a vítima. Isso faz com que muitas vezes passe despercebido para ela que aquilo se trata de um crime. A gente orienta que, se você sentiu algo que te incomodou, conte a alguém. Não se cale”, pede.
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O crime de estelionato sexual ou violação sexual mediante fraude está presente no artigo 215 do Código Penal, que é "ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima". A pena varia de dois a seis anos de prisão.
Para a família de Amanda, a notícia de que ele foi detido trouxe alívio. “Muito alívio pelas crianças que passaram [por isso], como minha filha, que à época era uma criança. Tomara que ele fique preso por muito tempo e pague pelo que fez”, disse a mãe.
*Para preservar a identidade da vítima, o JC utilizou um nome fictício nesta reportagem.