Palanques

Por que interessa ao PSB ser aliado do PT nas disputas estaduais e adversário nas disputas municipais?

A era Lula permeou os discursos das lideranças presentes no lançamento da candidatura de Danilo Cabral ao Governo do Estado

Mirella Araújo
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Mirella Araújo
Publicado em 22/02/2022 às 19:18
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CANDIDATO Pouco conhecido, Danilo Cabral (PSB) vai colar sua candidatura à do ex-presidente Lula (PT) - FOTO: DAY SANTOS/JC IMAGEM
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Antes mesmo do ato de lançamento de sua pré-candidatura, o deputado federal Danilo Cabral já discursava em uma agenda no município de Surubim, seu reduto eleitoral, que “Pernambuco é Lula”. Já na solenidade que reuniu as principais lideranças do PSB e dos partidos que formam o arco da Frente Popular, os discursos não foram diferentes e até mesmo o prefeito do Recife, João Campos, que assumiu o  discurso do antipetismo na disputa do segundo turno contra a deputada federal Marília Arraes, em 2020, demonstrou que isso teria ficado para trás.

Mas, qual seria a vantagem para o PSB estar associado ao PT nas eleições para governador do Estado, enquanto na conjuntura municipal os partidos se mantém em palanques distintos desde 2012? Especialistas ouvidos pelo JC, explicam que primeiro é preciso entender as particularidades de cada pleito eleitoral para a construção destas alianças, que nitidamente não segue uma linearidade.

“Essa relação entre PT e PSB é marcada por ciclos que navegam de acordo com a conveniência e o contexto de cada eleição. Ela já foi uma relação mais sólida, e não podemos negar isso, porque são partidos que em sua origem militam no mesmo espectro ideológico e tem afinidade de agenda, de pensamentos. Isso dá uma certa longevidade à possibilidade de alianças”, avaliou a cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), Priscila Lapa.

O ano era 2012 e o PT vivia um racha interno sobre quem seria o candidato a prefeito, em meio ao desgaste da gestão de João da Costa e que tinha o Milton Coelho como vice. Nas prévias, o bloco liderado por Humberto Costa e João Paulo - quem em 2000 foi eleito prefeito do Recife sem o apoio dos socialistas - venceu a indicação, mas não os votos das urnas. Naquele ano, o então governador Eduardo Campos lançou o nome do secretário estadual de Desenvolvimento Econômico Geraldo Júlio, quadro técnico e desconhecido, que se elegeu para seu primeiro mandato.

Desde então, tanto no âmbito municipal quanto no estadual as duas agremiações traçaram caminhos distintos. O realinhamento dos discursos só veio ocorrer na reeleição do governador Paulo Câmara, em 2018, e que também garantiu o mandato do senador Humberto Costa (PT) na mesma chapa. Por trás dessa costura política, o PT deu aval para minar a candidatura a governadora da deputada federal Marília Arraes. E no cenário nacional, apoiou o presidenciável Fernando Haddad, no segundo turno.

 

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Humberto Costa no lançamento da candidatura de Danilo Cabral ao governo de Pernambuco - DAY SANTOS/JC IMAGEM

A reintegração do PT na Frente Popular só durou até 2020, quando Marília e João Campos levaram a disputa até o segundo turno. Se hoje, João Campos afirma que o PSB será o primeiro grande partido a declarar apoia a candidatura de Lula, naquele ano ele não poupou críticas ao partido, afirmando inclusive, que na sua gestão não aceitaria indicação de petistas em seu governo.

O cientista político e professor da Asces-Unita, Vanuccio Pimentel, explica que a dinâmica das eleições municipais têm pesos diferentes que são relevantes para a disputa, ou seja, a estratégia adotada em 2020 não vai funcionar para o Governo de Pernambuco em 2022. “O PSB via vantagem em não ter apoio do PT, em virtude do histórico que o partido já tinha e da estrutura que acreditava ser suficiente. Mas, agora para Pernambuco, quando se discute o estadual, a gente fala em eleições que são casadas. No caso do Governo do Estado, sempre historicamente desde 1988, as candidaturas precisam ter um palanque nacional forte para também angariar apoio político local”, explicou o docente.

Apesar dos 32 anos de filiação ao PSB e com atuação em secretarias estaduais e municipais que vão da área de Educação até o Planejamento, o deputado federal Danilo Cabral não é conhecido em todo estado. Por isso, a leitura de dependência da imagem de Lula tem sido feita desde que seu nome foi confirmado. Esse atrelamento ao “lulismo” dará o tom nacionalizado e polarizado da campanha.

“Fazer referências ao legado de Lula é trazer as memórias positivas do eleitor para o período quando Lula foi presidente e Eduardo Campos foi governador, e existiu uma parceria que tornou Pernambuco um dos estados que foi mais beneficiados, que teve seu crescimento expressivo, acima da média nacional. Então é uma tentativa, de buscar essa referência, nesse projeto nacional, como uma maneira de fortalecer e talvez até diminuir o desgaste que o PSB tem hoje com o eleitor local”, afirmou Priscila Lapa.

DEPENDÊNCIA

Os socialistas não usam o termo “dependência” para falar do palanque de Lula e Danilo, mas ressaltam que é necessário avaliar o contexto atual. “Cada eleição é uma história, não é questão de sermos dependentes. Ontem (segunda-feira) foi confirmado que nós vamos apoiar o presidente Lula e nós sempre estivemos juntos, ligados à esquerda e alinhados com o presidente na luta por aqueles que mais precisam. Danilo é partidariamente conhecido, passou pela gestão e dialoga com todos os prefeitos. Ele é conhecido da base eleitoral e é bem avaliado”, pontuou o deputado estadual e vice-líder do governo na Alepe, Diogo Moraes (PSB).

“A vinculação ao presidente Lula é em razão das expectativas positivas que o Brasil tem com o retorno dele, em Pernambuco muito especialmente, e com a necessidade de ajudá-lo a derrotar o bolsonarismo. Esse é o grande desafio que precisamos construir, consolidar essa unidade para derrotar Bolsonaro. Naturalmente, ao trabalhar o enfrentamento ao Governo atual da República, vamos ajudar a eleger nosso governador, uma coisa está atrelada a outra.”, defendeu o deputado federal Milton Coelho (PSB).

Segundo, Vanuccio Pimentel, o lulismo em si ainda é muito forte em Pernambuco, como no Brasil, mas em algumas faixas de renda e que tem interferência nas suas preferências políticas. “Essa classe C, D e E, é onde Lula tem um desempenho melhor do que Bolsonaro e outros candidatos. Com relação às regiões do Estado, o que vamos identificar são os municípios, quanto maior a cidade, menos voto ele tem. Lula vai ter desempenho muito bom nos municípios menores e quando vai para as 14 cidades que guardam 50% da população, é quando a tendência dele cai”, explicou.

 

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