Não é preciso muito esforço para encontrar estruturas imponentes, que marcaram a história de Pernambuco, em estado de abandono.
Na semana em que se celebra o Dia do Patrimônio Histórico (17 de agosto), a reportagem relembra alguns dos imóveis históricos que estão em desuso, mas que já receberam projetos de reestruturação e que não foram iniciados ou concluídos.
Liceu de Artes e Ofícios
O antigo prédio do Liceu de Artes e Ofícios, localizado na Praça da República, foi inaugurado em 1880 pela Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais de Pernambuco, no intuito de reunir profissionais ligados às artes.
Situado entre o Palácio do Campo das Princesas e o Teatro de Santa Isabel, o imóvel de estilo classicista imperial, que foi tombado pelo Governo de Pernambuco, está fechado desde 2007, quando as atividades foram transferidas para o prédio do antigo Colégio Nóbrega.
O desgaste do tempo e da falta de manutenção é aparente. A tinta que já foi vermelha, hoje se aproxima do branco. As paredes seguem pichadas, além do mato não ser aparado.
O prédio é administrado pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), que já anunciou, ainda em 2014, o projeto para instalar um centro cultural no espaço.
O planejamento era construir um cineteatro, auditório, salas para exposições, livraria, salas de leitura e um café.
Ainda de acordo com o projeto, o centro também abrigaria cursos ligados às artes e uma exposição com o acervo do Liceu de Artes e Oficio – parte do mobiliário, dos quadros e dos documentos da escola.
Um ano depois, o planejamento esbarrou na falta de verba. Uma reportagem feita pelo JC, em 2014, explica que antes mesmo do projeto ser executado, o imóvel precisava passar por uma restauração.
Ainda de acordo com a matéria, em 2012, foram destinados R$ 80 mil do Funcultura para fazer o plano de revitalização. Contudo, no ano seguinte, o imóvel voltou a concorrer ao edital para concluir o projeto, mas não foi selecionado. Com isso, o projeto ficou estagnado.
A reportagem entrou em contato com a UNICAP e com o executivo estadual para saber se existe alguma tentativa de recuperação do espaço. Até o momento da publicação desta reportagem, não tivemos respostas. Caso sejam enviadas, a matéria será atualizada.
Torre de Atracação do Graff Zeppelin
A torre de atração de zeppelings, provavelmente a última que ainda permanece de pé no mundo, está localizada no Recife, mais precisamente no Parque do Jiquiá, na Zona Oeste.
A estrutura foi construída para receber o dirigível, que aportou no recife pela primeira vez no dia 22 de maio de 1930. A torre foi a primeira estação aeronáutica voltada para este tipo de transporte na América do Sul.
Tombada como patrimônio histórico do Estado, a torre foi desativada em 1937. A estrutura, que está prestes a completar um século desde que foi construída, segue fixa em um espaço sem atenção.
O Parque, na verdade, não tem qualquer estrutura de atendimento aos visitantes e, para os turistas que buscam visitar a Torre, apenas localizam o espaço por meio de um banner colocado sobre uma árvore ou questionando aos próprios moradores.
Além disso, à frente da torre está uma placa danificada, onde estariam reunidas as informações. O local ainda tem circulação de pessoas, muito devido à uma estrutura de treinamento do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), localizado em uma área ao lado da torre.
De acordo com os sargentos que estavam no local, as poucas atividades feitas no entorno do local são realizadas em parceria entre a comunidade e o Batalhão.
Em 2012, a Prefeitura do Recife anunciou um projeto para o Parque do Jiquiá, que contaria com museu de ciências, planetário, Centro Vocacional Tecnológico da Indústria Criativa, Brigada Ambiental, Refinaria Multicultural, biblioteca, centro poliesportivo e trilhas. Também estava previsto a construção do Museu do Zeppelin.
Dez anos após o anúncio do projeto, nenhuma das atrações turísticas foi construída. Questionada sobre o projeto do Parque que não foi colocado em prática, a gestão municipal informou que a Autarquia de Urbanização do Recife (URB) está finalizando a parte conceitual da revitalização do Parque do Jiquiá para, na sequência, contratar o projeto executivo.
Fábrica Tacaruna
O Conjunto Fabril da Tacaruna tenta sobreviver a mais uma fase do abandono histórico provocado pelo Governo de Pernambuco.
No ano de 1890 que um imóvel histórico para o estado passou a ser construído: a Usina Beltrão, tornando-se o empreendimento que seria considerado a primeira e mais moderna refinaria da América do Sul.
As obras foram concluídas em 1895. A usina de açúcar pouco tempo depois fechou as portas e deixou o prédio inativo por 27 anos. Em 1925 passa a funcionar como indústria têxtil, a Fábrica Tacaruna, que funcionou até 1955.
O espaço recebeu outros empreendimentos ao longo dos anos, mas foi desativado em 1982 e, posteriormente, entregue ao Banco Econômico, como pagamento de dívidas.
Em 1994 o espaço foi tombado como Patrimônio Histórico e Artístico pelo Governo estadual e, em 1996, foi declarado de utilidade pública para fins de desapropriação.
Em 2023, um relatório realizado pelo TCE comunicou que o imóvel teve os seus elementos construtivos internos como lajes, pilares e vigas parcialmente destruídos.
Parte das estruturas das fachadas, inclusive, desmoronou e outras se encontravam na iminência de desabar. O apontamento foi feito em um relatório do Tribunal de Contas de Pernambuco (TCE-PE).
Em junho deste ano, o Governo de Pernambuco comunicou que está em fase de elaboração das diretrizes para o projeto de intervenção no imóvel e que os procedimentos necessários para viabilizar a limpeza e conservação do terreno do imóvel, a instalação de tapumes e o posto de vigilância já foram iniciados.
Casa de Clarice Lispector
A casa em que Clarice Lispector viveu durante a infância e parte da adolescência no Recife tornou-se mais um dos inúmeros símbolos de abandono da capital pernambucana.
Localizada em frente à Praça Maciel Pinheiro, no bairro da Boa Vista, o imóvel está com a porta principal bloqueada por tijolos, a fachada foi tomada por lixos e pichações, além dos danos à estrutura, como furos no telhado e buracos nas paredes.
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Com promessas de reforma e possível transformação em centro cultural, como forma de homenagem à escritora, a estrutura - que está sob a administração da Santa Casa de Misericórdia.
Ainda em 2020, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) encaminhou um pedido de restauro do local, além do pedido para gerir o espaço e transforma-lo em centro cultural.
Em visita à sede da Fundação, em 2022, Paulo Gurgel Valente, filho de Clarice, fez um apelo para que a cidade do Recife retribuísse o carinho demonstrado pela escritora ao longo de sua vida e obra.
De acordo o Superintendente da Santa Casa de Misericórdia, Júlio Gil, a Instituição retomou as conversas sobre projetos para a residência.
Confira a lista de patrimônios públicos tombados pelo Governo do Estado no Recife
- Torre do Zeppelin e Campo do Jiquiá
- Conjunto Urbano da Rua da Aurora
- Conjunto arquitetônico da Praça de Boa Viagem
- Ponte D’Uchoa
- Pátio de Santa Cruz
- Praça Dom Vital
- Praça 17
Confira a lista de patrimônios públicos tombados pelo IPHAN no Recife
- Sítio da Trindade
- Conjunto Urbano da Rua da Aurora
- Forte das Cinco Pontas
- Mercado de São José
- Teatro de Santa Isabel
- Torre do Zeppelin, no Jiquiá
- Ponte: Boa Vista
- Casa: Apolo (Rua do), nº 121 - Teatro Apolo
- Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Praça da República
- Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico do Antigo Bairro do Recife
- Jardins de Burle Marx na Cidade de Recife
Confira a lista de prédios municipais protegidos como Imóveis Especiais de Preservação (IEPs)
- Prédio da sede da Emlurb
- Prédio da sede da URB
- Mercado da Encruzilhada
- Biblioteca Pública de Casa Amarela
- Largo do Morro da Conceição, S/N (em frente à Santa)
- Praça da Várzea (Pinto Dâmaso - Jardim Histórico de Burle Marx)
- Biblioteca Popular de afogados
- Ponte da Boa Vista
- Ponte Princesa Isabel
- Ponte Seis de Março
- Ponte Duarte Coelho
- Teatro do Parque