Presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann afirmou, nesta terça-feira (1º), que a ação da Polícia Militar de Pernambuco durante o protesto contra o presidente Jair Bolsonaro no Recife não vai interferir nas negociações do seu partido com o PSB do governador Paulo Câmara com vistas à eleição de 2022. Por conta do ataque da PM aos manifestantes, dois homens atingidos por balas de borracha no rosto perderam a visão e a vereadora petista Liana Cirne precisou receber atendimento médico após ser atingida por um jato de spray de pimenta.
"A truculência foi da polícia e há que se apurar quem deu a ordem (para a polícia avançar sobre os manifestantes). A PM é uma organização que tem hierarquia, disciplina e comando. Se o pessoal que estava lá agiu daquela forma, alguém ordenou e pelo que eu vi não foi o governador, até porque logo depois do incidente ele se manifestou e afastou os policiais responsáveis. Também vi que a vice-governadora disse que a ordem não partiu do governo. Foi importante a ação do governador de afastar (os envolvidos) e abrir um inquérito", afirmou Gleisi durante entrevista à Rádio Clube.
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A deputada afirmou que não acredita que todos os policiais têm atitudes reprováveis, mas frisou que o caso do Recife não é um fato isolado. Ela mencionou, inclusive, a prisão de Arquidones Bites Leão, secretário estadual do PT em Goiás, que foi preso na última segunda-feira (31) após se recusar a tirar uma faixa com a mensagem "Fora Bolsonaro Genocida" do capô do seu carro.
"Eu acho que essas ações depõem contra a corporação da PM. Nós temos policiais respeitados, nós temos policiais que são trabalhadores, mas tem gente ali dentro que incita esse tipo de comportamento para a violência. Ontem nós tivemos um episódio no Estado de Goiás que é triste e bizarro. Prenderam um militante nosso, um professor que militava com uma faixa 'Bolsonaro Genocida'. A PM viu, deu voz de prisão, levou para a delegacia civil e o delegado não quis abrir inquérito. Levou para a Polícia Federal e lá também disseram que não havia base para a abertura de um inquérito com a Lei de Segurança Nacional. E só aí o soltaram. É uma coisa absurda", avaliou.
Dando continuidade à sua explanação sobre o caso, Gleisi mostrou-se preocupada com o tipo de ação militar visto no Recife na última semana e comparou o momento atual com as gestões dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, ambos do PT. "Eu fico pensando na época em que nós governávamos, que teve o impeachment contra a Dilma, toda a perseguição do Lula, os absurdos que falavam, a gente enfrentava na política, tentava desconstruir, jamais usamos meios truculentos para isso. Agora as pessoas não podem se manifestar. Essa situação da PM é muito grave e não é só do Estado de Pernambuco. É muito importante saber de quem emanou essa ordem ou se esses policiais agiram por conta própria, e aí é muito perigoso, porque quem tem armas não pode ter ação política, quem tem armas tem que ter hierarquia e disciplina", pontuou a parlamentar.
Deixando claro que as definições do PT sobre 2022 para os Estados estão completamente ligadas ao projeto nacional do partido, que é a prioridade do grupo, Gleisi ressaltou as afinidades que existem entre socialistas e petistas e disse que a legenda está aberta para o diálogo com todos os partidos de viés progressista. "Nós não conversamos ainda sobre as alianças eleitorais, estratégia política e tática eleitoral. Isso é uma coisa que nós vamos fazer no segundo semestre, ouvir os Estados, conversar, e, obviamente, o que vai nos guiar em termos de alianças é o projeto nacional. O que muda a vida do povo é um projeto de transformação do País. No plano nacional nós temos uma boa relação com o PSB, na Câmara nós temos votado várias matérias em conjunto, estamos na luta pelo impeachment em conjunto, somos oposição ao governo e eu acho que isso é muito importante. PSB, PCdoB, PSOL, e até mesmo com o PDT, que tem outra via de candidatura presidencial, nós temos conseguido fazer uma boa articulação de oposição. Mas eu sei que nós temos que discutir essa relação nos Estados. Eu sei que em Pernambuco a eleição municipal deixou muitas cicatrizes, foi uma eleição dura, não foi fácil esse enfrentamento, mas sei também que a gente tem capacidade de conversar, vendo um projeto maior, olhando pra frente e tendo como meta derrotar a extrema direita no Brasil", observou.
Sobre a possibilidade de lançamento de uma candidatura própria em Pernambuco caso a aliança com o PSB não se consolide, Gleisi Hoffmann afirmou que o partido, apesar de considerar esse cenário, ainda não decidiu quem seria o seu representante nas urnas, se o senador Humberto Costa ou a deputada federal Marília Arraes. "São dois nomes bons, testados eleitoralmente, Humberto tem se destacado muito na CPI da Covid, é senador, está em meio de mandato, portanto não teria nenhum prejuízo em participar de uma disputa eleitoral, eu acho que tem força para isso. A Marília é deputada federal, foi a nossa candidata a prefeita, sempre pontua bem nas pesquisas, mas ela tem também a possibilidade de ser candidata a deputada de novo e puxar uma chapa, já que teve uma eleição expressiva junto com outros companheiros. Isso porque uma das estratégias do partido para 2022 é fazer uma forte bancada, porque é importante, se vencermos a eleição, termos influência no Parlamento, e se estivermos na oposição, para termos força", cravou a deputada federal.