Rubro-negro 'doente' e morador ilustre do bairro; quem mora em Setúbal, subdivisão do luxuoso bairro de Boa Viagem, provavelmente já viu e conhece Lula.
Vivendo em situação de vulnerabilidade até pouco tempo atrás, como morador de rua, sempre ‘residiu’ pela cidade do Recife, podendo ser encontrado, geralmente, nas imediações do Edifício Barão Souza Leão.
Lula, desde jovem, sabe e adora surfar. Além disso, sempre gostou de andar pelas ruas e conversar com as pessoas.
Apesar de sempre ter sido morador de rua – por escolha, pois alguns amigos e moradores do bairro sempre o convidaram para morar em suas casas e o homem sempre se recusou – e das dificuldades, ele sempre foi uma pessoa querida por todos da localidade.
“Ele sempre morou nas calçadas, de bem com a vida, vale salientar isso. Tem as tristezas dele, os lamentos, claro. Mas é uma pessoa que tá de bem com a vida sempre. Todo mundo gosta dele na rua e o cumprimenta”, explica Bety Asfora, voluntária do projeto social Mulheres Pró-Ativas, que sempre o ajudou.
Os vizinhos guardam na memória os bons momentos vividos com Lula. André Ferreira, professor universitário, faz questão de compartilhar essas lembranças. Mas nem todas são tão boas assim: “Lula é um cara acolhido por todos nós de Setúbal e região. Ele está lá há muito tempo e me viu nascer, praticamente. Ele é uma pessoa muito boa e nunca teve problema com nada. A polícia, uma vez, tentou dizer que ele era traficante ou algo assim e a gente [moradores do bairro] mesmo saiu em defesa dele", explica o professor.
Claro que a paixão pelo clube do coração também não poderia ficar de fora: "Então, Lula é um cara que é ‘de casa’. Só pra você ter uma ideia, rubro-negro doente. Sempre que ia para um jogo com meu pai, Lula ia conosco e ajudávamos no pagamento da entrada, pois ele é reconhecido pela torcida como torcedor fanático”, relembra André.
Diabetes: uma doença que dificultou, e muito, a vida de Lula e suas ‘andanças’ pelo Recife
Lula tem diabetes tipo 2 e, por uma infeliz ironia do destino, o homem que sempre andou “sete léguas” por toda a capital pernambucana precisou amputar os pés. Desde então, um grupo de moradores de Setúbal começou uma campanha para conseguir uma cadeira de rodas.
“O Lula dormia na calçada de uma loja e depois passava o dia inteiro embaixo de um toldo, na frente da Barão de Souza Leão. Tinha um apoio dos proprietários e os funcionários da loja o ajudavam. Estou à frente das buscas e tentativas de ajuda pra tentar comprar a cadeira [de rodas]. Recebemos uma cadeira usada que foi repassada para ele, porém não aguentou. Por isso estamos novamente entrando em cota para comprar uma cadeira nova de acordo com as necessidades dele. Agora, Lula está morando em um quartinho, próximo dali [do edifício] da Barão [Souza Leão]”, explica Bety.
De acordo com Bety, o tratamento de Lula é ministrado pelo ‘Consultório na Rua’ da Prefeitura do Recife, que conta com uma equipe de psicólogos, assistentes sociais e técnicos sociais que atendem as pessoas que vivem em situação de rua.
Ela afirma que “eles param lá onde Lula fica, fazem curativo e dão medicação. Então, essa equipe cuida dele já há algum tempo com carinho e afeto”, detalha Bety.
Ainda segundo a voluntária, para além da sua saúde, Lula contou também com o apoio da equipe do SEAS - Serviço Especializado de abordagem Social pela Secretaria da Assistência Social e Direitos Humanos, regularizando seus documentos.
Essa já é a segunda cadeira de rodas que o grupo tenta dar a Lula, pois a primeira fora roubada enquanto ele dormia.
Lula precisa de uma cadeira de rodas especial que suporte seu peso, ou seja, mais de 100 quilos: “Em relação a campanha da cadeira de rodas, essa é a segunda que a gente faz. Não tô fazendo uma cota, porque a cadeira dele é em torno de R$ 1500 se for a vista, porque Lula anda demais”, explica Bety.
Além disso, é preciso que a cadeira seja dobrável para poder caber dentro de automóveis. “Lula é super bem relacionado. Os amigos gostam de levá-lo à praia. Aí passa, leva ele, pega e vai para Maracaípe, já que ele é surfista", afirma.
Bety conta que a última cadeira, fruto de uma doação, acabou deformando, uma vez que a cidade não possui calçadas e ruas que facilitem a locomoção de cadeirantes.
“Ele empenou a última cadeira há pouco tempo, porque ele roda muito. Aí ele caiu e empenou o aro. E agora ele tá com uma que é tipo um ‘frankstein’, porque é pedaço de uma e pedaço de outra. Por isso estamos correndo atrás", explica.
A voluntária conta que, caso não consiga uma doação, de fato, a alternativa vai ser fazer uma ‘cotinha’ para conseguir a cadeira para Lula, mas que esse seria um plano alternativo.
Ela ainda explica que o projeto social do qual faz parte sempre está tentando arrecadar cadeiras de rodas e medicamentos para as pessoas necessitadas que são ajudadas pelo grupo.
"O Projeto recebe cadeiras de rodas, muletas, cadeiras higiênicas, fraldas geriátricas, medicamentos e todo tipo de material para acamados. Os pedidos são muitos e não temos recursos, contamos exclusivamente com doações de amigos", explica.
Você quer ajudar?
Para ajudar, você pode entrar em contato com Bety Asfora através do Whatsapp (81) 9.9922.7227 ou através do Instagram (@mulheresproativas).