Após registrar recorde de mortes pela covid-19, desde o início da pandemia, o Brasil se aproxima, mais uma vez, de um dos momentos mais difíceis desde que a doença chegou ao país. Para o pesquisador do Laboratório de Virologia do Instituto de Medicina Tropical da USP, José Eduardo Levi, a alta no número de óbitos tem a ver, também, com as novas variantes da doença.
"As novas variantes matam mais? Posso responder que elas já estão matando. Estamos vendo, há três dias seguidos, o pico de mortes do país. Com certeza, em partes, está relacionado com o espalhamento dessas variantes", explicou o virologista em entrevista à Rádio Jornal, nesta quinta-feira (4).
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Ainda de acordo com o pesquisador, a variante encontrada no estado do Amazonas, na região Norte do Brasil, tem se mostrado mais agressiva que a original.
"Não é que ela mata mais porque o vírus é mais agressivo, ela mata mais porque mais gente está se infectando e o resto da evolução da doença é igual. Isso é o que a gente acreditava, então era só uma questão de mais gente infectada, mais hospitalizações e mais mortes. Porém, temos ouvido, de vários lugares diferentes, que pessoas mais jovens, sem comorbidades, estão adoecendo e permanecendo mais tempo na UTI. Não temos dados científicos para provar, mas parece que esta variante do Amazonas é mais grave do que as variantes anteriores que já estavam presentes no país".
Com a presença destas variantes, a dúvida que permeia a mente dos brasileiros - e do restante do mundo - é se as vacinas produzidas até agora são capazes de gerar imunidade até mesmo se tratando do vírus modificado. Segundo José Eduardo Levi, a comunidade científica ainda estuda a questão. O que se sabe, até o momento, é que há a possibilidade de algumas vacinas perderem alguma porcentagem de eficácia.
"A torcida é para que as vacinas funcionem, porém as evidências, infelizmente, são de que a gente vai ter alguma perda de eficácia em relação a variante de Manaus. Não é que a vacina vai parar de funcionar totalmente, mas a gente acredita, e temos dados mostrando isso, que há uma perda de eficácia. Inclusive, os dados que temos é que essa vacina que a gente utiliza no Brasil, a Oxford, teve uma eficácia bem reduzida frente a variante da covid-19 da África do Sul, que é muito parecida com a variante de Manaus. Gostaria de não dizer isso, mas acho que vai haver uma perda de eficácia. Espero, no entanto, que seja a menor possível", relatou.
O Brasil registrou 1.699 novas mortes em decorrência da covid-19 nas últimas 24 horas, segundo dados atualizados nesta quinta-feira (4) pelo Ministério da Saúde. Com isso, chega a 260.970 o total de vidas perdidas no País em razão da doença. Além disso, foram contabilizados mais 75.102 casos do novo coronavírus nas últimas 24 horas, elevando o total para 10 793.732.
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O que se observa, mesmo após cerca de um ano de pandemia, é a alta taxa de ocupação das UTIs em diversas cidades e o colapso de sistemas de saúde em todo o País. Um artigo publicado no jornal britânico The Guardian chegou a prever que, em breve, o Brasil poderá se tornar uma ameaça global com mutações mais letais da covid-19.
Para o pesquisador da USP, neste momento, mais do que nunca, é necessário ter responsabilidade e respeito pelas normas de contenção do vírus.
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"O que a gente pode fazer pra frear as novas variantes? Observar as regras que todo mundo sabe, e aqui faço uma analogia ao HIV. Todo mundo sabe como se previne do HIV, mas muita gente não usa o preservativo. E é a mesma coisa com o coronavírus. Todo mundo já sabe como prevenir, e não vou ficar repetindo aqui porque é ficar chovendo no molhado. Mas muita gente não está observando essas regras. Então as regras de distanciamento, aliada a vacinação rápida é o que nós temos de melhor para impedir o avanço da variante", finalizou.