A praia de Porto de Galinhas, o cartão postal de Pernambuco, recebeu apenas vestígios esparsos do óleo que vem afetando o litoral do estado e do Nordeste, o que levantou a dúvida sobre o motivo da praia não ter sido atingida em larga escala, como as adjacentes Maracaípe e Muro Alto, por exemplo. Em entrevista ao Jornal do Commercio, o professor do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Marcus Silva, explica o porquê das manchas não terem chegado à faixa de areia de Porto de Galinhas, e como funciona a dispersão do material no oceano.
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Segundo o pesquisador, não há motivo concreto para o resíduo de petróleo ter chegado a Maracaípe e Muro Alto, mas não ter atingido Porto de Galinhas, todas pertencentes ao mesmo município, Ipojuca. “Vários fatores interferem nessa dinâmica. A contenção da mancha no pontal de Maracaípe auxiliou para que o óleo não chegasse até à faixa de areia em Porto de Galinhas. Mas é necessário entender, ainda, que a distribuição do resíduo não se dá de forma linear no Litoral Sul, porque depende do sistema de ventos e de maré para jogá-lo até à costa”, explica Marcus.
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O fato das manchas de óleo não terem chegado até a orla não indica que não haja volume do resíduo no mar, explicou. “O petróleo vem de uma extensão de 50 a 60 quilômetros da orla, e é trazido pela maré e pelos ventos. O que se vê na areia da praia é apenas uma parte do todo”, disse.
Quando questionado se há a possibilidade do petróleo cru ainda chegar até à praia de Porto de Galinhas, o oceanógrafo esclarece que é incerto. “Os estudos ainda são preliminares”, disse. Marcus Silva é o responsável pela investigação do movimento de dispersão dos constituintes no mar, mas o processo acontece de forma sigilosa e não é permitido que ele forneça detalhes, para que não atrapalhe a investigação.
O cientista afirmou que o desastre ambiental registrado nesses últimos dois meses com o derramamento de óleo é sem precedentes no Brasil. "Nunca vi algo assim", completa Marcus Silva.
A Advocacia Geral da União (AGU) informou nesta segunda-feira (21) que analisa as medidas cabíveis a serem tomadas após ser notificada sobre a decisão da Justiça Federal em Pernambuco que obriga à associação a adotar medidas para conter o avanço das manchas de óleo nas praias do estado, sob multa de R$ 50 mil à União e ao Ibama, caso não haja o cumprimento.
Em nota enviada à reportagem, a AGU ainda pontua que 'o Plano Nacional de Contingência já está instaurado e os órgãos e unidades responsáveis pelo controle marinho e do meio ambiente, como Marinha e Ibama, entre outros, estão engajados nas atividades de limpeza, contenção e monitoramento das manchas de óleo.'