Ex-ministro da Saúde no governo Jair Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta lançou, nesta sexta-feira (25), um livro intitulado "Um paciente chamado Brasil", pela editora Objetiva. Demitido em 16 abril por insistir em adotar as recomendações internacionais indicadas pela comunidade científica para conter a disseminação do coronavírus, Mandetta relata, em primeira pessoa, os últimos 87 dias de sua gestão na pasta. Desde 24 de janeiro, quando acompanhava o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, até a data em que confimou a sua demissão, após breve reunião com o presidente.
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Dos problemas enfrentados no Ministério da Saúde durante a pandemia do novo coronavírus, o ex-ministro Henrique Mandetta aponta o que, na sua opinião, foi o principal: a postura negacionista do presidente Jair Bolsonaro. Segundo Mandetta, se o presidente adotasse protocolos estabelecidos pela pasta para preparar o sistema público de Saúde, o Brasil não estaria entre os países com o maior número de vítimas da doença. "Poderia ter sido diferente, para melhor", disse Mandetta
O livro, segundo ele, foi escrito na quarentena de seis meses imposta a ministros que deixam o governo. Ao analisar as decisões políticas, faz mea-culpa e critica a Organização Mundial de Saúde (OMS) por relutar em classificar a covid-19 como emergência sanitária mundial.
O foco principal das críticas, no entanto, é Bolsonaro, descrito como alguém em negação diante do agravamento da doença. "Primeiro ele negou a gravidade da covid-19, falando que era só uma ?gripezinha?. Depois ficou com raiva do médico, ou seja, de mim. Depois partiu para o milagre, que é acreditar na cloroquina", escreve.
Mandetta relata que, antes mesmo do primeiro caso no País, tentou por diversas vezes apresentar dados, projeções e medidas de prevenção a serem tomadas. Mas, segundo ele, o presidente "sempre arranjava um jeito de não participar". Nas reuniões ministeriais, afirma, não tinha espaço para falar.
Segundo o ex-ministro, Bolsonaro só viu os dados em uma ocasião, em 28 de março - o País registrava 92 óbitos por covid-19. Mandetta diz que apresentou três projeções, de 30 mil a 180 mil mortes por covid-19 no País.