Crianças retratam em desenhos e frases sofrimento com chuvas no Recife

Professora pediu para que estudantes do 6º ano desenhassem e escrevessem sobre a realidade da situação onde moram
Lucas Moraes
Publicado em 31/05/2017 às 17:00
Foto: Foto: Cortesia


 A sala de aula da escola estadual Monsenhor Álvaro Negromonte, no bairro do Totó, Zona Oeste do Recife, por muitas vezes é mais do que um espaço onde crianças aprendem a somar, dividir ou escrever frases completas. Há dias em que a grande lição não é nem mesmo o professor quem ensina, e sim os alunos. Esta quarta-feira (31) vivenciou um desses momentos. Uma atividade lúdica, na qual as crianças deveriam desenhar sobre as chuvas que atingem Pernambuco desde o fim de semana, acabou por escancarar a triste realidade na qual elas estão inseridas e revelou o sentimento de solidariedade existente nesses futuros cidadãos.

"Chuva, chuva vai com calma que eu tenho família perto do rio", foi a mensagem escrita por Thamyres dos Santos Gusmão, aluna do 6º ano. No mesmo papel, uma nuvem azul, ao que parece carregada de chuva, se aproxima de casas coloridas, com uma porta, telhado e janela.

"Não pensei que eles estavam tão aflitos. Pedi para que ele escrevessem uma frase sobre a chuva que vivenciamos. Conversando com eles, achei até que muitos não viriam hoje, mas faltaram pouquíssimos", relatou a professora Marta Tenório, que leciona há 6 anos na rede estadual de ensino.

Em outro desenho, onde é possível identificar apenas a chuva caindo sobre uma confusão de traços rabiscados na cor verde, Ketilly Nayara da Silva exprimiu o pedido de ajuda de quem sofre com inundações: "Meu Deus, socorro", exclamam os bonecos desenhados pela estudante.

Mesmo com o sofrimento trazido pela água, a solidariedade, move os pequenos. "Não pense só em si, pense no próximo", argumentou o aluno Wilker Santos da Silva.

Foto: Cortesia
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De acordo com a professora, maioria dos alunos mora nas comunidades Planeta dos Macacos, Alto do Negromonte e comunidade da Colina, no Recife, além do bairro de Cavaleiro, em Jaboatão dos Guararapes. "Eles estão com água dentro de casa. A escola largou às 10h30, muitos pais foram buscar porque já estava subindo a água para dentro de casa", desabafa Marta instantes antes de pedir que apenas a angústia exprimidas pelos alunos ganhe destaque na matéria.

Com a chuva mais forte sobre a Região Metropolitana do Recife nessa quarta-feira, muitos dos estudantes tiveram que enfrentar a água para conseguir chegar a escola e confirmaram isso à professora. "Um deles me disse: professora eu tenho duas opções, ficar em casa esperando a água subir ou pular a água e vir correndo antes que ela entre em casa".

Quando a chuva é tão forte, a ponto das crianças não conseguirem enfrentá-la, o relato é ainda mais forte. "Toda vez que chove minha avó vai para a minha casa, em cima, e esperamos a água baixar. A gente só sai quando pode, por sorte, às vezes tem comida em casa. Quando eu não vier, não coloca falta em mim, porque não dá para sair, tem até jacaré. A gente sai nadando", confessou outra criança durante a aula que trouxe lições para toda a vida.

 

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