A suspeita de que um empresário de 60 anos morreu infectado após comer ostras na praia de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, acendeu o alerta quanto ao consumo e armazenamento do produto. Ele ingeriu o molusco no último dia 13. Dias depois foi hospitalizado. Entrou em coma no dia 24 de dezembro e faleceu dois dias depois. O caso está sendo investigado pela Secretaria de Saúde do Recife. Não há prazo, conforme o órgão, para conclusão da investigação epidemiológica.
A Vigilância Sanitária Municipal garante que realiza ações educativas e fiscalização na orla recifense, com o objetivo “de evitar e diminuir a ocorrência de doenças em consequência da ingestão de alimentos contaminados”, diz o órgão.
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Sobre o consumo de ostra, lagosta, camarão, lula e polvo, a orientação é que os produtos sejam expostos, preferencialmente, em caixas térmicas com gelo, refrigerados em temperaturas de 2° a 3° C. “Admite-se em bandejas plásticas cobertos com bastante gelo”, ressalta a Vigilância Sanitária.
Professor do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Jesser Fidelis explica que as ostras absorvem o que tem na água, por isso o cuidado ao consumi-las. “A ostra obtém seu alimento literalmente filtrando a água. Capta o que encontrar, desde metais pesados, como mercúrio e alumínio, a vírus e bactérias que existem no ambiente marinho”, explica.
Ele lembra que o Rio Capibaribe e o Canal de Santa Cruz (entre Itapissuma e Itamaracá, no Grande Recife) passam por locais muito urbanizados. “A taxa de contaminação é alta, com esgotos lançados diretamente na água, material hospitalar e industrial muitas vezes liberado sem tratamento”, observa Jesser. Particularmente, o professor diz que não consome ostra, seja crua ou cozida. “Mesmo com o cozimento, alguns metais não são eliminados.”
“O problema do alimento cru, independente de ser ostra, é o cuidado que se deve ter da pesca até a ingestão. Quanto mais tempo demorar o consumo, maior o risco de causar problemas em quem vai ingerir. Porque a ostra apodrece aos poucos, o que chamamos de putrefação. Esse apodrecimento produz bactérias. Algumas provocam sintoma leves, como diarreia. Outras são mais severas, principalmente as produtoras de toxinas”, observa o infectologista Felipe Prohaska.
O médico diz que é fundamental saber a procedência do molusco, quanto tempo foi retirado do ambiente dele e como é armazenado. “Não existe controle sanitário das ostras vendidas dentro daqueles baldes na praia. Não se sabe quando foram pescadas, há quanto tempo estão fora da refrigeração ou até se foram refrigeradas”, afirma.
Ednaldo Silva vende ostra há 15 anos na Praia de Boa Viagem. “Eu mesmo cato, em Itapissuma. Tiro em um dia e vendo no outro. Trago entre 700 e 800 ostras. Deixo num isopor com bastante gelo. Pego aos poucos para vender, num recipiente menor, também com gelo”, conta Ednaldo. “Não acredito que esse senhor morreu por causa da ostra. Se fosse assim, mais gente morreria. Nunca tive relatos dos meus clientes. Tenho fé em Deus que esse caso não vai atrapalhar nossas vendas. Já bastou o óleo”, diz.
O autônomo Allysson Lima prefere não arriscar. “Deixei de comer ostra há uns cinco anos, depois de casos do rota vírus. É um ser vivo, não sei como é armazenado”, comenta.