A candidata à Prefeitura do Recife Marília Arraes (PT) apresentou recentemente a proposta de viabilizar a desativação do Complexo do Curado, no bairro de mesmo nome, caso seja eleita prefeita nas eleições deste ano. A promessa da petista é de estabelecer um prazo até 2022 para que o governo de Pernambuco desative a unidade e o espaço seja utilizado para fins sociais.
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"Vamos dar um prazo ao governo do estado para que até 2022 essa unidade seja desativada e que no espaço sejam desenvolvidos projetos de inclusão social. Essa é mais uma nova página que o Recife precisa virar para começar uma nova história", afirmou a candidata em um vídeo publicado nas suas redes sociais nesta terça-feira (6).
Ao JC, ela reforçou que a região no entorno do complexo carece de equipamentos na áreas de lazer e investimentos em projetos sociais, que poderia funcionar no local. Segundo defende Marília, o debate vai envolver não só o governo estadual - responsável constitucionalmente pela gestão dos presídios - mas também outros prefeitos que possam ter interesse em abrigar o complexo. Ela garante que será feita a cobrança ao governo "respeitando todas as diretrizes".
"Tem que ter uma iniciativa para pensar naquela situação e não simplesmente deixando como está e empurrando com a barriga. É necessário fazer esse debate inclusive com outras cidades. A presença influencia no repasse do ICMS e pode ser que cidades da Região Metropolitana do Recife (RMR) tenham interesse. A gente precisa iniciar esse diálogo", explicou.
A Pesquisa Ibope/JC/Rede Globo, divulgada na última sexta-feira (5) mostrou que a segurança pública está em segundo lugar entre as áreas de maior preocupação por parte recifenses, com 40% das menções. Está atrás apenas da área da saúde, apontada por 52% dos entrevistados.
De acordo com a mesma pesquisa, Marília Arraes está numericamente em terceiro lugar nas intenções de voto, com 14%, mas empatada tecnicamente com o segundo lugar, Mendonça (DEM; 19%) e com o quarto lugar, Delegada Patrícia (11%; Podemos), considerando a margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos.
O tema da transferência do antigo Presídio Professor Aníbal Bruno foi levantado pela candidata pela primeira vez durante a campanha na sabatina da Rádio Jornal nessa segunda (5). Na ocasião, Marília afirmou que a população que vive próxima ao complexo prisional - como nos bairros do Totó, Curado, Sancho, Jardim Planalto - acaba sendo prejudicada, o que também respinga em entraves para o desenvolvimento da Zona Oeste do Recife como um todo.
"As pessoas ali no entorno têm seus imóveis desvalorizados, não conseguem expandir aquela situação. Para fazer a arena o governo arrumou terreno e arrumou dinheiro, R$ 250 milhões. Para tirar aquela situação ali da região, não consegue. Isso a gente vai trabalhar sem dúvida na prefeitura para que isso aconteça e vai beneficiar mais de 200 mil pessoas ali da região e diretamente 100 mi pessoas que moram no entorno do complexo prisional do Curado", prometeu a candidata.
Mas segundo Marília, esse posicionamento político não é de hoje, mas sim fruto de um diálogo com a comunidade e a Pastoral Carcerária, que já denunciou à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) violações de direitos humanos no complexo. "É uma unidade que não está sendo boa para ninguém, nem para os reeducandos, nem para as famílias, nem para a comunidade como um todo, é até um modelo de penitenciária que não se adota mais. Hoje abriga seis vezes mais do que a capacidade original e é necessário que quem esteja à frente do Executivo, seja municipal, estadual, tome iniciativa quanto a isso", afirmou a candidata ao JC.
O Complexo do Curado abriga três unidades: Presídio Juiz Antônio Luis Lins de Barros, Presídio Aspirante Marcelo Francisco Araújo, Presídio Frei Damião de Bozzano. A instituição completou 40 anos de existência em março de 2019, e tem sua história marcada por superlotação e uma série de rebeliões. Segundo a plataforma Fogo Cruzado, só em 2020 houve registro de 21 pessoas baleadas em presídios da Região Metropolitana do Recife (RMR). Três delas faleceram, todas do Complexo do Curado.
A desativação do complexo já chegou a ser cogitada no ano de 2016, recomendada pelo então promotor de Execuções Penais, Marcellus Ugiette, mas a proposta acabou não avançando.
Marília Arraes fez caminhada na tarde desta terça-feira (6) no Alto Santa Teresinha, na Zona Norte do Recife. A candidata visitou o projeto Ecocultural, que desenvolve iniciativas culturais e de conscientização ambiental voltados para a comunidade. Em entrevista à Rádio Ecocultural, localizada na ocupação Vila Monarca, a candidata defendeu o incentivo a projetos sociais nos bairros do Recife.
"A gente precisa multiplicar ações como esta do projeto Ecocultural, incentivar os projetos que hoje existem e que simplesmente são ignorados pela prefeitura. Projetos sociais como este tão bonito, no Alto Santa Terezinha, serão nossos aliados no combate às desigualdades, uma prioridade do Recife Cidade Inteligente", disse.
Marília criticou ações da Prefeitura do Recife, a exemplo do Centro Comunitário da Paz (Compaz), que segundo ela, não se integra aos projetos já desenvolvidos nas comunidades. "Não pode ser uma peça de publicidade pra prefeitura, que deixa de fora projetos como esse da rádio Ecocultural que, como o próprio Valmir (Nascimento, um dos coordenadores do projeto Ecocultural) falou, não é sequer procurado ou apoiado pela prefeitura. Não dá pra combater desigualdades excluindo quem atua na comunidade. Vamos fazer diferente", propôs a petista.
Na caminhada, a petista esteve acompanhada do candidato a vice-prefeito João Arnaldo (PSOL), os vereadores Jairo Britto (PT) e Ivan Moraes (PSOL), candidatos à reeleição, os candidatos a vereador Ermes Costa (PT), Suzi Rodrigues (PT) e Jairo Figueiroa (PT), além de Carol Vergolino e Robeyonce Lima, integrantes do mandado coletivo das Juntas (PSOL) na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).