São diversos os caminhos que levam cidadãos à política: influência familiar, ativismo, luta sindical, entre outros. Na Câmara Municipal do Recife não é diferente. Os vereadores eleitos na eleição de 2020 que cumprirão mandato entre 2021 e 2024 - tem histórico profissional e representam segmentos diversos da sociedade, mas sobretudo a classe dos servidores públicos. O índice de renovação da Casa José Mariano é de 46,15% - 21 vereadores foram reeleitos e 18 irão para o primeiro mandato - um pouco superior ao da eleição de 2016, cujo percentual foi de 43%.
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Dos 39 vereadores do Recife, quase 40% são funcionários públicos de diferentes esferas, seja municipal, como a professora Ana Lúcia (Republicanos), que é concursada da Prefeitura do Recife; estadual, como Renato Antunes (PSC) e Chico Kiko (PP), que são do Estado; e federal, caso da professora da UFPE Liana Cirne (PT) e Joselito Ferreira (PSB), que é metroviário.
No em seu primeiro mandato, o vereador Professor Mirinho (SD) é presidente do Sindicatos dos Guardas Civis Municipais do Recife e falou ao JC sobre a relação entre a servidão pública e a ocupação de espaços políticos. "Fui ser presidente do sindicato porque os guardas tinham confiança em mim. Isso foi uma faísca que acendeu para que a gente tentasse pela segunda vez a Câmara de Vereadores. Como eu cheguei hoje eu quero sim representar a guarda municipal", afirmou.
Mirinho alia a atividade na guarda a um trabalho social por meio da Associação Anjos, que atua com crianças, jovens e adultos na prevenção e combate ao uso de drogas através do esporte, antes mesmo de ingressar na Guarda Municipal. "Eu vi que a longo prazo tanto esporte como educação mudam o mundo. Acredito que quanto menos jovens ingressarem no mundo do crime menos trabalho o profissional de segurança vai ter", resumiu o vereador.
Muitos dos 'vereadores servidores' também se destacaram pela luta sindical. Osmar Ricardo, por exemplo, é servidor público municipal da URB e presidente do Sindicato dos Servidores Municipais do Recife (Sindsepre). Já o Doutor Tadeu Calheiros (Podemos) - que cumprirá seu primeiro mandato na Câmara do Recife - foi presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe).
A Força Sindical, inclusive, é representada na Câmara pelo vereador Rinaldo Júnior (PSB), que é presidente do grupo. "A gente enxerga com muita felicidade que o movimento sindical está participando cada vez mais das lutas partidárias, das eleições. O movimento sindical demorou muito para participar do parlamento.
Com o aumento no número de sindicalistas na Câmara do Recife, você tem um aumento na representatividade da defesa do trabalhador. Claro que outros vereadores defendem o trabalhador, mas nós defendemos, também, o movimento sindical. Vejo com felicidade, mas precisamos ocupar mais espaços, pois o sindicalista no Parlamento é sinal de que o interesse dos trabalhadores está representado. Estamos no parlamento para que a luta vire lei", afirmou o socialista, que além de presidir a Força Sindical, está à frente do Sindicato dos Trabalhadores em Condomínios (SIEEC).
A bancada evangélica segue forte na Câmara, mas com algumas novas representações. Na eleição de 2016, os três vereadores mais votados eram ligados ao eleitorado evangélico: Michele Collins (PP), Irmã Aimée (PSB) e Fred Ferreira (PSC). Em 2020, o segmento evangélico perdeu poder de um lado - Aimée não conseguiu se reeleger e Michelle teve menos da metade da votação anterior - mas ganhou de outro, com o Pastor Júnior Tércio (Podemos), e manteve outros nomes como Renato Antunes (PSC) e Luiz Eustáquio (PSB). Vereador de primeiro mandato e fundador da Comunidade Católica Santo Angelus, Felipe Alecrim (PSC) passará a integrar essa bancada que deixará de ser apenas evangélica para ter um alcance mais amplo entre os cristãos.
"Eu fui eleito exatamente com esse propósito, com o envolvimento dos cristãos católicos, que entenderam a necessidade da gente ingressar na política. Um dos nossos primeiros objetivos é dar voz aos cristãos católicos na política. A gente quer legislar em favor da vida, da família, dos valores cristãos. Eu tenho uma atuação muito forte na ação social com pessoas em situação de vulnerabilidade, que envolve pessoas em comunidades, em situação de rua", afirma Alecrim.
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Ativismo
Uma outra forma de engajamento político é a participação em movimentos populares exercendo as mais diversas formas de ativismo, seja por direitos urbanos, direitos humanos, feminismo, entre outros. Esse ativismo costuma evoluir para uma necessidade de participar mais ativamente dos espaços de poder e de tomada de decisões.
Representando este caminho, a Câmara do Recife possui nomes como Dani Portela (PSOL), vereadora com a maior votação na capital - 14.114 votos -, Ivan Moraes (PSOL), reeleito para o segundo mandato, e Liana Cirne (PT), que vê com bons olhos a eleição de nomes não tradicionais.
"Vejo com esperança (a eleição de ativistas), por não termos sobrenomes que parecem se perpetuar na política, como se política fizesse parte de um inventário de família. Não só pelos resultados eleitorais, mas nas suplências, vemos um crescimento considerável de pessoas que, embora engajadas, antes, não buscavam lugar institucional. Creio que essa eleição foi um marco, em várias capitais, incluindo Recife, os mais votados eram mulheres e homens negros. Há mudança de percepção social, do que são os espaços institucionais. E as pessoas enxergam que os voto podem ser em pessoas que constroem política no cotidiano, de movimentos periféricos, movimentos negros, movimento feminista, de cicloativismo. Mesmo que o crescimento seja ainda tímido, vejo que estamos fazendo uma fissura, que não é institucional, pois somos minoria ainda, essa fissura é simbólica. Da simbologia do que representa os espaços e para quem são feitos", disse Liana.
Por mais que Liana destaque a votação de pessoas negras, a Câmara do Recife ainda é formada, em sua maioria, por homens e brancos. Dos 39 vereadores, quatro se declararam pretos ao TSE, oito se declararam pardos e 27 são brancos. Além disso, são sete mulheres e 32 homens. De todos os candidatos a vereador do Recife, a maioria era declarada parda, 424 candidatos. Além disso, 333 são brancos, 127 pretos e 2 indígenas.
Influência familiar
A bancada da legislatura que se inicia Casa de José Mariano conta com nomes tradicionais, que já foram ouvidos em outras gerações. O vereador Alcides Teixeira Neto (PSB), por exemplo, teve outros parentes na Câmara, como seu avô, Alcides Teixeira Narreiros, seu pai, Walmir Teixeira, assim como seus tios Alcir Teixeira e Edmar de Oliveira.
Em entrevista ao JC, Alcides não nega que o fato de ser neto de um ex-vereador abriu portas para ele, mas diz buscar construir sua própria trajetória, carregando o legado legado do avô, o que o incentivou a entrar para a política. Ele inclusive, não chegou a conhecê-lo pessoalmente. Alcides Neto se candidatou pela primeira vez a vereador na eleição de 2016 depois de 43 anos do seu falecimento.
"Quando eu me apresentava para as pessoas que eu conhecia, como Alcides Teixeira Neto, diziam 'seu avô foi um homem muito bom, morreu muito pobre' e isso me ensinou que daqui eu não vou levar nada. A história política minha é de muitos anos, diferente dos outros. No meu caso foi a história do meu avô que me ajudou para poder eu fazer a minha história", afirmou.
Outros parlamentares filhos de ex-vereadores do Recife são: Eriberto Rafael (PP), filho do presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, Eriberto Medeiros (PP); Natália de Menudo, filha do ex-vereador Estéfano Menudo, Marco Aurélio Filho, filho do deputado estadual Marco Aurélio Medeiros e Felipe Francismar (PSB), filho do deputado estadual Francismar Pontes.
Eles não são os únicos que possuem parentesco com políticos da Alepe. Andreza Romero é casada com Romero Albuquerque (PP), o Pastor Júnior Tércio (Podemos) é casado com a deputada Clarissa Tércio e a vereadora Michele Collins (PP) é casada com o deputado Pastor Cleiton Collins. Já o vereador Fred Ferreira (PSC) é genro do deputado Manoel Ferreira (PSC) e o vereador Fabiano Ferraz (Avante) é primo do deputado Fabrizio Ferraz (PP).
Veja algumas curiosidades sobre os vereadores do Recife
Naturalidade
Mesmo com atuação na capital pernambucana, nem todos os parlamentares são naturais do Recife:
Professora Ana Lúcia - Maragogi (AL); Aderaldo Pinto - Caruaru (PE), Cida Pedrosa - Bodocó (PE); Fabiano Ferraz- Floresta (PE); Pastor Júnior Tércio - Macaparana (PE); Liana Cirne - Porto Alegre (RS); Michele Collins - Belo Horizonte (MG); Wilton Brito - Pedra (PE).
Escolaridade
Segundo o TSE, dos 39 vereadores, 24 possuem ensino superior completo. E as formações são diversas: Administração, Biomedicina, Direito, Jornalismo, Medicina e Pedagogia, entre outras.
Idade
Dos 39 vereadores, dois nasceram na década de 50, onze na década de 60, mais onze na década de 70, doze na década de 80 e três vereadores nos anos 90. Com destaque para Wilton Brito, que é o mais velho da Casa, ele completa 63 anos em 2020. Andreza Romero é a mais jovem, nascida em 1995, ela chegará aos 26 anos em novembro.
Experiente
Quando Andreza Romero nasceu, em 1995, Eduardo Marques já era vereador. Ele é o parlamentar com mais mandatos na atual legislatura e cumpre, agora, o 8º mandato seguido. Seu primeiro ano de vereança foi em 1993. São 28 anos na Casa de José Mariano.
Futebol
Um dos vereadores do Recife já foi jogador profissional de futebol. Almir Fernando jogou e ganhou títulos na década de 80 pelo Santa Cruz. No ano de 1990, foi campeão e, por motivos de saúde, afastou-se do futebol.