Com informações de Felipe Ribeiro, do JC, e Michael Carvalho, da TV Jornal
Mais uma vez, manifestantes contrários ao Governo Jair Bolsonaro saíram às ruas para pedir a saída do presidente da República do cargo. O protesto ocorre em todo o país, neste sábado (3), um dia depois que a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura do inquérito para investigar se Bolsonaro cometeu crime de prevaricação por supostamente não ter comunicado aos órgãos de investigação indícios de corrupção nas negociações para compra da vacina indiana Covaxin pelo Ministério da Saúde.
Esse foi o segundo ato depois do protesto de 29 de maio, na capital pernambucana, que foi dispersado de forma violenta pela policia e deixou dois homens cegos de um dos olhos.
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No Recife, o protesto teve concentração na Praça do Derby, área central da cidade, onde a reportagem registrou pontos de aglomeração. No local, houve distribuição de álcool em gel e os manifestantes usavam máscaras de proteção. A partir do momento em que as pessoas se deslocaram, com direção à Avenida Conde da Boa Vista, os presentes no ato se organizaram em filas para tentar manter algum distanciamento, como forma de proteção à covid-19.
A manifestação terminou por volta do meio-dia, de modo pacífico, na Avenida Guararapes.
Confira imagens da manifestação no Recife
Manifestantes
A psicóloga Ana Paula Santiago disse que foi ao ato por estar indignada com a realidade do Brasil. "Um País que tinha tudo para dar certo e hoje vemos os mortos da pandemia, o desemprego, o negacionismo, isso tudo revolta. Eu estoudizendo não a incompetência do presidente, estou dizendo não à ignorância, dizendo não à intolerância. Por isso, estamos aqui", afirmou.
Bibliotecária, Cida Fernandes disse ser insuportável a situação do Brasil e cobrou impeachment. "Espero que a gente derrube ele (Bolsonaro) antes que acabe com o País. Estou aqui em defesa de eleições livres, eletrônicas, pois o voto impresso é para confundir, pela vacina para todo mundo, por auxílio emergencial e uma política que resgate a dignidade do povo brasileiro", comentou.
Repercussão política
Deputado estadual e ex-prefeito do Recife, João Paulo (PCdoB) participou do protesto. "A manifestação é bem maior que a última, um ato simbólico, a luta pela vacina, a luta por um auxílio emergencial que dê dignidade ao povo, com uma massa grande para derrotar o governo Bolsonaro, para livrar nossa nação desse grande mal", afirmou o politico.
Membro da CPI da Covid, o senador Humberto Costa (PT) também participou do ato e disse que o protesto é uma forma de apoio aos trabalhos da oposição. "Acho importante por haver mobilização no País inteiro, em defesa da democracia, da liberdade e em apoio ao trabalho da oposição, para mostrar o que é esse governo Bolsonaro e acima de tudo que ele é responsável pela tragédia sanitária, econômica, social e política que vivemos no Brasil hoje", afirmou.
Vereadora do Recife, Dani Portela (PSOL) também cobrou impeachment. "Voltamos às ruas e não podemos mais sair, é a terceira manifestação pelo 'fora Bolsonaro', entendendo que não dá para esperar 2022. A CPI aponta indícios de corrupção, que significa vidas perdidas, o Brasil volta ao mapa da fome, com cerca de 15 milhões de desempregados", disse.
Terceiro ato
Este é o terceiro ato neste ano, convocado por movimentos sociais, sindicatos e partidos de esquerda, como as Frentes Povo sem Medo e Brasil Popular, Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, PT, PSOL, Central Única dos Trabalhadores (CUT), União Nacional dos Estudantes (UNE) e União dos Estudantes de Pernambuco (UEP).
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Segundo a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SD-PE), a manifestação no Recife transcorreu de forma pacífica, sem ocorrências policiais ou detenções. A Polícia Militar não divulga número estimado de pessoas em manifestações.
A manifestação anterior, ocorrida em 19 de junho, também terminou de forma pacífica, um cenário bem diferente do observado em 29 de maio, quando uma ação violenta da Polícia Militar resultou na perda parcial da visão de dois homens que sequer estavam participando do ato, atingidos por balas de borracha. A vereadora do Recife Liana Cirne (PT) também foi atingida com spray de pimenta.
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Naquela semana, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) recomendou a não realização de qualquer ato público que provocasse aglomerações, tanto a contra Bolsonaro quanto a promovida por apoiadores do presidente, que estava prevista para o dia 20 de junho e oficialmente foi cancelada. Mas ainda assim, as pessoas foram às ruas.
O Governo de Pernambuco enviou pela primeira vez Agentes de Conciliação para acompanhar o protesto e fazer a interlocução entre as autoridades e os manifestantes. A equipe foi formada por 24 profissionais das secretarias de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude, Justiça e Direitos Humanos, Defesa Social, Políticas de Prevenção à Violência e às Drogas, Casa Civil e do MPPE.