Na noite deste domingo, os pernambucanos poderão contemplar uma das "Top 20 performances para ver ao vivo", segundo o jornal NY Times. O grupo norte-americano Hypnotic Brass Ensemble se apresenta hoje, a partir das 19h, no Estelita. O conjunto é composto por sete filhos do lendário músico Phil Cohran – histórico trompetista da Sun Ra Arkestra.
Entre o jazz cósmico, o legado do seu pai e tendências musicais contemporâneas, a Hypnotic vem ressignificando o que se convencionou a chamar de "brass band". Suas sonoridades são diversificadas e variam entre seus múltiplos trabalhos. Já alcançaram, por exemplo, níveis mais experimentais no recente Book of Sound, como também prestaram homenagens ao jazz clássico dos anos 50, no LP Bad Boys of Jazz. O projeto, por sinal, irá compor boa parte do setlist da apresentação no Recife.
"Não inventamos o gênero, pelo contrário, nós tornamos ele popular e vibrante novamente. Antigamente, mesmo sendo vital para as performances ao vivo, as brass bands estavam se tornando adereços substituíveis nas produções. Hoje em dia, eu vejo um crescimento ao redor do mundo. Vários artistas vem as usando, constantemente, no estúdio e também no palco" conta em entrevista ao Jornal do Commercio, Cidjan Groves, trombonista do grupo.
O Brasil não é território desconhecido para a banda – que já realizou concertos diversas vezes no país, incluindo no ano passado. Não será também sua primeira vez no Nordeste – onde se apresentaram em 2010, na cidade de Salvador. A vinda ao Recife, no entanto, é uma novidade.
"Desde que decidimos vir a Pernambuco, estamos buscando contatos com a cultura do estado. Essa, inclusive, é a razão de percorremos o mundo. Não apenas para performar, mas também absorver a cultura e história desses lugares para, de certa forma, aprimorar nosso som. Fizemos tours pelo Brasil durante nove anos, mas sempre perdemos a chance de tocar no Recife. Dessa vez a gente insistiu bastante, e conseguimos".
A presença da cultura do hip hop, do jazz clássico e da inventividade de nomes como Sun Ra se mesclam nos trabalhos da Hypnotic. Acima de tudo isso, está a principal influência do conjunto: seu pai.
Para além da sua prolífica e inovadora carreira, Phil Cohran estava constantemente passando seus conhecimentos sobre música. Ensinava em escolas, cadeias e também na sua casa. “Nosso pai sempre será uma grande influência, em todos os aspectos. Desde os nossos processos criativos até a nossa perspicácia nos negócios. O que o mundo vê agora, através da gente, é a continuação do legado dele. Desde pequeno, ele nos ensinou que um artista e os produtos da sua criatividade devem ser usados em benefício da sua família e do seu povo” ressalta Cidjan
O legado de Cohran, como sua obra, conta o trombonista, ultrapassa a música, e diz muito sobre estética, filosofia de vida e princípios.
“Aprendemos que todas as coisas começam no paraíso e vêm a nossa terra depois. A música é a nossa conexão com esse processo. Enquanto nosso pai era introduzido às correlações entre as estrelas e a vida cotidiana pelo Sun Ra, ele elevou esses ensinamentos para mapear cada canto do céu, e decifrar as sonoridades que embelezam esses movimentos. Essa filosofia é o que tentamos trazer, não só para a música, mas nossa vida em geral”.
E vem dando certo. O conjunto já foi elogiado pelo ex-presidente Barack Obama – que os convidou para fazer performances durante sua campanha presidencial. A Hypnotic também já realizou diversas colaborações com grandes artistas de variados gêneros musicais. Prince, Damon Albarn, Tony Allen, Mos Def e, recentemente, Snoop Dogg – para citar alguns.
“Geralmente quando fazemos essas colaborações são com músicos que também são fãs da obra do nosso pai – e nos inserem no som, de uma certa forma, para manter esse legado” afirma Cidjan.
Ele conta também que a banda não costuma escutar muito da música contemporânea, suas maiores influências estão no século passado. “Curtimos mais a soul music dos anos 60, 70, o rock n’ roll dos 80, o jazz dos 50, a house music dos 90, e do hip hop da Wu-Tang Clan e Tupac – que são nossas maiores inspirações. Afinal, somos todos filhos do hip hop! E nessa nova fase de crescimento do gênero, curtimos esse lado mais experimental, com redefinições. As linhas estão ficando cada vez mais borradas, e isso é bom para música em geral”.