Cientista político e superintendente-executivo da Fundação Fernando Henrique Cardoso (FHC), Sergio Fausto vem ao Recife para dialogar sobre o desafio de construir um pacto democrático no Brasil. A palestra é gratuita e ocorre às 19h desta segunda-feira (4), no auditório do Softex, no Bairro do Recife. Para ele, que também faz parte do conselho-diretor do projeto Plataforma Democrática, que desenvolve pesquisas, publicações e seminários sobre as transformações da sociedade e da política na região e no sistema internacional, a primeira necessidade é reconhecer que é preciso, de fato, reconstruir o pacto democrático no País.
“Eu não quero dizer com isso que a gente esteja à beira de um regime autoritário, mas acho que é preciso reconhecer com muita clareza que existem tendências na sociedade e existe uma inclinação de parte do governo, em particular do presidente da República, que aponta na direção de um crescente enfraquecimento das instituições, dos valores, da cultura democrática do País.
O primeiro desafio é reconhecer que existe um risco à democracia no Brasil e que é preciso a união de vários setores democráticos, direita liberal, esquerda liberal, enfim, das várias matizes ideológicas, que acima de suas divergências, coloquem a necessidade de dizer, em alto e bom som, que esse risco existe e é necessário dizer não às tentativas de enfraquecer a democracia no Brasil”, explica.
A busca por uma alternativa à polarização entre bolsonarismo e petismo, na avaliação do cientista político, ocupa o segundo lugar entre os desafios para reconstruir o pacto democrático. “No momento, essa alternativa não está clara, acho que esse talvez seja o segundo maior desafio da reconstrução do pacto democrático. O primeiro momento é reconhecer que temos um problema. O segundo é tomar medidas, não visando as eleições de 2022, para resistir às tentativas de enfraquecer a democracia no Brasil. Já o terceiro momento é mais propriamente eleitoral, que precisa começar a ser construído a partir de agora, não em torno desta ou daquela candidatura, mas de propostas, de um programa, de uma visão do País que permita às forças democráticas encontrar um desaguadouro comum em 2022, evitando que haja uma repetição ainda mais trágica do que aconteceu em 2018”, afirma.
Sergio Fausto destaca ainda que há dificuldades para definir o futuro político. “Um dos problemas do Brasil é a dificuldade de vislumbrar o futuro, primeiro porque há uma série de problemas difíceis a serem resolvidos. Há desafios que são do Brasil e do mundo, como o impacto das mídias sociais na forma como a política se dá, a polarização que isso cria, as mudanças do clima... O que me preocupa mais é que o Brasil está muito dividido, tem um governo que joga na divisão, que provoca o tempo todo o antagonismo, o conflito, em torno de questões que drenam a energia do País, que deveria estar voltada para questões estruturais e do desenvolvimento da democracia”, diz.
A palestra de Fausto no evento promovido pelo Movimento Ética e Democracia, às 19h desta segunda (4), ocorre no auditório do Softex, na Rua da Guia, 142, no Bairro do Recife. O professor titular de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Colunista da Folha de S.Paulo Marcus André de Melo e o sociólogo e cientista político Antonio Lavareda serão os debatedores.