Com o deputado federal João Campos (PSB) eleito prefeito do Recife, a oposição ao PSB em Pernambuco começa a digerir o resultado das urnas e a se articular para fortalecer o palanque antagonista aos socialistas, que devem completar 16 anos à frente do Governo do Estado em 2022, e 12 no comando da capital em 2024. O primeiro movimento neste sentido ocorreu ainda no domingo (29), pouco tempo depois de Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concluir a apuração dos votos do segundo turno.
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Em um hotel no Centro do Recife, ao lado de tradicionais nomes de oposição ao PSB, como Anderson Ferreira (PL), prefeito de Jaboatão dos Guararapes; como o deputado federal Ricardo Teobaldo (Podemos); e o deputado estadual Wanderson Florêncio (PSC), a deputada federal Marília Arraes (PT), segunda colocada na corrida pela prefeitura recifense, afirmou que “uma nova articulação da oposição” iria começar no Estado.
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No discurso, após a Justiça Eleitoral declarar João Campos como vencedor, a petista, que recebeu 348.126 votos (43,73%), criticou o primo-adversário e defendeu o início de uma rearranjo das oposições em Pernambuco. “É importante aqui deixar marcado que vai começar uma nova articulação da oposição no Estado de Pernambuco”, declarou.
O aceno de Marília, porém, foi recebido com cautela por membros da oposição que estão ideologicamente mais ao centro ou à direita. Um deles é o deputado federal Daniel Coelho (Cidadania). Para o parlamentar, ainda é cedo para apontar como estará o bloco oposicionista na disputa pelo Palácio do Campo das Princesas em 2022, mas garantiu que não subirá no mesmo palanque que Marília, se ela permanecer no PT. Segundo Coelho, se o PT se unir ao grupo de oposição, será preciso que haja mais de uma candidatura de oposição.
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"Eu não vou estar em um palanque com o PT, mas a gente sequer sabe se Marília vai estar no PT. Tem muita coisa para acontecer ainda. Se ela continuar lá, estaremos separados. No entanto, não deixarei de estar na oposição ao PSB em Pernambuco", disse o deputado. "Marília, certamente, terá um papel relevante em 2022, mas se houver um palanque do PT, sem dúvidas, haverá outro palanque, o que não é problema nenhum. Mas se ela estiver em outro partido, teremos uma relação diferente", completou.
Terceiro lugar na disputa na capital, o ex-ministro Mendonça Filho (DEM) também rechaçou a ideia de dividir palanque com o Partido dos Trabalhadores na tentativa de derrotar o PSB. “Eu sempre estive num palanque distinto do PT e contra o PSB. É onde vou me manter”, afirmou o democrata, ignorando o apoio dado aos socialistas em 2014.
“Eu acredito que o PT estará na oposição, mas não do nosso lado. Isso porque o partido tem um projeto nacional capitaneado pelo ex-presidente Lula, que não deve ser candidato, mas certamente indicará algum nome como [Fernando] Haddad ou [Guilherme] Boulos, numa possível aliança com o Psol. Ou seja, isso não deve caber num palanque de centro-direita, como o que eu representei nas eleições deste ano”, disse Mendonça.
Há, no entanto, quem receba a intenção de Marília em reorganizar a oposição em Pernambuco com mais entusiasmo. É o caso do novo líder da oposição na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), Antônio Coelho (DEM). Por ser filho do líder do governo Bolsonaro no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB), uma das lideranças da oposição no Estado, aliados do senador afirmam, nos bastidores, que essa seria a posição do emedebista. “Quero respeitar o tempo do PT, que vai fazer as suas avaliações internas e tomar as suas decisões. [Garanto que,] como líder da oposição, as portas estão abertas para fazer oposição ao governo que está aí. O PT seria bem-vindo”, afirmou o deputado Antonio Coelho em entrevista ao Blog de Jamildo.
Se a possível chegada do PT ao bloco de oposição gera divergências entre suas principais lideranças, o fortalecimento do grupo nas eleições municipais é consenso entre os oposicionistas. Para eles, embora o PSB tenha conseguido vencer a disputa no Recife, o mapa eleitoral traçado após o fechamento das urnas é de saldo negativo para os aliados do Palácio do Campo das Princesas.
“A oposição sai fortalecida, vencemos em cidades importantes no Estado, como Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho, Olinda, Paulista, Petrolina, Caruaru, Araripina, entre outras. O desejo de mudança foi muito nítido com o cansaço em relação à gestão do PSB”, disse o líder da oposição na Alepe, Antônio Coelho.
“Nós [da oposição] crescemos muito no interior e conquistamos cidades importantes, que estavam na base do governo, como Belo Jardim e Bezerros. Mantivemos cidades estratégicas como Caruaru, com Raquel Lyra; Petrolina, com Miguel Coelho; e Jaboatão, com Anderson [Ferreira]. Houve, claro, algumas deflexões como Garanhuns e Santa Cruz do Capibaribe, mas temos uma base no interior muito forte para o processo eleitoral de 2022”, acredita Mendonça Filho.
"O mapa do Estado agora conta com mais oposicionistas e independentes. O PSB perdeu em cidades-chave do interior e da Região Metropolitana do Recife, apenas a capital foi o ponto fora da curva", pontuou Daniel Coelho, que é presidente estadual do Cidadania.
Por isso, ele defende a apresentação de, pelo menos, duas candidaturas de oposição ao governo de Pernambuco. Na avaliação do parlamentar, se houver duas chapas robustas de oposição, é possível que em 2022, o grupo force um segundo turno, diferente da última disputa. "Em 2018, o palanque único da oposição dificultou nossa vida. Por isso acredito que, talvez, seja mais que necessário, pelo menos, dois palanques na oposição", argumentou. Há dois ano Paulo Câmara foi reeleito governador de Pernambuco ainda no primeiro turno, com 50,70% (1.918.219 votos válidos).
Mendonça, que preside o DEM em Pernambuco, todavia, pede calma para avaliar o melhor cenário para o bloco de oposição. “É muito cedo para você traçar essa estratégia, até porque não conseguimos unidade agora nas eleições na capital. Sequer nos reunimos para avaliar os resultados desse pleito ainda. Então, precisamos, primeiro, sentar e avaliar nossa participação nas disputas municipais.”