100 dias de João

Em tempos de pandemia, grandes ações urbanísticas ficam em segundo plano no Recife

Com recursos públicos direcionados ao combate da covid-19, ações voltadas aos espaços urbanos da cidade têm se concentrado em serviços de manutenção e prevenção, com apenas algumas exceções, como o Parque das Graças e a Ação Inverno 2021

Cadastrado por

Renata Monteiro

Publicado em 10/04/2021 às 11:32 | Atualizado em 12/04/2021 às 13:29
O abandono do Centro do Recife é um processo que vem acontecendo há décadas - TIÃO SIQUEIRA/JC IMAGEM

Em uma cidade grande e populosa como o Recife, os cuidados com o espaço urbano e com a habitação são um desafio para quem se propõe a administrar o Executivo municipal. Em um contexto de pandemia, onde os recursos públicos são escassos e a prioridade da gestão está na vacinação da população e nas medidas de combate ao avanço da doença, os desafios nesta área ganham ainda mais destaque.

“Ao analisarmos este início de mandato, nós precisamos nos lembrar que, em 2021, a gente tem um cenário muito particular. Com a pandemia e a consequente diminuição da renda das pessoas, que acabam impactando na arrecadação de impostos, a situação é muito adversa para os primeiros 100 dias do prefeito. Toda a concentração de recursos, a canalização da atenção dos gestores, foi direcionada para a saúde. Portanto, neste momento é muito difícil avaliar completamente essa gestão, já que todas as demais entregas estão em segundo plano”, observou o cientista político Vanuccio Pimentel, da Asces/Unita.

De acordo com a administração municipal, várias intervenções urbanísticas foram realizadas no Recife desde janeiro, com destaque para o investimento em obras estruturantes. “Apenas na Ação Inverno 2021 estão sendo investidos R$ 96 milhões em obras e ações que incluem contenção de encostas, limpeza de canais e eliminação de pontos de alagamento na cidade. Destes investimentos, mais de R$ 50 milhões são destinados à construção de 37 encostas que irão beneficiar um total de 36 mil pessoas de cerca de 900 famílias. Importantes obras de microdrenagem também têm sido realizadas, com retirada de 5.417 toneladas de resíduos retirados de 372 vias”, afirmou a prefeitura, através de nota.

>> Confira análise de candidatos derrotados sobre os 100 primeiros dias de gestão de João Campos (PSB) no Recife

>> ''Brasil não pode parar a imunização'', diz João Campos sobre suspensão de envase da CoronaVac

>> Operação Inverno: Recife investe R$ 96,6 milhões para diminuir impactos no período de chuva

>> Uma legião à espera de morada digna no Grande Recife

A gestão também menciona ações nas áreas de zeladoria, com serviços de “recapeamento asfáltico, pavimentação em asfalto e paralelepípedos, além de terraplenagem em vias de leito natural” que beneficiaram 95 ruas da capital. Há trabalhos da administração realizados também dentro da operação tapa-buracos e a substituição de “5.637 luminárias por equipamentos novos com tecnologia LED em 445 vias distribuídas por 50 bairros e investimentos da ordem de R$ 4,5 milhões”.

 

Pichação na Avenida Guararapes no bairro da Boa Vista, Centro do Recife - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
PATRIMÔNIO A Ponte Santa Isabel, uma das principais construídas sobre o rio Capibaribe, na área central da capital pernambucana, é um dos alvos frequentes das pichações, até mesmo à luz do dia - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
O Recife nunca esteve tão sujo. Bairros do Centro da capital, da Zona Sul, Oeste e Norte. Todos têm pichações. Muitas, sem dúvida, não são de agora, mas percebe-se um aumento da quantidade de imóveis, espaços e equipamentos urbanos rabiscados. Públicos e privados - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
A reportagem do Jornal do Commercio flagrou várias pichações ao longo da avenida - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
A reportagem do Jornal do Commercio flagrou várias pichações ao longo da avenida - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
A reportagem do Jornal do Commercio flagrou várias pichações ao longo da avenida - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
A reportagem do Jornal do Commercio flagrou várias pichações ao longo da avenida - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM

Segundo dados da PCR, o déficit habitacional do Recife gira em torno de 70 mil moradias. No comunicado encaminhado ao JC na última semana, a prefeitura conta que, hoje, toca quatro obras nesta área que irão, juntas, oferecer 1.528 imóveis à população. Todas essas obras, porém, foram herdadas de gestões anteriores.

Presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (CAU-PE), Rafael Amaral Tenório afirma que o setor compreende que o momento sanitário que o País está atravessando acaba impactando a área da habitação, e diz que, nesses 100 dias de novo governo no Recife, a entidade tem conseguido ao menos traçar projetos para o pós-pandemia em parceria com o Executivo. “O mais importante para este momento está sendo feito, que é a construção de um olhar voltado para o Centro do Recife. Este é um debate que está extremamente aquecido, não só pelo mote da cidade que queremos, com os centros mais ocupados, mas também pela questão social, porque uma das linhas de ocupação desse centro é a Prefeitura do Recife parar de fazer projetos populares na periferia e trazer isso para essa região. E nesses três meses a gente tem tido encontros com a Secretaria de Habitação no intuito de construir parcerias e lançar inclusive concursos de projetos para requalificar aquela área”, detalhou Tenório.

Outra ação que tem recebido grande destaque da gestão é o Parque das Graças, que integra o projeto Parque Capibaribe. O anúncio das obras deste equipamento, localizado entre as pontes da Torre e da Capunga, foi feito no dia 12 março, aniversário do Recife, mas tem acumulado críticas de moradores da região e de políticos de oposição, que condenam a retirada de parte da vegetação do local durante os serviços. Na última sexta-feira (9), inclusive, o deputado federal Túlio Gadêlha (PDT) solicitou ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE) a investigação de possíveis irregularidades ambientais na construção.

Sobre o tema, a Autarquia de Urbanização do Recife (URB) afirmou que o Parque das Graças “prevê o plantio de 551 árvores na área do equipamento, quantidade cinco vezes maior que o número de supressão (99)” e que esta reposição será feita com “espécies similares com altura mínima de 2,20 m e que receberão acompanhamento e manutenção ao longo dos 12 meses subsequentes ao plantio”. O órgão também diz que, no caso da vegetação de mangue, “a reposição das espécies acontecerá por meio da regeneração natural”.

Presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco (Crea-PE), Adriano Lucena diz que, diante do quadro atual, as ações que vem sendo desenvolvidas pela atual gestão do Recife são satisfatórias, mas aconselha o prefeito a considerar algumas questões que, no passado, foram deixadas em segundo plano pelos seus antecessores. "Eu deixo como sugestão para o prefeito que a gente tenha uma cultura de manutenção da cidade. A gente faz obras como a Via Mangue, por exemplo, e com pouco tempo a gente vê todo o investimento indo embora. Quando não há manutenção, a vida útil daquela obra é reduzida significativamente", declarou o engenheiro.

Tags

Autor

Veja também

Webstories

últimas

VER MAIS