Governo argentino diz que marcha pelo promotor morto teve fins políticos

Mais de 400 mil pessoas acompanharam a marcha em Buenos Aires na quarta-feira, convocada para homenagear o promotor Alberto Nisman, morto misteriosamente há um mês
Da AFP
Publicado em 19/02/2015 às 12:50
Mais de 400 mil pessoas acompanharam a marcha em Buenos Aires na quarta-feira, convocada para homenagear o promotor Alberto Nisman, morto misteriosamente há um mês Foto: Foto: STR / NA / AFP


O governo argentino afirmou nesta quinta-feira que a passeata silenciosa realizada na véspera pela morte do promotor que acusou a presidente Cristina Kirchner de acobertar terroristas iranianos em um atentado antissemita em 1994 teve caráter político e opositor.

"Temos que identificar que, por trás de cada uma destas manifestações, existe um interesse político", afirmou o chefe de Gabinete, Jorge Capitanich, em sua habitual coletiva de imprensa na Casa do Governo.

Mas Capitanich considerou que "a mobilização deve ser feita para que o Poder Judiciário seja autônomo das corporações, para que nenhum juiz decida conforme os interesses corporativos".

"Este fato (a morte do promotor) deve ser esclarecido definitivamente porque o povo argentino precisa da verdade e são os promotores e os juízes que em definitivo têm a verdade em suas mãos", enfatizou.

"A nós parece muito importante reconhecer que o povo tem todo o direito de mobilizar-se, mas não compartilhamos dos motivos; houve cartazes contra o governo, por isso foi identificada como uma marcha de oposição", afirmou ainda.

O secretário da presidente, Aníbal Fernández, concordou em destacar que não se tratou "de uma manifestação para prestar homenagem a ninguém".

"Há pessoas que entenderam que a melhor maneira de levar a uma desestabilização (do governo) era fazer esse tipo de coisa", sentenciou.

Mais de 400 mil pessoas acompanharam a marcha em Buenos Aires na quarta-feira, convocada para homenagear o promotor Alberto Nisman, morto misteriosamente há um mês, informou a polícia da capital, que é governada por Mauricio Macri, de oposição e candidato da direita às eleições de 25 de outubro no país.

Já a Polícia Federal, que responde ao governo, calculou o multidão da marcha em 50 mil pessoas.

Batizada nas redes sociais de "a marcha dos guarda-chuvas", pela forte chuva que caía, a grande passeata transcorreu sem incidentes e em tranquilidade, no trajeto que separa o Congresso de Buenos Aires e a Praça de Maio, em frente à sede do governo.

O ato foi convocado por seis promotores opositores ao governo de Cristina Kirchner.

Em ordem, respeitando o lema do silêncio, casais e, sobretudo idosos, soltaram a voz apenas para pedir justiça, ou murmurar trechos do hino nacional.

Em outras cidades argentinas, como Santa Fé e Mar del Plata, centenas de cidadãos também aplaudiram nas praças em solidariedade.

O ato teve réplicas também em frente às embaixadas argentinas em Brasil, Espanha, Itália, França, Austrália, Israel, Chile e Uruguai.

Para o sociólogo e diretor da consultoria Nueva Mayoría, Rosendo Fraga, "a marcha é um catalisador de reivindicações subjacentes na sociedade, como a impunidade".

A origem do caso, que envolve uma confusão judicial e política, é a explosão que destruiu sede da Amia, em 1994. O ataque deixou 85 mortos e 300 feridos.

Nisman foi encontrado morto no banheiro de seu apartamento em 18 de janeiro, com um tiro na cabeça de uma pistola calibre 22 emprestada por um colaborador. Havia apenas uma bala no chão e o corpo obstruía a porta.

Na Argentina quase ninguém acredita na hipótese de suicídio. Nisman havia acusado Cristina Kirchner quatro dias antes e, na manhã seguinte de sua morte, deveria justificar a denúncia no Congresso.

Em 2005, com o apoio do falecido ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), Nisman acusou ex-governantes iranianos, entre eles o ex-presidente Ali Rafsanjani, de envolvimento no atentado contra a Amia.

Em 2013, Cristina Kirchner assinou um acordo com o Irã para criar uma comissão de investigação integrada por juristas que não fossem nem argentinos, nem iranianos, para levar os acusados ao banco dos réus.

Nisman e a numerosa comunidade judaica discordaram do acordo e alegaram que Teerã não era confiável.

Na acusação contra Kirchner, apresentada na sexta-feira pelo promotor Gerardo Pollicita, Nisman disse que a presidente tentava livrar os iranianos das acusações, em troca de petróleo, apesar de o combustível de Teerã ser incompatível com as refinarias argentinas.

Outro argumento é que Kirchner pediu a retirada dos pedidos de captura internacional contra os iranianos. A Interpol negou a acusação.

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