Ao pensar na mais famosa franquia do cinema sobre navegação, é possível lembrar que poucas mulheres apareciam como tripulantes das embarcações. A vela, como em outros esportes, ainda é um ambiente predominantemente masculino. E, é até clichê dizer que isso está mudando, mas a tripulação do Barba Negra aporta na 31ª edição da Regata Recife - Fernando de Noronha com um dado diferente. Dos três presentes no barco, duas são mulheres: Mariana Schwarz e Patrícia Larica.
Assim como o marido Sérgio, Mariana também é habilitada como Capitão-Armador. Ela começou a velejar quando os dois iniciaram o namoro, há 14 anos. Desde então, se apaixonou também pelos barcos e há um ano o casal mora no Barba Negra. A decisão aconteceu ao trocar o antigo Delta 42 por um Delta 41. “Quando a gente viu, se apaixonou por ele e viu que não era para ficar num pier. Com o Brasil em crise, ninguém está ficando milionário, estávamos trabalhando demais, a conta não estava fechando. Era a hora”, contou.
Patrícia, que também tem o próprio barco, chegou a bordo para a Refeno. Amiga de Mariana, ela quem soltou as amarras do veleiro e seguiu para o Recife em outro barco. Da capital pernambucana, Patrícia retornaria para São Paulo. Mas, a convite da capitã, seguiu na travessia para o arquipélago de Fernando de Noronha. Apesar de terem tido uma noite difícil, o Barba Negra não apresentou problemas. Algo que Mariana credita também à presença da maioria feminina.
“A gente sabe os limites e geralmente tem mais cautela. Não é medo. Na hora de se movimentar no barco, lida com uma base mais segura. O homem, eu acho, que por ser seguro de si, já não tem. Mulher é mais cautelosa, então a gente teve zero acidente”, ponderou a velejadora, que também é publicitária.
Ela relata também outro ponto que, em sua opinião, não deveria nem ser um diferencial: o respeito entre tripulantes. Ninguém se trata com gritos ou xingamentos. Os gritos só acontecem em situações de urgência ou emergência e as decisões são compartilhadas. Filho de um capitão, Sérgio foi criado na vela também com a mãe e a irmã tripulando embarcações, lidando já com a presença feminina no barco. Por isso, em seu veleiro, Mariana não se sente diminuída.
“A representatividade da mulher na vela ainda é muito pequena. Existem vários grupos de WhatsApp onde nós nos damos apoio, porque o duro é que além da representatividade ser pequena, o papel da mulher às vezes em regata em um barco onde a maioria é masculina, é muito um papel de cozinhar, ajudar numa função de suporte, não numa função estratégica. Para a gente é super legal poder fazer de igual para igual”, destacou a capitã.
O Barba Negra completou a travessia em 42 horas, dois minutos e 14 segundos. Mariana e Patrícia celebraram não só a regata, mas também a experiência de velejar com outra mulher a bordo. “A primeira Refeno foi uma paixão arrebatadora. Para quem nunca fez, nunca correu uma Refeno, é muito emocionante. Eu fiz o check-in em lágrimas, foi muito lindo. A regata foi dura, mas com certeza toda vez que eu estiver por aqui, vou fazer uma Refeno”, garantiu Mariana.