Candidatos no Recife terão que lidar com o desafio de fazer campanha durante a pandemia

Restrições impostas pela pandemia da covid-19 podem ser complicadores para as campanhas. Já uso das redes sociais torna-se ainda mais necessário
Mirella Araújo
Luisa Farias
Publicado em 18/09/2020 às 22:27
O presidente Jair Bolsonaro defende o voto impresso e disse diversas vezes que houve fraude na própria eleição que o elegeu em 2018 Foto: AGÊNCIA BRASIL


JC - Eleições 2020

As eleições municipais serão desafiadoras para os candidatos a prefeito e vereadores. Em virtude da pandemia do novo coronavírus (covid-19), que alterou o calendário eleitoral, além da redução do número dias para fazer a campanha - serão 45 dias ao invés do período tradicional de 90 dias, em 2016 - , as restrições de contato presencial para evitar aglomerações, em respeito aos protocolos sanitários, também podem se tornar complicadores, principalmente para os estreantes da corrida municipal. É nesse sentido, que o fenômeno das redes sociais, potencializadas nas eleições de 2018, poderá ser um instrumento fundamental para quem quer fazer a diferença ao apresentar seu projeto de cidade.

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“Neste ano, candidatos e suas equipes de marketing político e eleitoral deverão se desdobrar para chegar com suas mensagens até o eleitorado. Claro que aqueles que buscam a reeleição partem de um patamar superior, tendo uma vantagem competitiva em relação aos adversários, pois já são conhecidos e costumam ter a máquina pública a seu favor.”, afirma o professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie, do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas, Rodrigo Augusto Prando.

Ao trazer esse recorte para Pernambuco, especificamente tratando do cenário no Recife, a população contará com 11 candidaturas a prefeito. Apesar de a campanha ser iniciada oficialmente no dia 27 de setembro, muitos postulantes já estão caminhando pelas ruas da capital, alguns em busca de tornarem seus rostos conhecidos. Para o cientista político da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Ernani Carvalho, o eleitor vai estar mais atento a essa dinâmica na internet, entretanto, torna a disputa mais incerta no sentido de resultado. Vale ressaltar que número de seguidores e popularidade nas redes sociais não significa número de votos válidos.

“O grande desafio vai ser adaptar às expectativas das eleições a este novo normal, isso quer dizer que as campanhas vão estar mais focadas em rádio, televisão e, sobretudo, nas redes sociais. Acredito que a mudança no eleitorado, será muito mais de observar uma maior frequência de busca dos candidatos pela sua atenção nestas plataformas. Recentemente, conversando com algumas pessoas, elas comentaram que nunca tiveram tanta busca por amizade, seja no Facebook ou outros tipos de rede, como agora. Isso deriva de uma ampliação das redes dos candidatos em busca de seus eleitores”, explica Ernani.

A consciência dessa nova realidade, parece estar sendo incorporada pelos candidatos a prefeito do Recife. Estreante na disputa majoritária, escolhido pelo PSB para suceder o prefeito Geraldo Julio, o deputado federal João Campos, afirma que mesmo com as restrições impostas pela pandemia, essa será uma campanha que contará com muita participação popular. “A vida de todos está mais desafiadora e o exercício da política eleitoral também passará pelas limitações impostas pela pandemia, de restrições de convívio e contato. A política é a arte de representar, do olho no olho, de andar junto. Isso realmente ficará mais comprometido, mas as ferramentas de tecnologia e os cuidados preventivos vão nos permitir realizar uma campanha bonita”, declara Campos, ao JC.

Para a deputada federal Marília Arraes (PT), é necessário adotar alguns cuidados no manuseio das ferramentas tecnológicas que estarão à disposição neste pleito municipal, mas a petista não descarta a presença física nas ruas, desde que obedecendo aos protocolos de segurança. "Mais do que nunca é fundamental um trabalho eficaz e coerente nessas mídias. Foi por lá que fizemos a construção do Recife Cidade Inteligente e é por lá que também vamos continuar debatendo a cidade. Mas vamos ainda continuar falando com as comunidades por meio dos instrumentos de comunicação disponíveis e nas agendas presenciais que vamos realizar, respeitando as normas sanitárias", afirma. A candidata petista, deverá promover plenárias virtuais e presenciais para debater diversas temáticas.

A candidata do PSTU, Cláudia Ribeiro, conta que a dificuldade para fazer campanha será maior nessas eleições, pois o seu partido não terá direito a tempo de propaganda de rádio e televisão. "No entanto isso não nos impedirá de fazer nossa campanha e apresentar a classe trabalhadora do Recife alternativa socialista, um programa para sair da crise que esse sistema nos impõe", afirma Cláudia. 

Na avaliação do cientista político Arthur Leandro, a influência da pandemia não deve ser tão decisiva na eleição municipal como vem sendo especulado. “As candidaturas estão investindo em mecanismos clássicos de reprodução dos fluxos de poder”, disse. Os candidatos estão em campanha, estão fazendo caminhada, participando de reunião. Esse fator distanciamento social não é percebido no cotidiano das campanhas. A diferença talvez seja o candidato estar de máscara, mas ele está andando, indo a feira, etc”, completa o cientista político.

Ele argumenta que a flexibilização da economia trouxe um tom de aparente normalidade para o cotidiano da população, e isso não será diferente no período eleitoral. “Há um risco de que os analistas estejam superestimando o efeito da pandemia, a capacidade do povo de passar por situações adversas e seguir sua vida, fazendo festa, indo para a praia, para o brega e para o pagode dançar, enchendo as igrejas com os seus cultos. O povo está pronto para voltar para a normalidade, muito embora o clima epidemiológico ainda seja muito incerto”,afirmou Arthur Leandro

Esse pensamento é compartilhado por candidatos mais à direita, que não pretendem abrir mão de se aproximar do eleitorado mesmo com as limitações impostas pela covid-19. “A campanha deve ser baseada em três “S”: sola, suor e saliva. Isso é fundamental, qualquer candidato vai ter que fazer isso. Se ela vai ser amparada por uma máscara, é uma regra que a gente vai cumprir, e tirar ou na hora da foto, na hora que for falar”, diz o candidato pelo PSC, Alberto Feitosa.

Para o candidato Mendonça Filho (DEM), o maior desafio da campanha em meio à pandemia é fazer cumprir as regras de distanciamento. “Na circulação pelas comunidades, é procurar fazer essa agenda, sem grandes aglomerações, respeitando distanciamento, usando máscaras. Você não pode forçar o seu interlocutor a cumprir a mesma regra, mas se estiver com equipe reduzida já é um bom exemplo”, explica.

Novos

A eleição no Recife deste ano é marcada pelo candidatos jovens que nunca disputaram uma eleição majoritária, como no caso de Patrícia Domingos (Podemos), neófita na política. A delegada reconhece que a restrição do contato enfraquece o laço com os eleitores. Para ela, o ambiente é ainda mais propício para uma participação ainda mais ativa nas redes. “Isso não deixa de ser importante porque esse novo formato vai renovar a maneira de nos comunicarmos com o eleitor. Como é a minha primeira campanha, já entro nela trabalhando com esse novo modelo de comunicação”.

Ao mesmo tempo que a pandemia pode pesar negativamente aos mais jovens por dificultar o acesso à população - em um momento em que o desejo é se tornar conhecido - Arthur Leandro pondera que pesa a favor deles o fato de terem pouco desgaste à sua imagem. “O maior efeito disso é positivo, ou seja, não ter experiência majoritária significa não ter ou ter minorada a sua rejeição. Um baixo recall como gestor, isso significa que os problemas típicos de administrar uma cidade, que qualquer gestor experimentado teria, essas pessoas não vão ter”, disse.

O que pensam os outros candidatos a prefeito do Recife sobre fazer campanha em período de pandemia da covid-19

 

Charbel Maroun (Novo)

"Nós não vamos ter problema em fazer uma campanha bastante forte nas redes. Essa restrição física não vai nos atrapalhar, vamos ter desenvoltura. Por outro lado, entendemos que é necessário caminhar nas ruas, comunidades, ver a realidade das pessoas. Faremos isso de uma maneira que respeite os protocolos, evitando aglomerações. Temos que viver as realidades das pessoas também. Elas estão nos ônibus lotados, tendo que trabalhar, então devemos estar próximos".

Carlos de Andrade Lima (PSL)

"A campanha deste ano será, inegavelmente, muito mais digital. Primeiro, pela evolução da tecnologia e segundo por conta da pandemia. A campanha de rua continuará existindo e também faremos a nossa, mas respeitando todas as regras sanitárias e seguindo fielmente as recomendações do TRE. Vamos visitar as comunidades dos 59 vereadores, sempre respeitando o número limite de pessoas, evitando aglomerações e usando máscaras, para conversar com as pessoas e repassar nossas propostas de governo. Por fim, também vamos promover rodas de conversas e palestras para aproximar cada vez mais nossas ideias das pessoas". 

Thiago Santos (UP)

"Logo na nossa primeira eleição teremos que enfrentar as limitações da pandemia. Vamos apostar na organização a partir dos movimentos de luta por moradia, estudantil, sindical e de mulheres, reunindo com lideranças e simpatizantes em pequenos grupos por local de trabalho, além de dedicar certa atenção à divulgação das nossas ideias pela Internet". 

Marco Aurelio Meu Amigo (PRTB)

"O candidato tem que manter o contato pessoal com o eleitor, tem que estar junto com o povo. Lógico que com a pandemia as redes sociais ganharam ainda mais força, porém não anula o contato pessoal". 

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