Violência policial

Boulos atribui postura da PM em protesto no Recife à influência de grupos bolsonaristas na corporação

Coordenador do MTST e ex-candidato à Prefeitura de São Paulo está no Recife nesta sexta-feira (4) para participar de inauguração de Cozinha Solidária e ato no Palácio da Justiça para cobrar respostas sobre ação da PM no protesto contra Bolsonaro no final de semana passado

Cadastrado por

Luisa Farias

Publicado em 04/06/2021 às 13:35 | Atualizado em 16/06/2021 às 8:56
Guilherme Boulos no ato "Quem deu a Ordem" na manhã desta sexta-feira (4) em Frente ao Palácio da Justiça, bairro de Santo Antônio, no Recife - Mayara Santana/Equipe do vereador Ivan Moraes

O coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e ex-candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos desembarcou no Recife nesta sexta-feira (4) para a inauguração da Cozinha Solidária Santa Luzia no bairro da Torre, Zona Oeste do Recife. Aproveitou para participar também do ato "Quem deu a Ordem?" na manhã desta sexta (4), em frente ao Palácio da Justiça, no bairro de Santo Antônio, para cobrar respostas ao Governo de Pernambuco sobre a ação violenta da Polícia Militar contra manifestantes que participavam do ato contra Bolsonaro no último sábado (29) no Centro do Recife.

Ele estava acompanhado pela vereadora do Recife Dani Portela (Psol) e por integrantes do mandato coletivo das Juntas (Psol) na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). No ato, membros de movimentos sociais utilizavam tampões no olho, fazendo referência ao disparo de balas de borracha nos olhos de duas pessoas que sequer participavam da manifestação. Os dois perderam parcialmente a visão. 

Em entrevista ao JC, Guilherme Boulos disse ter acompanhado com "muita indignação" a violência cometida pelos policiais na capital pernambucana e cobrou a responsabilização dos envolvidos na operação. O Batalhão de Choque da Polícia Militar utilizou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar os manifestantes.

"Acompanhei a distância com muita indignação a violência cometida por policiais aqui do estado de Pernambuco, de pronto, convidado pelos movimentos sociais também decidi ir lá para reforçar minha solidariedade e a necessidade que se faça justiça", afirmou o psolista. 

A vereadora do Recife, Liana Cirne (PT), foi agredida com spray de pimenta na Ponte Princesa Isabel por um policial que estava no banco de trás de uma viatura da Radiopatrulha. No local havia um bloqueio de viaturas e ela afirma que tentava dialogar com eles. 

Grupos Bolsonaristas

Boulos atribuiu à influência de grupos bolsonaristas na Polícia Militar na postura adotada pelos policias. "Até onde eu tenho notícia, a única capital brasileira onde teve atos de violência e repressão foi justamente aqui em Recife. Mais uma vez lamento a postura inaceitável de policiais militares e pelo que eu tenho visto foi uma postura tanto pela demissão depois do comandante da polícia e das próprias declarações do governador, foi uma postura que tem a ver com grupos bolsonaristas na Polícia Militar", disse. 

Em entrevista à Rádio Jornal na última segunda-feira (31), o secretário de Justiça e Direitos Humanos em Pernambuco, Pedro Eurico, disse não acreditar que haja um movimento dessa natureza dentro da PM. 

O psolista cobrou ainda o esclarecimento do ocorrido. Até o momento, não se sabe quem deu a ordem para a ação da PM. Já foram sete membros da Polícia Militar afastados, entre eles o comandante da operação, outros dois oficiais e quatro soldados. Os seus nomes foram divulgados. 

O então comandante da Polícia Militar, Vanildo Maranhão, pediu exoneração do cargo e o governador Paulo Câmara (PSB) aceitou. O seu substituto, José Roberto de Santana assumiu o cargo na manhã desta sexta (4). O subcomandante também foi substituído. 

"Agora, até para que isso não se repita é essencial que isso seja esclarecido, que todos os responsáveis sejam punidos e a sociedade saiba quem é que deu a ordem para aquela repressão brutal que aconteceu no último sábado", apontou Boulos. 

Ato "Quem deu a Ordem" na manhã desta sexta-feira (4) em Frente ao Palácio da Justiça, bairro de Santo Antônio, no Recife - Mayara Santana/Equipe do vereador Ivan Moraes
PROTESTO Com faixas, ontem, entidades cobraram respostas do Estado em frente ao Palácio da Justiça - Mayara Santana/Equipe do vereador Ivan Moraes
Ato "Quem deu a Ordem" na manhã desta sexta-feira (4) em Frente ao Palácio da Justiça, bairro de Santo Antônio, no Recife - Mayara Santana/Equipe do vereador Ivan Moraes
BOULOS Esquerdista atribuiu violência à presença do bolsonarismo na PM - MAYARA SANTANA/EQUIPE DO VEREADOR IVAN MORAES

O ato "Quem deu a Ordem?" ocorreu no final da manhã desta sexta (4). Depois da manifestação, Boulos seguiu para a inauguração da Cozinha Solidária. 

Próximo ato contra Bolsonaro

Depois do ato contra o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no dia 29 de maio não só no Recife, mas em outras cidades do País, os partidos de esquerda, movimentos sociais, Frente Povo Sem Medo e Frente Brasil Popular, já se articulam para uma nova manifestação, marcada para o dia 19 de junho. 

"Essas manifestações foram muito fortes, porque elas representavam um grito que estava entalado na garganta de milhões de brasileiras. Um grito de que não dá mais para esperar passivamente 2022 enquanto Bolsonaro condena o povo brasileiro a morrer pelo vírus, condena milhões de brasileiros a uma situação de fome, de miséria, de que é preciso mobilizar", disse Boulos, sobre as manifestações no último dia 29 de maio. 

As lideranças de esquerda foram criticadas por aliados de Bolsonaro - como o líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP) - por terem promovido atos presenciais, já que reprovavam a promoção de aglomerações pelo presidente. Foi o primeiro ato convocado pelos opositores do governo desde o início da pandemia da covid-19 no Brasil, em março de 2020. 

Desde quando começou a anunciar os atos no dia 29 de maio, o próprio Boulos vem justificando a sua  realização apontando que o governo Bolsonaro representa um perigo maior do que a própria pandemia. 

"Mesmo em um cenário difícil, de pandemia, ninguém gostaria de estar nas ruas em uma pandemia, mas nós entendemos que é um serviço essencial, é uma questão de saúde pública inclusive tirar o Bolsonaro do governo, porque quantas vidas nós ainda vamos perder até o fim de 2022 se seguir essa política negacionista, de boicote à vacina, de boicote às medidas sanitárias, de incentivo a medicamentos que não tem nenhuma eficácia", argumentou Boulos 

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