Que o pernambucano adora cerveja, os 5 milhões de litros consumidos a cada mês no Estado já denunciam. O que nem todo mundo sabe é do pioneirismo de Pernambuco na história das brejas, que remonta aos tempos da invasão holandesa. Na primeira incursão às terras recém-conquistadas, em 1640, o Conde Maurício de Nassau teria trazido na sua comitiva artistas, cientistas, estudiosos e – para refrescar, que ninguém é de ferro – o mestre cervejeiro Dirck Dicx. Com ele, instalou-se no bairro das Graças, na Zona Norte do Recife, a primeira cervejaria das Américas, chamada de La Fontaine.
Quase quatro séculos mais tarde, essa e outras curiosidades guiam um delicioso passeio etílico-cultural promovido pelo sommelier de cervejas José Jayme.
O interesse crescente pelo cenário de produção dos rótulos artesanais motivou a criação do Recife Beer Tour e tem feito as cervejarias da Região Metropolitana abrirem as portas ao público. Juntam-se a elas as fábricas de grande porte da Ambev e do Grupo Petrópolis em Itapissuma, que completam a rota do turismo cervejeiro no Estado.
Apesar de ser possível agendar visitas diretamente nas cervejarias, o Beer Tour oferece uma experiência mais completa e divertida. O ponto de partida, geralmente às 9h, é o Jardim do Baobá. Do píer, toma-se o barquinho para navegar por cerca de meia hora pelo Rio Capibaribe até o ponto onde teria se localizado a tal cervejaria de Nassau.
“Não se sabe ao certo, mas acredita-se que ficava na região da Capunga, numa residência chamada La Fontaine, entre as atuais Rua das Creoulas (originalmente uma trilha indígena) e a Cardeal Arcoverde, onde o Conde morou na sua chegada a Pernambuco”, conta
Concluído o capítulo holandês, o tour segue para uma das fábricas estruturadas para visitação, entre as mais de 10 do Estado, que já produz quase 500 mil litros de cervejas artesanais. Desta vez, a escolhida foi a Ekäut, uma das pernambucanas mais conhecidas e premiadas, onde o líder de experiência cervejeira Raphael Vasconcelos apresenta todas as etapas da produção, desde a moagem e preparação do mosto cervejeiro até a fermentação, maturação e engarrafamento. Segundo ele, a fábrica tem 100 mil litros de capacidade e produz mais de 20 rótulos, incluindo as cervejas de linha, as sazonais (disponíveis só em algumas épocas do ano) e as ciganas (de outras marcas que não possuem fabricação própria).
O momento mais esperado é o da degustação. Há provas fresquinhas direto do tanque, mas é na mesa do bar que se aprende na prática a distinguir os estilos (IPA, APA, Munich Helles, Witbier...), a partir da cor, opacidade, cheiro e sabor da cerva, claro. No fim, os visitantes ainda ganham de brinde o picolé de cerveja, resultado da parceria da Ekäut com a sorveteria Frisabor.
Nas outras cervejarias, a visitação tem um roteiro semelhante. A diferença está no tamanho e nos atrativos agregados para atrair e fidelizar o consumidor. A DeBron, por exemplo, acaba de ser ampliada, com um espaço que comporta eventos para até 1.200 pessoas, palco e um bar equipado com 12 torneiras de chope, aberto ao público aos sábados. Também super premiada, inclusive com a sua Imperial Stout considerada a melhor do mundo em 2018 pelo World Beer Awards, a cervejaria aposta numa alta de 20% no faturamento com a nova estrutura. Para isso, já articula parcerias com agências de viagens e planeja abrir diariamente a partir de fevereiro, quando a lojinha também já estará pronta.
Outra que tem novidades no próximo mês é a Patt Lou. Depois da mudança de Vitória de Santo Antão para a Avenida Norte, em Casa Amarela (Zona Norte do Recife), a cervejaria vai aumentar a produção em 30% e começará a promover tours guiados. O bar de fábrica, com capacidade para até 200 pessoas, já está em pleno funcionamento, com música ao vivo de quarta a domingo.
Estrutura novinha em folha também é a da Risoflora, que acaba de se instalar na Estrada de Belém, em Campo Grande. Com um investimento de R$ 1,5 milhão, estima produzir 10 mil litros, de pelo menos seis estilos que apostam em ingredientes locais, como rapadura e oiti (!). Visitas são realizadas apenas com agendamento prévio para grupos de pelo menos três pessoas, com degustação gratuita.
Em Olinda, a Duvália garante a animação aos sábados, quando quase toda a fábrica se transforma em um espaço de confraternização entre amigos, que se reúnem para provar os chopes dos dez estilos produzidos ali e curtir o som dos DJs e bandas convidadas. Tem tour também, claro, com o mesmo charme de tomar a cerveja direto do tanque. Para quem se interessou, um aviso: hoje e nos próximos fins de semana, até 8/2, a Duvália sobe a ladeira. Em clima de Carnaval, transfere suas atividades temporariamente para o Quintal Dona Massa, na Rua de São Bento 274, na Cidade Alta.
Cerveja, turismo e diversão também são a receita do mais novo atrativo do Bairro do Recife. Por onde a Choppcleta passa arranca exclamações... e selfies. A voltinha na bike para até 12 pessoas dura 30 minutos, percorrendo as principais ruas e monumentos históricos, com parada estratégica no Marco Zero. Além de permitir uma visão privilegiada do bairro, a uma altura de cerca de dois metros, o passeio conta com um “detalhe” importante: enquanto pedala, o ciclista pode tomar chope da Babylon à vontade. Só precisa ter cuidado para manter o prumo quando descer da bicicleta.
De olho na concorrência das artesanais, as grandes cervejarias têm buscado novas estratégias para se aproximar do consumidor e a visitação às fábricas é uma das que têm dado bons resultados. Na planta da Ambev (Antárctica, Skol, Brahma, Bohemia, etc.) , o programa Beer Lovers já recebeu mais de 11 mil visitantes em um ano e meio de operação. No Brasil, outras seis unidades são abertas aos turistas: Rio de Janeiro, Aquiraz (CE) e Adriática (PR), além de Águas da Serra, Jaguariúna e Agudos, em São Paulo.
A visita começa no bar, onde os visitantes são convidados a viajar pela história da cerveja até 9 mil anos A.C., quando o “pão líquido” surgiu na Mesopotâmia. Vídeos curtinhos auxiliam a apresentação, recheada de informações didáticas sobre a “mágica” que transforma água, malte de cevada, levedura e lúpulo, entre outros ingredientes, numa das bebidas mais apreciadas do mundo. É o aperitivo antes do ingresso propriamente na área de produção, com um pitstop diante da linha do tempo que mostra a evolução da Ambev no mundo. Uma vez junto aos tanques e esteiras de engarrafamento, tem-se ideia das dimensões superlativas dessa indústria. Como o pessoal vai ali para beber, além de conversar, tem degustação das cervejas segundos depois de prontas, na etapa de filtração, e tem ainda uma surpresa final, com uma aula sobre harmonização de alguns estilos com petiscos clássicos. É tudo tão dinâmico que as três horas de visitação passam voando.
A mesma sensação ocorre na vizinha fábrica do Grupo Petrópolis (Itaipava, Petra, Crystal, Cacildis…). Ali, as visitas já ocorrem há quatro anos, com uma média de 350 pessoas por mês, curiosas para ver de perto a estrutura que tem capacidade de produção de 600 milhões de litros por ano. Da chegada da cevada ao envase, o visitante conhece todas as fases da produção e o minucioso trabalho dos mestres cervejeiros. O ponto alto é a degustação de 40 minutos ao final do Beer Tour e a passadinha pela boutique, onde é possível comprar produtos da marca. A experiência também é oferecida nas fábricas de Alagoinhas (BA), Petrópolis e Teresópolis, ambas no Rio.
Em tempo: Para quem se assustou com as notícias de contaminação da cerveja Belorizontina, da mineira Backer, a Associação Pernambucana de Cervejarias Artesanais (Apecerva) assegura que nenhuma das cervejarias pernambucanas usa a substância do dietilenoglicol em seus processos.
Beer Tour, por José Jayme:O passeio começa no Jardim do Baobá e inclui 30 minutos de barco no Rio Capibaribe, regado a muita história e vários estilos das brejas locais. O destino final é em uma das cervejarias artesanais da RMR, com tour guiado e mais degustações. Custa R$ 110. Agendamento: 99451-5189.
Choppcleta da Babylon Station: A Choppcleta leva os amantes da cerva a pedalar por 30 a 40 minutos pelo Bairro do Recife, com open bar de chope Pilsen Babylon. Tours a cada hora, a partir das 10h, nos sábados e domingos. Preço: R$ 40. Mais: 99982-0572.
Ekäut Cervejaria Artesanal: Em uma das mais conhecidas cervejarias artesanais do Estado, o tour é gratuito aos sábados e dura cerca de 20 minutos, incluindo a experiência no bar com a degustação de dois estilos. A fábrica da Ekäut fica na Estrada da Mumbeca 305 B. Para agendar: 4101-1661.
Cervejaria Patt Lou Microbrewery: O bar de fábrica da Patt Lou (@cervejariapattlou) já está funcionando na Av. Norte, com programação musical de quarta a domingo. O tour pela linha de produção só terá início em fevereiro e deve incluir degustação de até cinco estilos e um copo de vidro como brinde. O valor ainda está em definição.
Ambev para Beer Lovers: A fábrica da Ambev em Itapissuma recebe visitantes às sextas (8h30 e 13h) e sábados (9h30 e 14h) e no 1º domingo de cada mês (10h30). O tour é gratuito, dura três horas e inclui harmonização das cervejas com petiscos clássicos. Inscrições no www.ambev. com.br/beer-lovers.
Beer Tour do Grupo Petrópolis: Na fábrica do Grupo Petrópolis, em Itapissuma, a visitação ocorre de segunda a quinta, das 9h às 12h. Pelo menos 40 minutos são dedicados à degustação. Agendamento no beertour.itm@grupopetropolis.com.
Cervejaria DeBron: Com uma nova área recém-inaugurada na Estrada da Batalha 1832, a Cervejaria DeBron recebe o público aos sábados, das 8h às 17h, sempre com música. Os tours guiados ocorrem às 14h e às 15h, mas é preciso agendar. Custam R$ 30, com degustação de três estilos. Mais: 3342-4087.
Cervejaria Duvália: Os sábados sempre são de festa na fábrica da Duvália na Vila Popular, em Olinda, que costuma receber músicos e bandas locais. A animação começa às 10h e vai até as 18h no bar, com tour guiado gratuito às 10h, 11h e 12h e degustação de três estilos. Mais: 98121-9343.