''Moro viola sempre o sistema acusatório'', diz procuradora em novo vazamento da Lava Jato

Novos diálogos foram publicados na madrugada deste sábado (29) pelo The Intercept Brasil
JC Online
Publicado em 29/06/2019 às 9:51
Novos diálogos foram publicados na madrugada deste sábado (29) pelo The Intercept Brasil Foto: Foto; EVARISTO SA / AFP


Atualizada às 10h20

O site The Intercept Brasil publicou, na madrugada deste sábado (29), novos trechos de conversas atribuídas a procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato. Desta vez, dois procuradores do Ministério Público Federal (MPF) aparecem fazendo duras críticas ao então juiz Sergio Moro. Em conversa no dia 1º de novembro de 2018, pelo aplicativo Telegram, a procuradora Monique Cheker disse que Moro “viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados”. 

Em outro trecho, Antônio Carlos Welter, também procurador da operação, afirmou: “Cara, eu não confio no Moro”. Segundo o The Intercept Brasil, a troca de mensagens ocorreu uma hora antes de o ex-juiz anunciar ter aceito o convite de Jair Bolsonaro (PSL) para integrar o alto escalão do Executivo.

O procurador Deltan Dallagnol, no novo vazamento, mostra-se preocupado com a ida de Moro para o Ministério da Justiça. “Jan, não sei qual sua posição sobre a saída do Moro pro MJ, mas temos uma preocupação sobre alegações de parcialidade que virão. Não acredito que tenham fundamento, mas tenho medo do corpo que isso possa tomar na opinião pública. Na minha perspectiva pessoal, hoje, Moro e LJ (Lava Jato) estão intimamente vinculados no imaginário social, então defender o Moro é defender a LJ (Lava Jato) e vice-versa”, escreveu Dallagnol, em 6 de novembro de 2018, à Janice Agostinho Barreto Ascari, Procuradora da República da 3ª Região (MS e SP).

O site ainda publicou trechos de conversas entre procuradores em um grupo batizado de 'MPF Gilmar Mendes'. Nele, o procurador José Augusto Simões Vagos classifica o movimento de Sergio Moro de “inoportuno”, opinião corroborada pelo colega Sergio Luiz Pinel Dias.

“Pessoalmente acho ruim para o legado da LJ (Lava Jato), por melhor que sejam as intenções dele de tentar influir por dentro. Para mim, a LJ, além de ser um símbolo, é um método de atuação das nossas instituições, que nos permitiu, até aqui, surfar juntos em uma excelente onda”, analisou.

Irritação

Em outra parte da conversa entre os integrantes da Lava Jato, um grupo de procuradores teriam se irritado com o comportamento da esposa de Sergio Moro, Rosângela Wolff, ao comemorar explicitamente a vitória do então candidato Jair Bolsonaro (PSL) nas urnas. Chamando o presidente eleito de 'Bolso', o procurador-chefe do MPF do Pará, Alan Mansur, comentou o seguinte comentário no grupo: “Esposa de Moro comemorando a vitória do Bolso nas redes”.

Na sequência, o ex-presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) José Robalinho Cavalcanti responde: “Erro crasso. Compromete Moro. E muito”. Em seguida, outra procuradora se irrita: “Como perde a chance de ficar de boa, pqp”, disse Janice Agostinho Barreto.

Explicações

No último dia 19, o ministro Sergio Moro foi chamado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado para explicar sobre as supostas conversas vazadas entre o então juiz e procuradores da Lava Jato. Como sua defesa, o antigo juiz questionou a autenticidade das conversas vazadas pelo site The Intercept desde o início de junho.

Por diversas vezes, Moro diz que houve um 'ataque criminoso' ao seu celular e aos aparelhos de procuradores. Moro ainda disse que por muitas vezes não se lembra de algumas mensagens divulgadas, o que segundo ele, poderiam ter sido 'adulteradas' antes da divulgação do site jornalístico. 

"Eu saí do Telegram e não tenho essas mensagens para afirmar se são autênticas ou não. Tem algumas coisas que eventualmente posso ter dito. E algumas que me causam estranheza. Mas vejo que podem ser parcialmente adulteradas. Por isso, desde o início sempre nos referimos como supostas mensagens, pois não tenho como verificar a legitimidade de material", afirmou Moro.

Quando questionado sobre a impropriedade das mensagens, Sergio Moro afirmou várias vezes que seriam normais e que os "diálogos absolutamente corriqueiros na tradição jurídica brasileira". Outro ponto bastante mencionado pelo ministro é a importância da Operação Lava Jato no combate a corrupção no Brasil. Para isso, Moro volta a afirmar que não se sabe ainda o alcance dos ataques feitos pelos hackers e que podem afetar as conquistas institucionais obtidas nos últimos anos.

Relembre

As conversas entre Sergio Moro e Deltan Dallagnol foram reveladas pela primeira vez no dia 9 de junho, pelo site The Intercept. A publicação traz uma série de mensagens privadas, fotos, documentos judiciais e outros itens compartilhados entre os dois e demais procuradores.

Em diálogos privados, as publicações mostram que o atual ministro teria sugerido ao procurador que trocasse a ordem de fases da Operação Lava Jato, cobrado agilidade em novas operações, dado conselhos estratégicos e pistas informais de investigação e sugeriu recursos ao Ministério Público.

Ainda de acordo com o site, as conversas fazem parte de um lote de arquivos secretos enviados por uma fonte anônima, antes da notícia da invasão do celular de Moro, na qual ele afirmou que não houve captação de conteúdo. “O único papel do Intercept foi receber o material da fonte, que nos informou que já havia obtido todas as informações e estava ansioso para repassá-las a jornalistas”, diz o site em uma das suas primeiras reportagens.

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