Queda de Teich expõe posição de enfrentamento de Bolsonaro com ministros da Saúde

Três meses e dois ministros depois, Bolsonaro não conseguiu afinar o discurso com autoridades da Saúde
Maria Lígia Barros
Publicado em 15/05/2020 às 13:57
"Ter divergência não é ter conflito, por isso que a saída foi confortável', disse Foto: MARCELLO CASAL JR./AGÊNCIA BRASIL


O pedido de demissão do médico e agora ex-ministro Nelson Teich, nesta sexta-fera (15), é mais um exemplo da dissonância do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com o Ministério da Saúde (MS). Desde o início da pandemia do novo coronavírus no Brasil, a relação com os representantes da pasta tem sido marcada por conflitos. Três meses e dois ministros depois, Bolsonaro não conseguiu afinar o discurso com as autoridades sanitárias do seu próprio Governo, contrariando publicamente suas recomendações, pela fala e pelas ações.

A insistência do presidente pela cloroquina foi o estopim para a saída de Teich, que durou menos de um mês como ministro. Nessa segunda-feira (11), Teich havia declarado que o MS não recomendava o medicamento para o tratamento contra a covid-19 porque ainda não há eficácia comprovada, embora também não proibisse o uso.

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Nessa quinta-feira (14), em videoconferência com empresários, Bolsonaro disse exigir “a questão da cloroquina”. “Se o Conselho Federal de Medicina decidiu que pode usar cloroquina desde os primeiros sintomas, por que o governo federal via ministro da Saúde vai dizer que é só em caso grave?”, alfinetou o presidente, segundo reportou o jornal Valor Econômico.

Dias antes, Bolsonaro surpreendeu Teich ao incluir academia, barbearia e salão de beleza na lista de serviços essenciais durante a coletiva de imprensa do ministro, que não foi consultado ou avisado sobre a mudança. O médico ficou sabendo pelos jornalistas sobre a novidade e, surpreso, disse que a decisão não havia passado pelo MS, mas que era um entendimento do presidente.

As discordâncias também marcaram a passagem do ex-deputado e médico ortopedista Luiz Henrique Mandetta pela pasta. Os discursos foram em direções contrárias ainda nas primeiras semanas de março. Enquanto o ministério alertava para a redução do contato social para conter o contágio, o presidente minimizava a doença. Em 15 de março, mesmo depois de Mandetta ter alertado sobre o risco das aglomerações em protestos, Bolsonaro saiu para cumprimentar seus apoiadores na manifestação que ele mesmo convocou.

As discordâncias se acentuaram quando Bolsonaro passou a defender publicamente o que chamou de “isolamento vertical” - ao mesmo tempo em que o ex-ministro aparecia em rede nacional intervindo pelo distanciamento social.

O embate pela cloroquina também foi uma questão na gestão. Em 8 de abril, ele se pronunciou contra o uso liberado para todos casos de coronavírus, preconizando que cada um fosse avaliado individualmente, e priorizando os de média e alta complexidade. A declaração foi de encontro à proposta de protocolo sugerida pelo Palácio do Planalto.

A fritura de Mandetta no cargo durou um mês, até Bolsonaro demiti-lo, no dia 16 de abril. No último domingo (12) à frente da pasta, o ortopedista concedeu entrevista ao Fantástico falando abertamente sobre as divergências entre os dois.

 

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