Ciel Santos abraça sua individualidade em 'Enraizado'

Novo álbum/espetáculo do pernambucano contém influências da trajetória pessoal do artista: da sua relação com a cultura popular à sua androginia
João Rêgo
Publicado em 13/05/2019 às 12:57
Novo álbum/espetáculo do pernambucano contém influências da trajetória pessoal do artista: da sua relação com a cultura popular à sua androginia Foto: Foto: Divulgação


Música, dança, teatralidade e cultura popular. Enraizado, novo disco do ator, cantor e bailarino Ciel Santos, contém influências de cada uma das áreas que o pernambucano trabalha. Todo esse emaranhado artístico começou desde a pré-concepção do projeto, que nasceu do espetáculo de mesmo nome. As músicas são, na sua maioria, as que foram tocadas nas apresentações em 2017.

“A gente sentia que o público curtia muito as músicas. E o disco foi uma forma de levar para o estúdio a mesma energia do espetáculo, além de enxertar mais elementos” conta Ciel.

Além de traduzir toda fisicalidade e poética das composições, o projeto também atualizou o próprio espetáculo anterior.“A roteirização, a iluminação, e os figurinos são todos diferentes. Introduzimos também novas músicas e mudamos a ordem de algumas. Além de atualizar termos de 2017 para outros mais inclusivos nos dias atuais. Afinal, nosso trabalho também é educativo” explicou o artista.

O espetáculo Enraizado é, em resumo, uma narrativa dramático-musical, através do paralelo entre o ciclo de vida de uma planta e a trajetória artística de Ciel. É nesse sentido que o trabalho carrega diversos traços auto-pessoais do pernambucano – que, por sinal, tem muito a dizer.

Natural de Sapucarana, área rural do município de Bezerros, no Agreste do Estado, Ciel sempre enfrentou dificuldades por causa da androginia da sua voz e sua sexualidade. Até por isso, tanto o espetáculo quanto o disco carregam um sentimento de frontalidade e potência quando buscam pela cultura popular – onde Ciel teve todas suas raízes artísticas –, sua força de expressão.

“Eu não consigo ser eu sem ser cultura popular. E dentro desse cenário eu queria usar saia e batom” destaca o cantor que ainda enxerga no meio formas de preconceitos cristalizadas. “Homossexual cantando não é novidade. Mas a gente ainda precisa sair do muro e levantar bandeiras. Há representatividade no pop e no meio alternativo, mas pouco na cultura popular. Meu objetivo é levar isso para uma camada de público dentro dessa representatividade”.

O DISCO

Já disponível apenas em formato digital e gravado de forma independente, Enraizado contém 10 faixas autorais além da regravação de Carcará, composição de João do Vale e José Cândido. A direção musical e arranjos são de Mauricio Cezar.

As influências, conta Ciel, vão desde Ney Matogrosso a Maria Bethânia, além da cultura popular – integrando dança, poesia e teatro nas músicas.

No conceito visual, o artista emulou antigos retratos renascentistas no contexto agrestino, ainda segundo ele, como forma de engrandecer suas memórias dentro dessas estruturas. Os personagens, inclusive, são membros da sua própria família.

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