Nesta sexta-feira (24), comemora-se o Dia Nacional do líquido que, depois da água, é o mais consumido do mundo, o café. Estima-se que mais de 2 bilhões de xícaras sejam bebidas por dia. No Brasil. assim como o futebol e a telenovela, o café caiu no gosto popular e se tornou uma paixão nacional. Para se ter dimensão disso, dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) apontam que a bebida é consumida por 9 entre 10 brasileiros com mais de 15 anos. Ainda segundo a Abic, o País é o maior produtor e exportador de café do mundo e o segundo maior país consumidor - atrás apenas dos Estados Unidos - estando presente em 98,5% dos lares do Brasil.
Mas antes de chegar nas casas pelo país afora e aquecer nosso dia com seu aroma fascinante e incrível sabor, o café precisa passar por uma série de etapas que vão desde o plantio, passando pela torra e moagem, até o preparo antes de ir para nossa xícara. Acompanhar esse processo é o papel do barista, o profissional que trabalha criando novas bebidas, tendo como ingrediente principal o café, utilizando-se de licores, cremes, bebidas alcoólicas, leite, entre outros. De acordo com a barista Renata Helena, muitas vezes é esse profissional que define o cardápio de cafeterias. “Além de ser responsável pelo preparo de cafés, o barista estabelece receitas e administra toda a operação de uma cafeteria, como criar o cardápio do local”, disse Renata, a primeira profissional do ramo que, sendo registrada, faz cafés clássicos e especiais em Pernambuco.
Renata explica ainda que fazer café não é uma coisa difícil, mas também não é tão simples como se parece. Para se ter uma boa bebida é preciso prestar atenção em alguns fatores que, muitas vezes, passam despercebidos, como a cor do produto e a receita seguida. “É preciso identificar o aspecto visual dos grãos, a uniformidade da torra, cor e o tamanho. É aí que entra o lado profissional do barista", explica Renata, que lembra que "os componentes fundamentais para uma boa xícara são, claro, um bom café, a precisão e a receita.”
Para ajudar quem gosta de um cafezinho, a barista Renata Helena dá algumas dicas para deixar a bebida ainda mais saborosa. A barista explica que para preparar um bom café é sempre preferível comprar em grão e moer em casa. “Mas se não tiver moedor, é melhor comprar na cafeteria e pedir para o barista moer”, aconselha.
Segundo Renata, antes de começar o processo de fazer a bebida, é preciso lavar o filtro para coar. “Lave o filtro de papel com água quente por 30 segundos, até que todo o líquido seja absorvido. Depois disso, despeje toda a água de forma contínua. Dessa forma, o filtro não irá transferir gosto de celulose para a bebida, nem absorver os óleos do café”, explica ela. Esse processo é conhecido como pré-infusão e é feito automaticamente na máquina de expresso e cafeteiras elétricas.
Sobre o ponto ideal da água para o preparo, é recomendado não tenha sido fervida, mas aquecida. “Quando começar a formar pequenas bolhinhas, pode desligar o fogo e colocar na cafeteira”, fala Renata. Ela ainda alerta para a necessidade de que a água seja mineral e não que venha diretamente da torneira, por conta da grande quantidade de cloro.
Seguidos esses passos, o café está pronto para ser coado, misturado à água e servido.
Além de gostoso, o café também tem efeitos sobre a saúde de quem o consome. No mundo inteiro, a bebida é conhecida por ajudar a deixar as pessoas acordadas, mais atentas e dispostas. Isso porque quando o tomamos, o café age nos receptores de adenosina, uma substância essencial para que o sono chegue ao cérebro. A cafeína também é responsável por liberar adrenalina no nosso corpo, por isso é comum que as pessoas fiquem mais atentas, mas também tendem a se irritar, ter ansiedade com mais facilidade. Esse, por exemplo, é um dos motivo de muitas pessoas preferirem não tomar café à noite.
A bebida também pode ajudar na prevenção doenças cardíacas. É o que mostra uma pesquisa feita pela Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, no Estados Unidos. De acordo com o estudo, quatro doses diárias do café reduzem em até 11% o risco de insuficiência cardíaca, quando o coração não consegue mais bombear o sangue de forma adequada. Outra pesquisa da mesma universidade provou que doses moderadas de cafeína alteram positivamente o humor e diminuem em até 15% o risco de depressão.
Para quem costuma esquecer as coisas facilmente, a cafeína pode ajudar no armazenamento de alguns tipos de memórias por até 24 horas após seu consumo, segundo um estudo publicado na revista científica Nature Neuroscience, uma das mais importantes da área. A pesquisa foi realizada com 160 pessoas e coordenada por pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, também nos Estados Unidos e ficou comprovado que o cérebro apresenta um nível mais profundo de retenção de memória em pessoas que consumiram uma quantidade maior de cafeína.
Apesar dos benefícios, doses excessivas da bebida podem trazer complicações para quem a consome. Segundo o médico endocrinologista Fábio Moura, a quantidade ideal seria entre três e quatro xícaras diariamente, sendo quatro miligramas para cada quilo que a pessoa tenha. Ou seja, uma pessoa com 80 kg pode consumir até 320 ml por dia. “Se alguém extrapola esse limite de segurança, a chance dessa pessoa ter arritmia ou convulsão é aumentada”, explica.
Seja nos filmes, caricaturas ou histórias sobre o jornalismo, o café sempre sempre esteve no imaginário popular quando se fala da profissão. Além de nos manter atentos e concentrados, faz parte da cultura das redações de jornais pelo mundo. “Profissões que exigem concentração - como o jornalismo - reconhecem que as ideias fluem melhor sob efeito da cafeína.” É o que conta o jornalista, colunista político e apresentador do quadro Café & Conversa, na Rádio Jornal, Romoaldo de Souza.
Acostumado a tomar café desde criança, Romoaldo lembra que na casa da sua avó, em Carnaíba, no Sertão de Pernambuco, uma boa xícara unia a família. “Era sinal de encontro agregador.” Apesar da proximidade com a bebida desde a infância, foi apenas em 1994 que o jornalista fortaleceu sua relação com o café após complicações com o álcool. “Fui obrigado a parar de tomar bebida alcoólica, então, encontrei no café o motivo para largar o álcool”, diz ele.
A paixão de Romoaldo pelo café só aumentou após morar fora do Brasil. Esse sentimento foi responsável por levar o jornalista a fazer diversos cursos para conhecer ainda mais a bebida. “Como tinha morado no exterior, viajado muito pelo mundo, descobri que o café brasileiro era conceituado lá fora, mas aqui ficava só no refugo”, conta. “Então, passei a fazer todo tipo de curso para entender (a bebida) da origem à xícara e descobrir esse mundo fantástico”, completa o jornalista.
Passados 25 anos após encontrar na xícara de café a solução para seu problema, Romoaldo conta que o jornalismo também teve influência na sua relação com a bebida. “Minha profissão influenciou muito. Hoje, eu uso a estética do rádio, de contar histórias, para incentivar os ouvintes e leitores a descobrirem o café”, fala Romoaldo.
Depois de quase 15 anos estudando o café, o jornalista se tornou especialista em harmonização e seleção de grãos. Atualmente, além de falar sobre a bebida para milhares de pernambucanos por meio do quadro que apresenta há dez anos na Rádio Jornal, ele é juiz de competições entre baristas e palestrante.