Olinda

Exposição "Santos Negros" prorrogada no Museu de Arte Sacra

A mostra Santos Negros ficará em cartaz até o segundo semestre de 2019. Museu está localizado no Alto da Sé em Olinda

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Cleide Alves

Publicado em 10/05/2019 às 7:43 | Atualizado em 14/11/2023 às 11:09
- Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

O Museu de Arte Sacra de Pernambuco (Maspe), localizado na Sé de Olinda, prorrogou a data de encerramento da exposição Santos Negros, que está em cartaz desde novembro de 2018. Programada para terminar na próxima segunda-feira, 13 de maio, a mostra se estenderá até o início do segundo semestre. “Vamos concluir a exposição com o lançamento do catálogo dos santos negros”, informa Iron Mendes de Araújo Júnior, historiador do Maspe.

Ilustrado com fotografias de todos os santos selecionados para a mostra Santos Negros, o catálogo também vai trazer a história de cada um deles, curiosidades e iconografia, com a tradução para o público dos símbolos associados às imagens. O São Benedito das Rosas, por exemplo, remete a um dos milagres atribuídos ao mais popular santo negro da Igreja Católica, explica Iron Mendes de Araújo Júnior.

Museu de Arte Sacra (Maspe), em Olinda, estende a exposição Santos Negros até 2º semestre de 2019 - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Santo Elesbão na exposição sobre santos negros no Museu de Arte Sacra de Pernambuco, em Olinda - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
São Felipe, no nicho amarelo, e São Benedito, ao fundo, em mostra sobre santos negros no Maspe - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Maspe deverá encerrar a mostra Santos Negros com lançamento de catálogo sobre a vida dos religiosos - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
São Baltazar, o Rei Mago negro, na exposição Santos Negros inaugurada em 20/11/2018 no Maspe - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Considerada mártir, Santa Efigênia (à direita na foto), protetora contra os incêndios, no Maspe - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Acervo da exposição Santos Negros reúne imagens de oito igrejas, do Maspe e da arquidiocese - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Oito igrejas do Recife e de Olinda cederam imagens de santos negros para a exposição no Maspe - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, cercada por ex-votos, na exposição montada em Olinda - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Nossa Senhora do Rosário, a única imagem de cor branca selecionada para a mostra Santos Negros - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

 

Responsável pela dispensa do convento onde morava, São Benedito costumava pegar alimentos da comunidade religiosa e doar aos pobres. “Um dia, ele foi flagrado pelo supervisor e ao ser questionado pelo volume que carregava, respondeu que eram rosas. Quando teve de provar, os pães haviam se transformado em rosas”, relata o historiador do Maspe.

A imagem de Elesbão pisando numa figura masculina reproduz a vitória do santo negro sobre o rei judeu que perseguia cristãos. O rei é representado tanto como uma pessoa de cor branca quanto de pele escura. A igreja cercada por labaredas de fogo que Santa Efigênia segura com uma das mãos simboliza o convento que ela construiu e foi incendiado.

Um primo da jovem, que queria se casar com ela, provocou o incêndio porque não aceitava a recusa, informa Iron Mendes. “Ela rogou a Deus que salvasse o convento e o fogo não atingiu a igreja. Santa Efigênia é considerada a protetora contra os incêndios”, acrescenta. A imagem também segura uma folha de palmeira, indicando que se trata de uma santa mártir.

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Com organização do gestor do Maspe, padre Rinaldo Pereira, de Anazuleide Ferreira (atua na Unidade de Conservação e Documentação do Maspe) e de Iron Mendes de Araújo Júnior, o catálogo dos santos negros será publicado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) e poderá ser comprado no museu. A data de lançamento não está definida.

“O catálogo vai enriquecer o projeto da exposição, criada para levar informações ao público sobre a santidade dos negros na Igreja Católica, é preciso divulgar essa história e mostrar a importância dos negros nas confrarias e irmandades religiosas criadas no Brasil”, destaca Iron Mendes. Mais de quatro mil pessoas visitaram a mostra, desde 20 de novembro de 2018.

Inédita no País, a exposição Santos Negros reúne cerca de 20 imagens pertencentes ao acervo de oito igrejas do Recife e de Olinda, do Maspe e da Arquidiocese de Olinda e Recife. Segunda-feira (13), dia em que a exposição seria encerrada, o museu abrirá excepcionalmente para receber o público, no horário das 10h às 17h, e não vai cobrar taxa de ingresso.

Na ocasião, o Maspe oferecerá uma mediação temática aos visitantes. “Vamos estabelecer conexões entre a exposição e a abolição da escravatura”, avisa o historiador, em referência ao aniversário de 131 anos da assinatura da Lei Áurea, que acabou oficialmente com a escravidão no Brasil em 13 de maio de 1888, no século 19.

Acervo

Só uma santa de cor branca é exibida na mostra Santos Negros, Nossa Senhora do Rosário (protetora dos homens pretos, pardos ou brancos), que divide o mesmo ambiente com a padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. Na sala, onde o ar recende a folhas de canela, o visitante também escuta a voz pausada do arcebispo emérito de Olinda e Recife, dom Helder Camara (1909-1999), recitando a Prece à Mariama.

Dom Helder declamou a oração na primeira edição da Missa dos Quilombos, celebrada no Pátio do Carmo, no Centro do Recife, em 1981. Ele era arcebispo de Olinda e Recife e presidiu a cerimônia. Os curadores da mostra, padre Rinaldo e a arquiteta Dió Diniz, também selecionaram para compor a exposição um manuscrito da Igreja da Madre de Deus no qual uma criança ganha a alforria na pia batismal.

A liberdade da bebê, chamada Maria crioula no documento, foi comprada por 100 mil réis. Ela nasceu em 26 de setembro de 1863 e foi batizada em 31 de maio de 1864. A Lei do Ventre Livre, que libertava os filhos das mulheres escravas no Brasil, seria assinada apenas em 1871. “Santos Negros é uma exposição com muitos sentidos e significados”, avisa o historiador do Maspe.

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