A obstetra Cláudia Beatriz Andrade, presidente do Simepe, destaca o papel do órgão de classe para resolver uma situação que coloca em risco a vida de mulheres e de seus bebês.
JC – Como o Simepe tem atuado para alertar sobre as consequências da superlotação nas maternidades do Estado?
CLÁUDIA BEATRIZ ANDRADE – A gente vê essa situação com muita preocupação. Temos nos reunido com gestores e entidades médicas para mostrar que estamos em campanha para cobrar resolutividade e assistência qualificada na rede materno-infantil. Atualmente, na assistência ao parto, há municípios que dizem não ter recursos e, por isso, alegam que não oferecerão mais o atendimento. Eles se desobrigam desse dever e fecham as portas da maternidade. Há outros municípios com serviços abertos, mas que não fazem esforços para manter a equipe completa; funcionam apenas em alguns dias da semana. Além disso, existem as unidades que eu chamo de ponto final, que recebem a mulher que não tem mais para onde ir. Nesses locais, as pacientes ficam com ou sem leito, com ou sem equipe, com ou sem material. É aquela situação de cenário de guerra instalado.
JC – Há municípios com situações mais críticas do que outros?
CLÁUDIA BEATRIZ – Recebemos, na capital, mulheres que vêm de Garanhuns. Imagine ter que enfrentar quilômetros de estrada. São tantas horas para vir e mais outras tantas horas na porta de entrada (da maternidade) esperando atendimento. Ficamos consternados. E veja a situação de Olinda: depois que a Brites de Albuquerque fechou, há uns seis anos, a cidade contratualizou 100% dos leitos da maternidade do Hospital Tricentenário, cujo número de leitos é aquém da necessidade do município. Então, muitas mulheres de Olinda têm o parto realizado no Recife, onde encontram as maternidades que são ponto final.
JC – Na campanha, o Simepe associa o cenário de superlotação à violência...
CLÁUDIA BEATRIZ – A violência obstétrica não está restrita só ao momento do parto. Ela existe também nesse processo da peregrinação, da acomodação, da falta de dignidade humana na assistência. Já vi profissionais arrasados, chorando por perdas (mortes de mãe e/ou bebê) que seriam evitáveis. A gente vai para casa e não descansa a cabeça. É um sofrimento irreparável.