Sem acordo no Recife, grupo de oposição se une em torno de Anderson Ferreira, Raquel Lyra e Miguel Coelho

Todas as grandes agremiações que apoiaram Armando Monteiro em 2018 estão no palanque dos três gestores. Na capital pernambucana, já lançaram seis nomes para a eleição deste ano
JC
Publicado em 10/09/2020 às 16:31
Líderes da centro-direita pernambucana se uniram em 2018, mas não estão conseguindo chegar a um consenso no Recife neste ano Foto: Foto: Cássio Oliveira/JC


. - Eleições 2020

Quem costuma acompanhar o dia a dia da política em Pernambuco já deve ter percebido que o grupo de centro-direita que se uniu em 2018 para tentar barrar a reeleição do governador Paulo Câmara (PSB) tem enfrentado certa dificuldade em criar uma unidade no Recife para as eleições municipais deste ano. Até o momento, seis nomes do coletivo foram lançados para disputar o pleito na capital, uma verdadeira implosão da coligação formada em torno do ex-senador Armando Monteiro (PTB) na eleição passada.

Curiosamente, esses partidos estão todos alinhados em prol das mesmas candidaturas em outros grandes colégios eleitorais do Estado: Jaboatão dos Guararapes, Caruaru e Petrolina. Nessas cidades, pelo menos as principais legendas do grupo estão apoiando os projetos de reeleição de Anderson Ferreira (PL), Raquel Lyra (PSDB) e Miguel Coelho (MDB), fazendo com que os gestores tenham os maiores palanques majoritários dos seus respectivos municípios.

“A principal condição para que os políticos desses colégios eleitorais possam aglutinar tantas siglas a sua volta é a ausência de uma liderança estadual articuladora. Eduardo Campos (ex-governador do PSB, falecido em 2014) tinha esse papel. Era ele quem articulava boa parte da composição nesses locais, desenhava o modo como os partidos iam se comportar, as forças que iriam apoiar. Ele fazia isso em Petrolina, quando Fernando Bezerra Coelho (MDB) ainda estava no PSB, e em Caruaru, pois era aliado de João Lyra e de José Queiroz. Ele conseguia aglutinar até mesmo forças díspares dentro do seu projeto”, explicou o cientista político Vanuccio Pimentel, professor da Asces/Unita.

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Com a máquina nas mãos e sem uma figura articuladora para interferir na política dos municípios, os gestores citados tiveram mais espaço para conquistar apoios às suas postulações e cresceram no processo. Em 2016, por exemplo, Anderson Ferreira se aliou com oito partidos ao concorrer à Prefeitura de Jaboatão. Na próxima segunda-feira (14), quando o PL realizará convenção confirmando a sua candidatura à reeleição, o administrador terá pelo menos 14 siglas no seu palanque, entre elas algumas que estão atualmente na base do governo estadual, como Solidariedade, PSD e Avante.

Em Caruaru, PSDB, PL, Cidadania, DEM, Avante, Podemos, PMB, PMN, PTC e PTB já disseram que estarão com Raquel Lyra na campanha deste ano, enquanto em Petrolina, Miguel Coelho receberá o reforço de MDB, DEM, PTB, PL, PV, PP, PSDB, PSC, Republicanos, Avante, PRTB, Patriota, PROS e Cidadania ao seu projeto de reeleição. Todas as grandes agremiações que estiveram com Armando em 2018 estão apoiando os três gestores.

O cenário é completamente distinto do Recife, onde a disputa por poder dentro da centro-direita parece impossibilitar a união dos líderes das siglas que compõem o bloco. “Houve uma completa fragmentação da centro-direita recifense. Todos acharam que poderiam pegar um quinhão do eleitorado e esse quadro acaba fortalecendo as candidaturas dos deputados federais João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT) na capital. Há o fato, também, de o PSB já estar há bastante tempo no comando do Recife, o que acaba gerando um desgaste maior do partido com as forças de oposição do município, estimulando mais candidaturas”, pontuou o cientista político Antônio Lucena, afirmando que o mesmo fenômeno não ocorre em casos como o de Raquel Lyra, por exemplo, porque a prefeita está no seu primeiro mandato e tem bons índices de aprovação popular.

Até esta quinta-feira (10), dentro do grupo de oposição estão postos para concorrer à Prefeitura do Recife os nomes do deputado federal Daniel Coelho (CID), do ex-ministro e ex-governador Mendonça Filho (DEM), dos deputados estaduais Alberto Feitosa (PSC) e Marco Aurélio (PRTB), além da delegada Patrícia Domingos (Pode) e do advogado Carlos Andrade Lima (PSL). Parte do grupo ainda espera, porém, que esse quadro possa ser reduzido em no máximo duas ou três candidaturas.

Vanuccio Pimentel ressalta que, apesar do desentendimento da oposição parecer recente, podemos remontar a dispersão da centro-direita no Recife para cerca de 20 anos atrás. “Depois do governo de Roberto Magalhães e com a chegada do PT em 2000, essas forças começaram a se desarticular. Eu penso que nunca houve de fato no Recife uma força opositora ao PSB e ao PT. Quando (o senador) Jarbas (Vasconcelos) e (o deputado federal Raul) Henry migraram para o governo, sobraram poucas forças desarticuladas, como o DEM e agora algumas pessoas novatas, como a delegada Patrícia Domingos”, detalhou o docente.

Os prefeitos Anderson Ferreira, Raquel Lyra e Miguel Coelho foram procurados pelo JC para comentar suas articulações para a eleição deste ano, mas não puderam falar com a reportagem porque já estavam em outros compromissos ao longo do dia.

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