Após protestos em pelo menos 250 cidades do Brasil e a maior manifestação contra o governo de Jair Bolsonaro (PSL) desde o início de sua administração, o primeiro escalão do governo minimizou os atos contra as reduções orçamentárias na área da educação.
Para o vice-presidente, general Hamilton Mourão (PRTB), os manifestos desta quarta-feira (15) foram pontuais não havendo, portanto, risco de o País enfrentar uma nova onda de protestos como os que ocorreram em 2013, que culminaram no desgaste da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Na avaliação do general da reserva, o movimento de estudantes e professores não desestabiliza o governo Bolsonaro, mas há a necessidade de que a gestão federal aprimore sua estratégia de comunicação para evitar o que ele chamou de “desinformação”.
O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), afirmou que as manifestações “foram importantes, mas não foram grandes”.
“Primeiro precisamos ter a tranquilidade de saber que numa democracia as manifestações são normais. O PT e a CUT que aparelharam as universidades brasileiras. As distorções que as universidades brasileiras têm hoje, em muitos casos são fruto disso”, disse o ministro sem explicar quais seriam as distorções.
Ele ressaltou que manifestações grandes foram as que ocorreram em 13 de março de 2016, que reuniram 2,5 milhões de pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo, pedindo o impeachment de Dilma. “Nós esperávamos que fosse assim. Não achei grande, achei importante”, avaliou.
Sobre o protesto de quarta, Mourão voltou a dizer que houve exploração política e que tem havido uma “certa desinformação no seio da sociedade”, uma vez que governos anteriores também estabeleceram contingenciamentos.
“Se o protesto era sobre educação, por que tinha Lula Livre? O ex-presidente já foi condenado em três instâncias. Então, esse pacote já virou”. “Não vejo isso [que o protesto desestabiliza o governo]. Acho que todos os protestos foram de forma tranquila”, acrescentou.
Apesar do diagnóstico de Mourão e Lorenzoni, o número de manifestantes nas ruas, sobretudo em São Paulo e no Rio de Janeiro, surpreendeu o setor de inteligência, que esperava que os protestos sofressem uma redução ao longo do dia. Com a força das mobilizações, o receio de auxiliares presidenciais, sobretudo do núcleo militar, é que novas manifestações sejam convocadas nas próximas semanas, incluindo protestos contra as reformas previdenciária e tributária, desgastando ainda mais a imagem do governo.
Para Mourão, para evitar falhas na comunicação, é necessário que o Palácio do Planalto informe medidas do governo de forma objetiva. Ele considerou, inclusive, a possibilidade de os anúncios serem feitos por meio de pronunciamento nacional.
“Quando for informar determinadas coisas, temos de informar de forma objetiva, não subjetiva”, disse.
No Palácio do Planalto, a avaliação foi a de que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, não soube explicar de maneira adequada a necessidade do bloqueio de recursos, transformando um problema pontual em uma crise de governo. No núcleo militar voltou a defesa por uma nova intervenção na pasta. Para assessores fardados, o ministro subestimou o potencial das manifestações e não soube administrar um cenário de crise que ele mesmo estimulou.
Nesta quinta-feira (17), em Dallas, no Texas, onde recebeu o prêmio de personalidade do ano, oferecido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, Bolsonaro voltou a falar sobre as manifestações, afirmando que “a esquerda brasileira infiltrou e tomou não só a imprensa, mas também as universidades e as escolas do ensino médio e fundamental”.
Na quarta, Bolsonaro classificou os manifestantes de “idiotas úteis” e “massas de manobra”.