Segundo turno no Recife será disputa entre Eduardismo e Lulismo, apontam analistas políticos

Durante a primeira etapa da corrida pela Prefeitura da capital pernambucana, encerrada nesse domingo (15), João evocou a imagem do pai, o ex-governador Eduardo Campos. Já Marília apostou alto ao colar sua imagem à do ex-presidente Lula (PT) e sentiu o efeito positivo disso nas urnas
Marcelo Aprígio
Publicado em 16/11/2020 às 2:05
João Campos e Marília Arraes disputam o segundo turno das eleições no Recife Foto: FELIPE RIBEIRO/BRENDA ALCÂNTARA/JC IMAGEM


Arte: JC - Resultados das Eleições 2020

A disputa de segundo turno entre João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT) deve testar a força do Eduardismo e do Lulismo no Recife. É o que apontam analistas políticos ouvidos pelo JC. Durante a primeira etapa da corrida pela Prefeitura da capital pernambucana, encerrada nesse domingo (15), João evocou a imagem do pai, o ex-governador Eduardo Campos, diversas, chegando a mostrar imagens em que ambos realizavam movimentos e falas semelhantes. Já Marília, mesmo não tendo trazido Lula (PT) para a eleição logo no início da campanha, apostou alto ao colar sua imagem à do ex-presidente e sentiu o efeito positivo disso nas urnas.

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“Prevejo uma disputa de narrativas entre o lulismo, pelo PT, e o Eduardismo, pelo PSB”, afirma o cientista político Alex Ribeiro, apontando que o confronto dessas correntes ideológicas pode ser um fator de dificuldade tanto para João quanto para Marília que terão que correr em busca do eleitorado de Mendonça e Patrícia, além dos indecisos, para faturar a eleição. “A rejeição ao PSB no Recife e o antipetismo que predomina no eleitorado conservador serão o principais desafios para os dois postulantes conseguirem almejar mais votos”, argumenta Ribeiro.

Na mesma linha, o cientista político Eli Ferreira lembra que há um desgaste natural do PSB por estar há muito tempo na prefeitura e uma forte rejeição ao PT entre os eleitores posicionados mais à direita. Diante desse cenário, ele aponta fatores que podem ser decisivos no segundo turno. “Quem tiver menor rejeição, tem uma boa vantagem e possibilidade ser eleito”, afirma o especialista, ressaltando que o segundo turno deve ser acirrado.

A tarefa, porém, de expandir a votação para eleitores mais à direita tende a ser hercúlea. Nesse domingo, mesmo antes do resultado final da apuração dos votos no Recife, a Delegada Patrícia (Podemos), quarto lugar na disputa, rechaçou a ideia de declarar apoio a um dos primos. "Eu mantenho minha coerência. Não subo em palanque nem do PSB e nem do PT. A gente tem que ver o que vai ser o resultado da apuração, mas de antemão, já adianto que PT e PSB não terão meu apoio nem hoje e nem nunca", afirmou.

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Mendonça Filho (DEM), por sua vez, na reta final da campanha, centrou seu discurso no voto útil para impedir a concretização do cenário hoje existente. Nas peças da propaganda, o democrata se apresentava como único capaz de tirar o PT do segundo turno para, enfim, vencer o PSB. “Com o tom que ele adotou nos últimos dias, dificilmente ele deve declarar apoio a qualquer dos candidatos”, avalia o professor da Unicap e cientista político Antonio Henrique Lucena.

“Ainda que Mendonça e Patrícia declarassem apoio a alguém, a imagem do PT e PSB perante o eleitorado é empecilho para que, por ora, inexistente apoio se estendesse a um dos dois candidatos que chegaram ao segundo turno”, diz Lucena.

Abstenção é desafio

Além da ausência de apoio dos agora ex-candidatos, a abstenção tende a ser um problema para João e Marília. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 1.157.324 pessoas estavam aptas para votar nesse domingo (15), mas apenas 927.167 compareceram às urnas. Uma ausência de quase 20% do eleitorado. “Provavelmente, deve haver uma abstenção ainda maior no segundo turno, devido à negação de boa parte do eleitorado conservador aos candidatos da esquerda ou da centro esquerda”, acredita Alex Ribeiro.

Para reverter essa rejeição e ocupar um lugar mais ao centro, João Campos voltou a subir o tom contra a prima-adversária e seu partido. Durante coletiva de imprensa após o resultado do primeiro turno, o socialista afirmou que “o Recife não pode retroceder” e “que as pessoas já conhecem o resultado das arengas do PT”. “Quando uma pessoa pode escolher entre o passado e o futuro, é claro que ela escolherá o futuro”, declarou o candidato do PSB, afirmando que o PT fez mal à cidade.

“A estratégia de João está clara desde o debate da TV Jornal, quando ele indiretamente associou o PT à corrupção. Campos vai tentar atrair eleitores que têm aversão ao PT para o seu palanque. Agora, fica a dúvida se poderá ajudar ou prejudicar ele. Isso porque, nacionalmente, ele tem uma linha de atuação bem mais à esquerda do que aquele que o eleitorado antipetista busca, além de correr o risco de perder apoios mais à esquerda que conseguiu na primeira etapa”, diz o professor de ciência política da Unicap José Alexandre.

Já Marília Arraes, considerou sua passagem ao segundo turno um recado aos que acham que "o Recife tem dono". Alfinetando a campanha de João, a petista disse que de nada adiantou colocar "um exército de comissionados na rua". “Foi muito simbólico o resultado, demos um recado a quem acha que o povo tem dono, quem acha que o povo esta à venda, quem manda é o povo do Recife, não adianta estrutura”, discursou ela.

“Marília intensificou nos últimos dias uma campanha na qual se apresentava com a verdadeira opositora do PSB. Isso parece ter sido assimilado no primeiro turno, mas não sei se vai ser tão eficaz no segundo, porque, certamente, o PSB vai mostrar momentos de Marília como aliada, inclusive de Geraldo Julio, e tentar colar nela a pecha de oportunista e não de real opositora”, aponta José Alexandre.

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