A preservação e o uso do enorme espaço do campus Recife da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
Com 147,15 hectares, campus da UFRPE na capital pernambucana está inserido em Zona Especial de Proteção Ambiental (ZEPA) da Prefeitura do Recife pela diversidade na flora e fauna
Dos 585 hectares que formam o bairro de Dois Irmãos, na Zona Norte do Recife, mais de 147,15 hectares, que correspondem a aproximadamente 105 campos de futebol, estão no traçado do campus Recife da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). À primeira vista, pode parecer uma área subutilizada - principalmente durante a pandemia, sem os alunos e profissionais que circundam os 22 departamentos da instituição em todos os horários do dia -, mas, na verdade, ela segue o caráter ambiental da região que também abrange o Parque Estadual de Dois Irmãos, formada por áreas verdes em meio ao perímetro urbano da capital pernambucana.
O campus está inserido em uma área instituída como Zona Especial de Proteção Ambiental (ZEPA), que tinha 86 hectares (61 campos de futebol) de vegetação em levantamento de 2013, fazendo com que qualquer intervenção dependa de um licenciamento que siga os Planos de Manejo, que são as regras ambientais das unidades de conservação. A determinação vem da Lei Municipal de Uso e Ocupação do Solo, sancionada em 1996, que classifica o perímetro como necessário à "preservação das condições de amenização do ambiente". Por isso, o poder público e a população devem preservar a maioria do lote da UFRPE.
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De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente do Recife, a unidade de Dois Irmãos "exerce importante influência para o equilíbrio ambiental da Cidade do Recife, apresentando grande riqueza de biota". No local, são registradas 635 espécies de flora, 232 espécies de avifauna e 270 espécies de outros grupos de fauna, havendo uma quantidade relevante de espécies endêmicas (presentes somente em uma determinada região geográfica) e de espécies com restrição ou em ameaça de extinção. Além disso, 91,3% das aves são de hábito residente, estabelecendo o seu processo reprodutivo na região, e 42,9% são espécies que apresentam comportamento dependente ou semidependente da mata.
Ainda, do total da área que pertence à UFRPE, 38,95 hectares foram ocupados por famílias que residem no bairro Sítio dos Pintos e nas comunidades Sítio São Braz e Córrego da Fortuna. Mas, em breve, será concedido um título de posse a cada morador, fazendo com que a terra deixe de pertencer à união e seja, então, de propriedade do Estado. Segundo a universidade, toda logística de cadastramento será de responsabilidade da Companhia Habitacional de Pernambuco (Cehab-PE).
Contudo, ainda há áreas disponíveis para novas construções. Entre os projetos, o Núcleo de Engenharia e Meio Ambiente (Neman) previa um centro de convenções e a construção de um acesso pela BR-101, frustrados pela falta de verba na instituição federal. "Planejávamos construir um prédio de cinco andares para o Departamento de Informática, novos prédios para o Departamento Tecnologia Rural e para o Departamento de Gastronomia e várias reformas, como no prédio Otávio Gomes, no de Ciências Florestais e Agronomia e de outros antigos", citou o diretor do Neman, Tadeu Fiqueiroa.
Mesmo assim, as áreas disponíveis e já utilizadas na Rural servem para além das aulas de graduação e pós, mas com atividades e serviços capazes de derrubar muros do conhecimento às comunidades que as circundam. "A Rural tem esse DNA de estar muito próxima à sociedade, sempre se caracterizou pela sua preocupação e pelo seu componente social, porque não acreditamos em uma universidade que se feche", afirmou o reitor, Marcelo Carneiro Leão.
Em torno de 150 programas são voltados à sociedade para auxiliar na superação das desigualdades sociais e na preservação do meio ambiente são coordenados pela Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Cidadania (PROEXC). "Ensino e pesquisa estão indissociáveis principalmente nas universidades públicas. As ações de extensão estão ligadas a projetos, programas e eventos como forma de dialogar e inferir em problemas sociais", explicou o pró-reitor e professor Moisés de Melo Santana.
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Entre eles, estão a Escola de Música, para crianças das comunidades vizinhas; projetos de popularização da ciência através da astronomia e da física, de educação nutricional, natação e cidadania para crianças, o Programa de Atenção Integral à Saúde dos Idosos e outros. Uma das beneficiadas por este último é a aposentada Lindalva Alves, que mora em Apipucos e fez exercícios gratuitos durante 3 anos na UFRPE, até a pandemia chegar. "A gente tinha dança, academia e caminhávamos no campo, era muito bom. Os professores são uma maravilha na nossa vida. Nas aulas, todo mundo ficava feliz, ninguém faltava. Não vemos a hora de voltarmos", contou.
O Instituto Menino Miguel (IMM) - batizado com o nome de Miguel Otávio, criança que morreu em 2020 ao cair do nono andar de prédio onde estava aos cuidados da patroa da mãe, no Recife - oferece formação para conselheiros tutelares na premiada Escola de Conselhos, acolhimento psicológico no Núcleo de Cuidados Humanos, e desenvolve pesquisas, projetos e políticas voltadas ao bem-estar e à qualidade de vida de crianças, jovens, famílias e pessoas idosas no Observatório da Família e Núcleo de Envelhecimento. Em breve, integrará também a UFRPE Solidária, antes Ruralinda Solidária, criada durante a pandemia para distribuir alimentos e produtos de necessidade básica a pessoas em situação de rua e refugiados.
"Temos uma relação muito forte com a família do Miguel. A mãe dele, Mirtes, dá a esse instituto um outro olhar, porque partimos da escuta de pessoas que sofreram violações de direitos humanos e que, como ela, teve a vida marcada por isso. Essa relação ultrapassa os nossos muros, fazendo com que tenhamos um olhar diferente para as pessoas. Em tempos de tantas violações contra os direitos humanos, o Instituto representa uma forma de esperança por dias melhores. Quando essa universidade abre espaço para que essas pessoas a ocupem, garantimos uma outra forma de vivê-la", pontuou o professor e diretor do IMM, Humberto Miranda.
Além das ações sociais, a UFRPE entrou com toda força na batalha contra a doença pandêmica com o Instituto para Redução de Riscos e Desastres de Pernambuco (IRRD), apoiado pelo Grupo JCPM e composto pelo Laboratório de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto (GEOSERE) e pelo Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Até hoje, o IRRD continua a monitorar diariamente os casos, óbitos e taxas de transmissão do novo coronavírus, sendo referência quando se trata de apontar o risco ainda existente no Estado.
O cuidado com a nutrição da população também se somou à produção do conhecimento nos departamentos de Engenharia Agrícola e Pesca e Aquicultura. No campus Recife, hortas e bancos de alimentos cultivados pelos estudantes são disponibilizados para periferias, e peixes doados para instituições filantrópicas, como explicou o professor e engenheiro de pesca Marcus Vinicius Lourenço. "No final de todo processo de desova, estudo, reprodução, e engorda dos peixes, temos um excedente, que doamos para ajudar quem precisa. Produtores rurais também podem vir à universidade e procurar a base de piscicultura, que fazemos toda a assessoria e tiramos as dúvidas", disse.
Os tutores de pets que não têm condições de arcar com altas despesas veterinárias encontram na Rural uma saída. Isso porque, além de tratar grandes animais, o Hospital Veterinário Escola da UFRPE faz, em média, 250 consultas, 100 procedimentos e 100 exames em cães e gatos por mês. As consultas de clínica médica e especialidades são gratuitas e acontecem de segunda a sexta-feira durante a manhã e tarde, via agendamento pelo número 3320-6441. "Temos vários grupos de pesquisa, o que traz um melhor serviço para a população e os animais de maneira geral. Na pandemia, funcionamos de acordo com protocolo aprovado pela reitoria", contou Joana D’arc, veterinária coordenadora do Hospital.
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Parcerias
Para que novos serviços possam se concretizar, a UFRPE lançou o Instituto de Inovação, Pesquisa, Empreendedorismo, Internacionalização e Relações Institucionais, chamado de Ipê, que viabiliza parcerias nacionais e internacionais através da transferência do conhecimento científico e tecnológico a grandes empresas para captar recursos. "A ideia é fazer uma ponte com a universidade e com quem está fora dela; a sociedade, as empresas e o governo. É um jogo em que todo mundo ganha; tanto as empresas, com acesso a pessoas com alto nível de qualificação e equipamentos, e a universidade, que necessita ter outras fontes de financiamento. Fazemos com que o conhecimento gere inovação", explanou o coordenador Ricardo Souza.
Mais do que nunca, o Instituto Ipê vem se fazendo necessário na universidade, já que, assim como as outras instituições de ensino superior do país, sofrerá mais cortes no orçamento enviado pelo governo federal. Segundo informações da Pró-Reitoria de Planejamento, o orçamento de 2021 da UFRPE sofreu redução de 21% em relação ao do ano anterior, e, em 2022, é previsto 15% de corte em relação ao de 2021, e de 35% quando comparado ao de 2019.
"Este valor usamos para custear energia, água, bolsas, terceirizados, obras, reformas e equipamentos. Neste ano, temos 0 reais de investimento. Priorizamos não cortar bolsas de estudantes, e ainda demos auxílio para que eles comprassem computadores na pandemia. Estou brigando para recuperar o orçamento do ano que vem, e já consegui R$ 2.5 milhões. Com o Ipê, buscamos resolver o problema de um empresário prestando serviço para que, com o recurso dele, possamos melhorar a UFRPE", disse Marcelo Carneiro. Tudo isso com o objetivo de permanecer como uma das mais renomadas universidades públicas do Brasil, e fortalecer o respeito ao conhecimento no país.