Poder de compra do brasileiro melhorou depois do real

Inflação corroia os salários e dificultava o planejamento
Emídia Felipe
Publicado em 30/06/2014 às 10:15
Inflação corroia os salários e dificultava o planejamento Foto: Édio Jr/Jornal da Manhã


“Estamos torcendo por você – parabéns.” As congratulações otimistas do empresário Mauro Rosa eram para o real, no dia em que a nova moeda entrou em vigor. Para marcar a data que Mauro acreditava ser o começo de uma nova fase no Brasil, ele guardou a primeira nota de um real que caiu em suas mãos, colada ao lado de preços de vários produtos que ela poderia comprar (veja na foto abaixo).

Até hoje a cédula fica em exposição, cuidadosamente guardada em uma moldura com um vidro protetor. O quadro, lembrança da virada que o Brasil dava na própria história, está pendurado no escritório de Mauro, dentro da Irisom, loja de instrumentos musicais no centro de Marília, interior de São Paulo.

Recentemente, a imagem dessa relíquia correu o Brasil, através de uma publicação da filha, Daniela, no Facebook. O JC procurou o empresário para ouvir sua história de alegria e desencanto com o real.

“Essa eu não vou dar pra ninguém”, disse Mauro quando recebeu a nota, em 1994. As lembranças que ele tem daquela época são boas. “Era dólar, né?”, pondera, ao recordar a paridade entre as moedas brasileira e americana. Na noite de 30 de junho, os brasileiros foram dormir precisando entregar 2.750 cruzeiros reais (Cr$) para comprar um dólar. Na manhã de 1º de julho, cada real valia um dólar americano. Igualdade, finalmente, ao menos na moeda. Dois anos se passaram até que um dólar custasse mais de um real.

Os ventos correram bem para ele não só como consumidor, mas também como vendedor. “Muita gente queria comprar piano, violão e outros instrumentos mais sofisticados.” A animação não era só dele. O País respondeu às mudanças com um salto inédito na sua história: o Produto Interno Bruto (PIB) saiu de R$ 349 bilhões em 1994, em valores correntes, para R$ 4,8 trilhões no ano passado, segundo dados do IBGE.

Porém, nos últimos 20 anos, essa animação arrefeceu. Mauro já não está tão otimista. Na vizinhança dele, a cerveja já custa mais de R$ 7, para pegar o ônibus são R$ 2,50 e o litro da gasolina já custa R$ 2,99. Afinal, ainda de acordo com o IBGE, de julho de 1994 até agora, os brasileiros já pagam, em média, 359,89% a mais por produtos e serviços – no Recife, esse índice chegou a 374,92%. Nesse período, os segmentos que mais encareceram no País foram combustíveis (917,8%), aluguel e taxas (835,8%), comunicação (833,1%), pescados (672,6%), plano de saúde (672,6%) e transporte público (652,6%).

Mauro Rosa não é economista, mas sua experiência empresarial lhe permite analisar que, embora ainda seja um cenário muito melhor do que havia antes do real, o momento atual requer atenção. “A inflação existe. Energia aumentou, supermercado aumentou... tudo aumentou”. Para ele, o impulso ao consumo em uma população com pouco dinheiro e sem educação financeira criou um novo monstro: o do endividamento.

Além disso, o poder de compra não acompanhou a escalada dos preços. “Houve uma parada no acréscimo da rentabilidade do cidadão”, opina Mauro Rosa. E há dados que confirmam a avaliação. Desde o início do Plano Real, quando era de R$ 64,79, o salário mínimo teve incremento nominal de 1.019,2%. Mas, descontada a inflação, esse ganho na verdade foi de apenas 146%. O cálculo é do Instituto Assaf e também considera outros índices, como o IGPM. “Estamos precisando voltar à época da paridade”, afirma Mauro Rosa.

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