Sob pressão por cargos, Paulo recebe Eduardo da Fonte para reunião

A reunião, que ocorrerá na tarde desta terça-feira (11), no Palácio do Campo das Princesas, poderá definir o posicionamento do PP com relação ao seu apoio tanto na esfera estadual quanto na municipal
Mirella Araújo
Publicado em 11/01/2021 às 21:19
ANALISANDO Eduardo da Fonte disse que o PP irá decidir quem apoiar, mas tem conversado com o Solidariedade Foto: BETO OLIVEIRA/DIVULGAÇÃO


O governador Paulo Câmara (PSB) e o presidente estadual do PP, o deputado federal Eduardo Fonte, se reúnem no Palácio do Campo das Princesas, nesta terça-feira (12). À mesa, está a negociação dos espaços que o Partido Progressista tem almejado não só no âmbito estadual, com a secretária de Desenvolvimento Agrário - atualmente comandada por Dilson Peixoto, do PT -, mas na esfera municipal também.

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A Secretaria de Habitação do Recife, que tem como titular Maria Eduarda Medicis, não teria sido recebida com satisfação pelo partido, que estava de olho na pasta de Saneamento e foi destinada a cota do Republicanos, partido presidido pelo deputado federal Sílvio Costa Filho, que indicou a engenheira civil Érika Moura. Há uma semana, Eduardo da Fonte declarou publicamente que “a forma como o partido foi tratado “não foi como aliado” e “o partido foi usado” para eleger João Campos (PSB).

Líder do PP na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), o deputado estadual Clóvis Paiva, afirmou estar “admirado por tudo isso que está acontecendo”. “O PP foi o primeiro a declarar apoio ao prefeito João Campos, mas acredito que tudo isso será resolvido”, pontuou. O governador já havia declarado que trataria dos "ajustes necessários" na administração do Estado, neste mês de janeiro. 

Apesar dessa fidelidade ser ressaltada pelos progressistas, há no PSB quem tenha observado que ela não se manteve como esperado, principalmente no segundo turno da disputa no Recife, quando João Campos concorreu com a deputada federal Marília Arraes (PT), inclusive, candidatos a vereança do PP chegaram a declarar apoio a petista, acreditando que ela conseguiria reverter o resultado final.

Além do PP, o Avante também se soma ao grupo de aliados da Frente Popular, que estariam insatisfeitos com os espaços dados na gestão do prefeito João Campos, iniciada há apenas 11 dias. O presidente municipal do partido, Rodolfo Albuquerque, divulgou uma nota nesta segunda-feira (11) relembrando que o grupo do qual faz parte e é liderado pelo deputado federal Sebastião Oliveira e pelo presidente estadual da sigla Waldemar de Oliveira, “são aliados de primeira hora da Frente Popular”.

“Numa caminhada iniciada em 2006, há 14 anos, colaboramos de forma decisiva com a montagem da unidade que elegeria Eduardo Campos ao Governo de Pernambuco, dando início a uma das mais duradouras hegemonias políticas da nossa história”, afirmou o dirigente, em comunicado publicado no Blog de Edmar Lyra. 

Ainda de acordo com Rodolfo Albuquerque, essa insatisfação já teria sido iniciada no segundo mandato do governador Paulo Câmara, quando a sigla teve espaços reduzidos na gestão. ”Sebastião, Waldemar e todos nós do grupo do Avante jamais faltamos ou faltaremos a Pernambuco e ao Recife, mas, em certos momentos, é humilhante enxergar os espaços que nos são direcionados, especialmente em âmbito estadual”, declarou na nota. O presidente do PP no Recife foi procurado pela reportagem do JC, mas afirmou que não irá se pronunciar a respeito deste assunto. A assessoria de Comunicação do Avante, também afirmou que o partido não emitirá nenhum posicionamento.

Nos bastidores, socialistas têm visto com legitimidade a cobrança de aliados, por espaços mais robustos dentro das gestões, no entanto, a forma como isso tem sido conduzido, têm gerado diversas críticas e desgastes. Primeiro porque, no caso de João Campos, ainda há espaços a serem definidos no segundo e terceiro escalão, que também podem ter um peso significativo para os partidos. A segunda questão é que o próprio governador Paulo Câmara afirmou que dedicaria o mês de janeiro para fazer “ajustes necessários” na administração estadual.

“Acredito que esta seja uma forma de testar João Campos, como se fosse uma pessoa jovem que não tivesse a capacidade de tomar rumos, do ponto de vista de gestão. Só que estamos vendo o contrário disso, ele tem tido uma postura muito correta, cumpriu sua promessa sobre a paridade de gênero. Ele é uma figura nova, mas tem uma história que não pode ser subestimada”, declarou um socialista, em reserva.

No entanto essas pressões também têm sido vistas pelo PSB, com certas limitações em seus efeitos. “Sobretudo porque é preciso estabelecer um processo de negociação, uma construção, a gestão tem menos de 30 dias, cargos ainda estão sendo oficializados”, pontua o socialista.

CONTA

Há 11 dias à frente da Prefeitura do Recife, o prefeito João Campos já começa a receber a conta do resultado obtido nas urnas e que garantiram sua eleição. Especialistas consultados pelo JC, concordam que há uma precipitação destes partidos aliados e que compõe a Frente Popular, em cobrar cargos e espaços na gestão municipal

“João Campos não tem seguido nomes que atenderiam um caráter mais político, o que é uma marca da gestão do PSB e tem sido uma tentativa de imprimir um novo momento. Mas, os partidos sabem que o PSB faz questão de não separar as duas gestões, então é inevitável que os aliados visualizam a possibilidade de espaços no Estado e na capital para essa negociação política”, avalia a cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), Priscila Lapa.

Para o cientista político e professor da Asces/Unita, Vanuccio Pimentel, seria necessário compreender que tipo de estratégia o prefeito do Recife está adotando, mediante a estas cobranças e o que tem sido negociado. “Essa estratégia não está muito clara, se todos os aliados vão participar do municipal, ou se parte será abarcada pelo Governo do Estado. É normal que haja insatisfação, o que não é normal é que ele seja tão público como tem ocorrido”, afirma o docente.

No decorrer dos anúncios que ainda serão feitos, também será possível dimensionar o nível de desgaste que os socialistas podem estar enfrentando e o que isso poderá implicar em 2022, já que existe uma perpetuação na posição de protagonista, desde 2006, na eleição para o Governo do Estado, e de 2012, na disputa pela Prefeitura do Recife.

"Mesmo vencendo as duas eleições (2018 e 2020), o partido teve perdas políticas significativas e que ainda podem fortalecer a oposição. Quando há uma economia de maior pujança, com dinheiro para fazer investimentos, conseguir aliança é mais fácil. No cenário de dificuldade econômica, que se estenderá em 2021, será mais fácil perder aliados e não conseguir fazer as alocações que se espera”, comenta Priscila Lapa.

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