Bolívia a uma semana das eleições mais disputadas em décadas

O presidente Evo Morales, que disputa o quarto mandato, corre, pela primeira vez, o risco de perder a disputa
AFP
Publicado em 13/10/2019 às 21:06
O presidente Evo Morales, que disputa o quarto mandato, corre, pela primeira vez, o risco de perder a disputa Foto: Foto: Yamil Lage / AFP


A Bolívia entrou na reta final da campanha para as eleições do próximo domingo, nas quais o presidente Evo Morales tenta um quarto mandato e que, segundo as pesquisas de opinião, serão as mais disputadas em décadas.  

Faltando uma semana para as eleições, as pesquisas de opinião preveem resultados divergentes: uns antecipam que o presidente de esquerda será reeleito em primeiro turno, mas outros dizem que terá que disputar o segundo com o opositor de centro Carlos Mesa, que governou a Bolívia em 2003-2005. 

Morales, que fará 60 anos em 26 de outubro, venceu com folga as últimas três eleições. Pela primeira vez, corre o risco de ser tirado do poder nas urnas, embora lhe favoreça que a oposição chegue fragmentada com oito candidatos às eleições de 20 de outubro. 

Uma consulta da empresa Ipsos, divulgada neste domingo, deu a Morales 40% das intenções de voto, 18 pontos a mais que Mesa (22%).  

O presidente se reelege no primeiro turno se conseguir 50% mais um dos votos ou se, tendo mais de 40%, obtiver uma vantagem de 10 pontos sobre o segundo colocado. 

O resultado previsto pela Ipsos tornaria, portanto, desnecessário o segundo turno, mas outras pesquisas dizem o contrário, razão pela qual as autoridades têm tentado silenciá-las. 

Um estudo da Universidade Mayor de San Andrés (UMSA), a principal da Bolívia, atribuiu ao presidente indígena indígena 32,3% dos votos contra 27% para Mesa, o que forçaria um segundo turno em que os votos de todos os opositores poderiam se aglutinar. 

O Órgão Eleitoral, ligado a Morales, não autorizou a UMSA a publicar esta pesquisa e por isto o reitor desta universidade pública, Waldo Albarracín, denunciou "censura" e divulgou os resultados no Twitter, despertando a ira do governo. 

"O que se pode esperar de Albarracín, ele passou para a história negra da UMSA", declarou o ministro do Governo (Interior), Carlos Romero, destacando que Morales recebe o "apoio multitudinário" em outras pesquisas e em viagens pelo país. 

O ministro assegurou que os bolivianos votarão pela "certeza" da prosperidade econômica nos 13 anos do governo atual, argumento ao qual Morales também recorreu neste domingo. 

"Demonstramos que a Bolívia tem muita esperança, tem muito futuro no econômico em especial", disse o presidente, ao entregar obras públicas em La Paz. 

Sem maioria legislativa

Todas as consultas posicionam em terceiro lugar o senador de direita Oscar Ortiz, com quase 10% e em quarto o ultraconservador pastor evangélico Chi Hyun Chung, com 6%. 

Este pastor, nascido na Coreia do Sul e naturalizado boliviano, despertou a fúria de coletivos de minorias sexuais ao recomendar há um mês tratamento psiquiátrico para gays e lésbicas. 

Os outros cinco candidatos opositores não superam os 2% das intenções de voto, enquanto os indecisos beiram os 10% faltando uma semana para as eleições bolivianas mais disputadas desde os anos 1950. 

Além do novo presidente e vice para o período 2020-2025, nas eleições serão escolhidos os 166 membros do Congresso bicameral. 

No entanto, as pesquisas antecipam que o vencedor das presidenciais carecerá de maioria absoluta no Parlamento, algo que até agora permitia a Morales levar adiante todas as suas propostas. 

A Igreja Católica advertiu nesta sexta-feira para um clima de "desconfiança" em setores bolivianos por medo de uma possível "manipulação" dos resultados, uma afirmação rechaçada pelo governo. 

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