HABITAÇÃO

Jardim Monte Verde aguarda habitacional há 22 anos, quando houve outro deslizamento de terra

Desafio para sanar déficit habitacional na área agora deve aumentar - visto que várias casas foram destruídas em novos desastres que aconteceram nessa semana

Cadastrado por

Katarina Moraes

Publicado em 30/05/2022 às 17:01 | Atualizado em 28/05/2023 às 13:58
Sobreviventes que perderam as casas devem se somar ao déficit habitacional de Pernambuco, já superior a 326 mil unidades - Welington Lima/TV Jornal

Há 22 anos, cerca de 120 famílias afetadas por um deslizamento de barreira que aconteceu nos anos 2000 no Jardim Monte Verde, na parte recifense do Ibura, ainda aguardam a construção de um conjunto habitacional então prometido pela Prefeitura do Recife. Agora, o desafio deve aumentar - visto que várias casas foram destruídas em novos desastres que aconteceram nessa semana, e que somaram mais de 20 mortes só na comunidade.

Em 2016, o assunto foi pauta na Comissão de Cidadania da Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (Alepe). À época, uma das pessoas que aguardava a construção, a moradora Ezanilza Maria da Silva, cobrou uma ação do poder público. “Em 2000, afirmaram que esse processo demoraria de 6 meses a 1 ano, mas ainda estamos sem nossas casas”, criticou ela, que recebia R$ 200 de auxílio-moradia para pagar um aluguel de R$ 450.

Na Alepe, o secretário municipal de Habitação da Prefeitura do Recife, Carlos Fernando Ferreira Filho, justificou que a prefeitura não tinha uma solução para o caso, porque cada casa custaria, em média, R$ 100 mil para ser construída, e que muitos projetos habitacionais estavam travados diante da suspensão da terceira etapa do Minha Casa Minha Vida, programa do Governo Federal agora extinto.

O presidente da comissão era o deputado Edilson Silva (PCdoB), agora lotado no Governo do Estado. Participaram da discussão os deputados Adalto Santos (PSB), Eduíno Brito (PP) e Pastor Cleiton Collins (PP).

O deslizamento em questão aconteceu sob a gestão de Roberto Magalhães (1997-2000), mas a promessa seguiu engavetada pelos prefeitos seguintes: João Paulo (2001-2008), João da Costa (2009-2012), Geraldo Júlio (2013-2020).

O desempregado Edmilson José Oliveira, morador do Ibura desde que nasceu, lembra do caso. “Estavam todos dormindo quando aconteceu, foi pela madrugada, a barreira caiu por cima de todos. O socorro pelos Bombeiros foi imediato, mas morreu muita gente”, disse.

De lá para cá, outros deslizamentos com vítimas foram registrados no Jardim Monte Verde - tanto na parte que fica no Recife, quanto na que fica em Jaboatão dos Guararapes - em 2002, 2007, 2021 e, recentemente, nesse sábado (28), evidenciando que os desastres na região não se tratam de um caso isolado.

Muitos dos sobreviventes tiveram as residências destruídas na comunidade, como o caso do motoboy Elivan José, 46, e da dona de casa Juliana Lúcia, 38 anos, casal que teve a casa invadida pela barreira. “Acabou minha casa, tenho que reconstruir. Era pobre, mas era arrumada. Agora perdemos tudo", disse ele.

Agora, eles devem se somar ao déficit habitacional de Pernambuco, já superior a 326 mil unidades, segundo levantamento da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) junto à Ecconit Consultoria Econômica, e de 71 mil moradias no Recife, segundo dado da Prefeitura de 2019.

Enquanto isso, reportagem do JC de maio deste ano mostrou que a capital pernambucana tem em construção atualmente cinco habitacionais - todas as obras herdadas de gestões passadas e que, após um ano da nova gestão, ainda não foram concluídas. Ainda, que nenhuma nova obra de habitação foi anunciada.

A problemática preocupa a diretora Executiva Nacional da Habitat para a Humanidade Brasil, Socorro Leite, que apontou a necessidade de criação de políticas de moradia em Pernambuco que afastem as pessoas de pontos de risco ou o risco das pessoas.

“Existem casos em que, com obras, as pessoas não precisam ser removidas, em que a contenção de uma encosta pode evitar um risco a um conjunto de famílias. Em outros pontos, nem a obra asseguraria. então teria que buscar um outro local de moradia para as famílias. Em todo caso, o monitoramento é fundamental”, afirmou a especialista.

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